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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Dia de São Miguel

Hoje é dia de São Miguel, segundo a tradição, este dia marca o fim do varêjo dos frutos secos: amêndoas, alfarrobas e figos. Daqui em diante é a época do rabisco, considera-se que os frutos que ainda estão nas árvores já não serão colhidos pelos seus proprietários e qualquer pessoa os pode apanhar.











Farsa.

Em véspera das Manifestações que decorrerão amanhã em Lisboa e Porto e que prometem vir a ser gigantescas e bastante "ruidosas", e numa altura em que a contestação social começa a causar, mais que embaraço, um verdadeiro incómodo para a imagem de subserviência que este governo PSD/CDS gosta de passar para os seu "patrões" Europeus, eis que Passos Coelho e restante elenco nos servem mais uma ridícula farsa para consumo interno.
Falo, obviamente, da prisão de Isaltino Morais. Uma situação que, num país com níveis democráticos normais, já teria acontecido há muitos anos atrás, mas que ficou guardada para agora, uma altura em que é necessário criar "frisson" junto da população e tentar jogar areia para os olhos dos mais incautos.
A táctica já não é nova, diria mesmo que é até mais velha que o ferrugento 4-1-3-2 do "Jasus", mas eles continuam a usá-la porque ela continua a "marcar golos".
Hoje, na barbearia do Sr. Zé, na paragem do autocarro, no banco do jardim, e na conversa entre colegas de trabalho, não vão faltar aqueles que ora colocam José Sócrates no Governo, ora colocam Passos Coelho, a baterem palmas ao "pulso firme" do Governo que até manda prender um dos deles.

E com isto, tenta este Governo ganhar mais um balão de oxigénio que lhe permitirá continuar na sua senda de patifarias contra o Povo Português e os seus mais básicos direitos e garantias.
Prenderam Isaltino, sim !
Mas ainda na semana passada ilibaram Oliveira e Costa que nos deixou um buraco superior ao da Madeira.
Mas nesse não se toca, claro ! que esse paga campanhas eleitorais ao Presidente da Républica e como tal precisa de protecção.

É hora deste Povo acordar de vez para a realidade, deixar de se comportar como um verdadeiro corno-manso, e dar um novo rumo a este país.
Não se deixem enganar por farsas destas que tentam gerar junto do Povo algum sentimento de justiça, porque isto é completamente falso, isto visa, isso sim, perpetuar a injustiça.

Safem o Isaltino


O dia despertou incrédulo, numa algazarra desabrida. Ainda não se sabe se Isaltino Morais foi finalmente preso ou se é apenas o Estado de direito a espernear, farto de ver a lentidão ao serviço da injustiça e cansado do primado da forma sobre a substância. O país está em suspenso, o salvamento poderá acontecer a qualquer momento. Alguns esperam que o nome do branqueador de Oeiras seja incluído na convocatória de Paulo Bento, outros que seja Cavaco Silva a indicá-lo como o membro honorário do Conselho de Estado que substituirá o filantropo caído em desgraçada fortuna Dias Loureiro, mas outros ha menos centrados no salvamento que se limitam a empolar o caso para ofuscar as bardinices jardinárias do favorito de Passos Coelho para vencer as eleições na Madeira. Enquanto ninguém se decide a avançar para o salvamento do pobre homem, vou ali tomar um cafezito, já venho. Não saiam daí.

Actualização 1: 30.09.2011 - 12:45 – "Isaltino prestes a ser libertado".

Actualização 2: Pois, não podia ser (é já a seguir).

