o direito de sonhar
de Eduardo Galeano
tradução livre de patricia mc quade
tradução livre de patricia mc quade
Ninguém sabe como será o mundo depois do ano 2000. Temos uma única certeza: se ainda estivermos aqui, já seremos pessoas do século passado y, pior ainda, seremos pessoas do milênio passado.
Entretanto, mesmo que não possamos adivinhar o mundo que será, podemos sim imaginar o que queremos que seja. O direito de sonhar não está estampado nos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram em 1948. Mas se não fosse por ele, e pelas águas que dá de beber, os outros direitos morreriam de sede.
Deliremos, pois, por um momento. O mundo, que está de pernas para o ar, se firmará sobre seus pés.
• Nas ruas, os automóveis serão pisados por cachorros.
• Os cozinheiros não acreditarão que as lagostas adoram ser fervidas vivas.
• A polícia não será a maldição de quem não pode comprá-la.
• O ar estará limpo dos venenos das máquinas, e não haverá mais poluição do que aquela que emana dos medos humanos e das humanas paixões.
• Os historiadores não acreditarão que os países adoram ser invadidos. Os políticos não acreditarão que os pobres adoram comer promessas.
• A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viverem separadas, voltarão a se juntar, bem coladinhas, costa com costa.
• As pessoas não serão dirigidas pelo automóvel, nem serão programadas pelo computador, nem serão compradas pelo supermercado, nem serão assistidas pelo televisor.
• O mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza, e a indústria militar não terá mais remédio do que declarar para sempre sua falência.
• Uma mulher, negra, será presidente do Brasil e outra mulher, negra, será presidente dos Estados Unidos da América.
Uma mulher índia governará Guatemala e outra, Peru.
• O televisor deixará de ser o membro mais importante da família, e será tratado como o ferro de passar ou a máquina de lavar roupas.
• Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão.
• Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória.
• As pessoas trabalharão para viver, em lugar de viverem para trabalhar.
• Os meninos de rua não serão tratados como se fosse lixo, porque não haverá meninos de rua.
• A Santa Madre Igreja corrigirá algumas erratas das tábuas de Moisés:
O sexto mandamento ordenará: “Festejarás o corpo”.
O nono, que desconfia do desejo, irá declará-lo sagrado.
• Em nenhum país irão presos os rapazes que se neguem a fazer o serviço militar, senão aqueles que queiram fazê-lo.
• As crianças ricas não serão tratadas como se fosse dinheiro, porque não haverá crianças ricas.
• A igreja também ditará um décimo primeiro mandamento, que se esqueceu o Senhor: “Amarás a natureza, da qual fazes parte”.
• Os economistas não chamarão nível de vida ao nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas.
• A educação não será um privilégio de quem possa por ela pagar.
• Todos os penitentes serão celebrantes, e não haverá noite que não seja vivida como se fosse a última, nem dia que não seja vivido como se fosse o primeiro.
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texto traduzido do site: pro diversitas
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já dez anos quase concluidos de século XXI se passaram e continuo inclinada ao meu direito legítimo de sonhar. sonho com a segunda década deste ainda novo século cheia de transformações na mentalidade das pessoas e na realidade de vida vivida, morta e ressuscitada com mais justiça e liberdade para todos.
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texto traduzido do site: pro diversitas
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já dez anos quase concluidos de século XXI se passaram e continuo inclinada ao meu direito legítimo de sonhar. sonho com a segunda década deste ainda novo século cheia de transformações na mentalidade das pessoas e na realidade de vida vivida, morta e ressuscitada com mais justiça e liberdade para todos.
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