Novo Ano Le(c)tivo
O novo ano lectivo está aí e com ele os novos manuais escolares redigidos com o também novo acordo ortográfico (nunca antes eu havia redigido uma frase com a palavra “novo” repetida três vezes, mas soube-me bem).
Ninguém me tira da cabeça de que a exigência governamental de manuais escolares escritos conforme o novo acordo ortográfico se trata de uma medida puramente economicista, apenas para poupar papel e tinta, pois suprimindo-se um acento gráfico aqui, uma consoante muda ali, um hífen acolá… tudo somado já dá muita coisa! Mas será que esta poupança de papel e de tinta se vai traduzir no preço final dos manuais escolares? Conhecendo eu como conheço as editoras nacionais, duvido muito…
A crise é de tal ordem que até as cerimónias de inauguração do ano lectivo por parte dos nossos governantes já não são o que eram. Se antes, Sócrates tinha por hábito inaugurar os anos lectivos com a distribuição de computadores Magalhães pelas escolas, recorrendo a falsos alunos que mais não eram do que figurantes contratados a agências de figuração e imagem, os quais eram pagos para mostrar entusiasmo enquanto abriam o novo “brinquedo” tecnológico, agora Passos Coelho contenta-se com um simples almoço de carne assada, servido numa humilde cantina escolar de uma escola do interior, no meio de professores e alunos a sério. E quando chegou a hora do arroto, será que Passos Coelho arrotou segundo as regras do novo acordo ortográfico, para, desta forma, mostrar a todos os alunos, o seu bom exemplo?
Os professores têm a partir de agora que usar, nas suas aulas, o novo acordo ortográfico. Já os alunos têm até 2014 para se adaptarem ao novo acordo, data a partir da qual passarão a ser penalizados pela sua não utilização. O leitor já imaginou a confusão que se vai passar na ca- beça de um aluno que, por exemplo, passou agora para o 7.º ano? Até agora, ao 6.º ano, foi ensinado à luz do acordo ortográfico de 1945 (ao qual o Brasil nem se dignou cumprir e estamos nós agora tão preocupados em cumprir o “novo” acordo… daaah) e a partir do 7.º ano vai passar a ser ensinado com o novo acordo ortográfico... Isto é pura e simplesmente esquizofrénico!
Pessoalmente acho uma aberração o novo acordo ortográfico, considerando que o mesmo só vai ao encontro daquelas pes- soas que passam a vida a assistir às novelas da Globo, pois aquilo a que vamos assistir inevitavelmente é ao “abrasileiramento” da escrita da língua portuguesa. E para isso não contem comigo! Não é assim que se fortalece internacionalmente uma língua como o português!
Bem… mas estamos hoje aqui para falar do início do ano lectivo 2011/2012 e esse está a arrancar com menos algumas dezenas de milhares de professores do que há um ano atrás, o que se vai traduzir numa colossal poupança aos cofres do Estado. Será isto apenas uma pequena amostra daquilo que aí vem? Não nos esqueçamos que em Fevereiro deste ano, antes mesmo de ser Ministro, um dos maiores desejos de Nuno Crato, era fazer desaparecer o Ministério da Educação.
E eis que a criatura chegou a Ministro da Educação com todo o poder que o cargo lhe confere! O que virá a seguir? A deportação em massa dos professores de Educação Visual e Tecnológica para a ilha do Corvo? A morte, através de enregelamento, de milhares de professores e alunos, devido à poupança que as escolas vão ter obrigatoriamente que fazer em electricidade e gás por causa do aumento do IVA? Cuidado com ele…
Uma novidade neste novo ano lectivo 2011/2012 vão ser os exames a Português e a Matemática no 6.º ano (nhã, nhã, nhã, acordo ortográfico! Vai-te lixar acordo ortográfico! Continuo a usar as maiúsculas para designar o nome das disciplinas e ponto final!), exames estes que Nuno Crato, em entrevista ao ‘Expresso’, admite alargar ao 4.º ano.
Pois é, assistimos a um regresso às matérias básicas e a um relegar para segundo e terceiros planos das áreas mais criativas, política esta tão típica de governos neo-liberais e ao mesmo tempo neo-conservadores. Liberais em matéria de economia e finanças, mas conservadores em matéria de costumes e educação. Mas admito que com tantos exames, a economia portuguesa possa finalmente crescer, a começar pela “indústria” das explicações…
Não quero terminar esta crónica sem antes deixar um conselho a todos os alunos e seus pais: não gastem dinheiro à parva com material escolar com caras de cantores norte-americanos amaricados. Sejam poupadinhos e comprem marcas baratinhas, pois o efeito é o mesmo e eu sei do que falo, pois também sou pai. Desejo, pois, a todos os meus leitores-alunos, leitores-professores e leitores-pais um bom ano lectivo 2011/2012! Ah, é verdade… e estudem!
1 comentário:
Sim, imagino o que o NAO vai provocar nos cérebros dos alunos de um sétimo ano, por exemplo. Acredito que este NAO vai contribuir com uma bela fatia para o bolo da desgraça que vai sendo a disciplina de Língua Portuguesa... mas eu não sou professora, claro... esses é que vão passar alguns maus momentos, sobretudo com os alunos mais inteligentes. Baseio-me nos "retroactivos" minha experiência pessoal e na das minhas filhas...
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