(editado)

blog O país do burro

Perguntas de um leigo na matéria


Imagem (excelente, diga-se) surripiada à "Lusa"
- Quando é que um recurso, passa a ser um mero estratagema?
- Quando é que a legítima presunção de inocência, passa a ser um abuso de confiança?
- Quando é que um advogado inteligente, passa a ser um simples espertalhaço?
- Quando é que os portugueses vão descobrir que roubar, fazendo obra, é tão criminoso como roubar, não fazendo obra?
- Porque é que há uma Justiça rápida e implacável para “uns”... e outra que se perde em intermináveis danças de salão e maneirismos, para “outros”?
- Porque é que os “uns” são sempre pobres e sem poder... e os “outros” são ricos e influentes?
- Porque é que para os “uns” as leis são para cumprir... enquanto para os “outros” as leis são para comprar?

São algumas das perguntas que me faço, sempre que tenho que “levar” com mais uma notícia sobre Isaltino de Morais.

Quanto mais pequena é a corte, mais ridículo é o protocolo *


Jerónimo de Sousa, que entre vários e terríveis defeitos é também muito desconfiado, diz suspeitar que a próxima reunião do Conselho de Estado não vá servir para nada mais do que carimbar a política do governo e da troika com o costumeiro “aprovado - execute-se”. Vá lá saber-se porquê... partilho a mesma desconfiança.
De vez em quando sou forçado a lembrar-me da existência deste órgão. Sem querer de todo ofender as pessoas (potencial ou realmente) decentes que ali se reúnem... devo dizer que um Conselho em que, ainda há bem pouco tempo, tinha assento o Sr. Dias Loureiro (mesmo depois de descobertas as suas maroscas) e onde ainda tem assento aquele inqualificável indivíduo que dá pelo nome de Alberto João Jardim (e mais alguns que agora não vêm ao caso)... não me interessa para nada.
Que as almas mais delicadas me desculpem o mau uso do “francês”... mas não dou dez cêntimos por aquela belle merde!
* Lamento não poder divulgar o nome do autor da frase... mas a verdade é que não sei.

Uma questão de estilo


O Presidente da República reconheceu hoje que a omissão de dívidas públicas na Madeira configura uma situação grave, mas sublinhou que o programa de ajustamento não pode ser preparado "de um momento para o outro". O chefe de Estado recusou ainda fazer qualquer comentário às reacções do presidente do Governo Regional da Madeira, apesar de admitir que tem um estilo diferente de Alberto João Jardim. "Cada dirigente político tem a sua forma específica de fazer política":

Governo recua e só apresenta amanhã a auditoria às contas da região. Oposição acusa Passos Coelho de não "honrar” a palavra. "Falei demais". Foi esta a frase de Passos Coelho que acabou por marcar o debate quinzenal de ontem no Parlamento, onde o primeiro-ministro deu o dito pelo não dito e revelou que só depois das eleições regionais de 9 de Outubro será conhecido o plano de ajustamento para a Madeira.


Sei que todos são do mesmo partido, que às vezes se zangam e depois fazem as pazes, que quando chateiam o Bicho da Madeira ele ameaça abrir a boca e todos se encolhem, mesmo considerando tudo isto é uma vergonha que não utilizem os mesmos critérios que utilizaram nas eleições legislativas. A Troika analisou as contas de um país e apresentou o plano de resgate em menos tempo que este governo consegue fazer uma auditoria na Madeira. No continente passam o tempo a tirar-nos à cara que as medidas de austeridade da Troika foram aceites pelos portugueses quando votaram e deram uma maioria ao PSD/CDS, mas na Madeira pedem aos eleitores que votem num futuro desconhecido. Se eu fosse madeirense queria que o Bicho ganhasse, pois assim podia não sofrer tanta austeridade por ele não cumprir com plano nenhum e por ainda obrigar os "Cubanos do "contenente" a pagar o buraco que fez na Madeira.
Se já pagámos um BPN porque não haveremos de pagar outro chamado Buraco da Madeira?

A institucionalização da velhacaria

Quando um ministro vai à Universidade de Verão do PSD e incita os seus jovens camaradas a estudar porque assim ganharão bom dinheiro e semanas depois suspende a atribuição de prémios quando os premiados já tinham sido convocados não está a adoptar uma decisão política, está a ser velhaco. E está a ser ainda mais velhaco quando tenta limpar a sua face convidando os alunos escolheram acções de caridade onde deverão ser os usados os prémios que deveriam ser. Será que quando os seus filhos têm um bom desempenho estudantil o ministro premeia-os com um mês de Agosto como voluntários no Banco Alimentar contra a Fome?

O ministro pode odiar José Sócrates mas não precisa de levar esse ódio a tudo o que foi feito na educação ao ponto de defraudar expectativas legítimas de milhares de estudantes, manifestando total desprezo pela lei que não lhe permite exercer cargos públicos como se o Estado fosse uma coisa de trazer por casa. Muitos estudantes esforçaram-se tendo por objectivo conseguir os prémios, muitos pais e professores incentivaram-nos, alguns colegas sentiram-se mais motivados e alguns dos colegas calões terão mesmo gozado com eles. Agora, só porque o ministro quer ser coerente com o blogger que foi e não tem sentido de Estado junta-se aos calões e goza com eles. Ignora que muitos deles são estudantes com menos recursos e que iam usar o prémio em material escolar, comprar o PC que os pais não lhe podem comprar ou mesmo comprar a peça de roupa que nunca puderam ter, agora são gozados ao lhes perguntarem quem querem ajudar com seu prémio. É uma pena que a miséria cultural não possa ser considerada, se assim fosse poderiam sugerir que o prémio fosse dado ao ministro, com o seu comportamento revelou-se mais miserável do que qualquer família carenciada deste país.

Este ministro parece ter raiva do que de bom se fez no ensino, chegou a ministro irritado com os relatórios da OCDE elogiando os resultados, cheio de raiva porque muitas escolas foram modernizadas, irado porque as novas tecnologias foram incentivadas. Ignorando que o mais importante é o país e o futuro de gerações de estuantes odeia udo o que foi feito, de forma oportunista dá continuidade a uma boa parte das reformas (avaliação de professores, enceramento de escolas sem qualidade) e revela a sua falta de dimensão humana barafustando com pequenas coisas. Arma-se em defensor da avaliação mas tira os prémios aos que mais se esforçaram para terem avaliações excelentes, detesta tudo o que cheira a tecnologia, odeia os computadores, é um ruralista que aprece tirado de um velho convento no meio da serra para meter o ensino na ordem, o seu ódio a Sócrates leva-o a odiar tudo o que cheire a progresso, ignorando que esse é a maior homenagem que pode prestar a quem tanto odeia.

O ódio de Crato em relação a tudo o que se fez no ensino e que não só foi elogiado por muita gente como significou uma das maiores reformas deste Veiga Simão leva a que este ministro em vez de ter uma política que prove que é melhor do que os seus antecessores opte pela exibição da sua pequenez humana institucionalizando a velhacaria.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

rimas do absurdo - poema de António Garrochinho 2001

ele, comia, comia, comia
era assim que vivia
de noitadas e de farra
canção aqui
fado ali
e de nada mais se importava
era patrão
era cão
feroz, dos mais predadores
e a vida assim gozava
á custa dos trabalhadores
rouba aqui
despede ali
ferindo com a sua garra
casou com uma rapariga
que lhe cantou uma cantiga
com a beleza da cigarra
e da música que engoliu
dos acordes da guitarra
foi prá puta que o pariu
no meio de grande algazarra
eram choros e discursos
balir de cabras
rosnar de ursos
até deu na televisão
era o senhor comendador
que em vida foi um senhor
e o é ainda no caixão
ruim cepa
muita parra
já morreu o cab...

do que é que o senhor morreu ?
foi das coisas que comeu !

que é feito da viúva ?
desa(pereceu) no meio da chuva !

António Garrochinho

se o for - poema ilustrado de António Garrochinho


PASSATEMPO "LEMBRANDO O ALENTEJO", no Facebook


ALENTEJO



Alentejo das gentes castigadas,

Dos sobreiros reinando nas planuras

E das vozes dolentes, bem timbradas,

Que falam de alegrias, de amarguras…



Alentejo das searas espraiadas

Pl`o trigo inacabável das lonjuras,

Das casas pequeninas, bem caiadas,

Onde, à lareira, o povo queima agruras



Onde a gente se senta nos poiais

E esse pouco parece muito mais

Que o melhor que o mundo possa dar;



Vontade unida em vozes tão plurais

Faz-nos saber que não será demais

O que homens e mulheres não vão calar









Maria João Brito de Sousa – 04.09.2011
blog pekenasutopias

O REGRESSO - POEMA DE ANTÓNIO GARROCHINHO

A pintora Júlia Calçada

Pintura a óleo monocromática,a exploração de tons e as sombras fazem lembrar fotografias a preto e branco. Corpos de mulher e bailarinas são os temas escolhidos. Veja algumas pinturas em baixo e desfrute da beleza.








TU - poema de António Garrochinho

O AMOR E A LOUCURA


Contam que uma vez todos os sentimentos e qualidades dos homens se reuniram em um lugar da terra. Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, lhes propôs:

- Vamos brincar de esconde-esconde?
A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE, sem poder conter-se, perguntou:
- Esconde-esconde? Como é isso?
- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem. Quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupara meu lugar para continuar o jogo, da próxima vez que a gente jogar.
O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA.
A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou por convencer a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos quiseram participar:
A VERDADE preferiu não esconder-se. Para quê, se no final todos a encontravam? A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto (no fundo, o que a incomodava era que a idéia não tivesse sido dela) e a COVARDIA preferiu não arriscar-se.

- Um, dois, três, quatro - Começou a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que, como sempre, caiu atrás da primeira pedra do caminho. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.
A GENEROSIDADE quase não conseguia esconder-se pois, cada local que encontrava, lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos:
Se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA; se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ; se era o vão de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA. Se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim acabou escondendo-se em um raio de sol.
O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cômodo, mas apenas para ele.
A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris) e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões. O ESQUECIMENTO, não recordo-me onde se escondeu, mas isso não é o mais importante.
Quando a LOUCURA estava lá pelo 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores.
- Um milhão!!!!!! Contou a LOUCURA e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA apenas há três passos, atrás de uma pedra. Depois, escutou a FÉ conversando com Deus, no céu, Sentiu vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões.
Em um descuido, encontrou a INVEJA e claro, pode deduzir onde estava o TRIUNFO. O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo. Ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto caminhar, sentiu sede e ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA. A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado se esconderia. E assim foi encontrando a todos.
O TALENTO entre a erva fresca, a ANGÚSTIA em uma cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO, a quem já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde. Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local.
A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito.
Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos. A LOUCURA não sabia o que fazer para se desculpar. Chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia. O AMOR, então, concordou com o oferecimento da LOUCURA e, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na terra, O AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.
"Quem não ama demais, não ama o bastante"
4,6 milhões de portugueses vivem em risco de pobreza
 São de leitura obrigatória os estudos de Eugénio Rosa sobre a realidade económica e social de Portugal:
«A pretexto da crise, estão a ser estrangulados financeiramente, para não dizer mesmo destruídos, serviços públicos essenciais à população. No seu ataque às funções sociais do Estado, o governo tem reduzido também drasticamente as condições de vida dos trabalhadores da Função Pública.
Segundo o INE, a taxa de risco de pobreza é de 17,9% em Portugal. Isto significa que 1,9 milhões de portugueses já vivem na pobreza. Mas para além daqueles 1,9 milhões de portugueses que já vivem na pobreza ainda existem mais 2,7 milhões de portugueses que só não estão na mesma situação de pobreza porque recebem "transferências sociais" do Estado (em espécie e em dinheiro). E são precisamente estas transferências sociais que o governo está a eliminar ou a reduzir significativamente lançando muitos milhares de portugueses numa situação de pobreza.»
blog O castendo

fala amor - poema ilustrado de António Garrochinho

Duas creches com mais de 200 novos lugares no Algarve
28-09-2011 1

O secretário de Estado da Solidariedade e Segurança Social inaugura hoje no Algarve duas creches, em Vila Real de Santo António e Faro, que representam em conjunto mais de 200 novos lugares para crianças até aos três anos.  
 
Marco António Costa inaugura às 11:00 a creche de Santo António, na localidade das Hortas, em Vila Real de Santo António, e às 15:00 a creche Malta pequena, em Vale Carneiros, Faro.
Segundo a Câmara de Vila Real de Santo António, o equipamento, que abriu no início deste ano letivo, dispõe de 155 lugares, 68 dos quais estão já ocupados.
Com cinco berçários e dez salas de atividades, a creche integra-se no edifício da Escola Básica e Jardim-de-Infância de Santo António, centro escolar que custou cerca de 2,7 milhões de euros.
Já em Faro, o novo equipamento que hoje é inaugurado em Vale Carneiros representa a abertura de mais 48 vagas em creche no concelho e a criação de 13 novos postos de trabalho, refere a autarquia.
O investimento global é de 370 mil euros, financiados pelo Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES) e pela autarquia, que disponibilizou o terreno e 35 por cento do valor elegível.
OBSERVATÓRIO DO ALGARVE

Desejo - Victor Hugo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar

O Jardim é como uma Madeira sem Flores


EMBORA continue a pavonear-se, de inauguração em inauguração, com o taxímetro da dívida sempre em contagem crescente, o régulo Alberto João Jardim, já não diz coisa com coisa. Num dia diz que não há nenhum buraco nas contas, para no dia seguinte dizer que escondeu esse buraco em legítima defesa. Num dia diz que o buraco é qualquer de coisa como 5 mil milhões euros, para logo a seguir dizer que é uma coisita pequena, uma coisita de nada. Num dia pede que o Estado português dê a independência à Madeira, para no dia seguinte dizer que é contra a independência da Madeira e que as suas palavras foram um desabafo contra os interesses financeiros e económicos do cont'nente. Logo a seguir veio agradecer a decisão da Procuradoria-Geral da República de abrir um inquérito-crime ao caso de ocultação da dívida pública da região, nada temendo e que até é um favor que lhe fazem. E todas estas contradições desenrolaram-se no curto espaço de uma semana, entre entrevistas, comícios, sandochas e copos de três.
E no meio desta bandalheira, lá vem o régulo multi-usos, todo lampeiro, depois de ter despachado mais uma inauguração, desta vez as patéticas obras de alargamento de uma rua, sempre rodeado pela moldura de tropa indígena, ataviada de fatinhos domingueiros e com perucas cheias de laca, cuja função é debitarem risos aparvalhados de aprovação pelas graçolas badalhocas do homenzinho que tanto faz de rei como de bobo, que logo remata que é preciso dar pancada em quem ofende o povo madeirense, comprometendo-se a continuar a lutar contra o Estado central até a região conseguir os seus direitos. Por cá, o governo garante que na próxima sexta-feira irão ser divulgados todos os pormenores do cambalacho madeirense, muito embora fique para mais tarde a decisão, assaz importante, de quem vai assumir os custos daquela jardinada, que por omissão só beneficia o infractor nas eleições legislativas regionais.
É por estas e por outras que acho que o presidente do Governo Regional da Madeira se está a tornar uma aberração botânica, uma espécie de Jardim sem flores. E a Madeira que se cuide, pois corre o risco de ficar sem norte, sem siso, sem dinheiro e com um tresloucado à solta…

António José Seguro – Temos que ser fortes...




Uma das piores “qualidades” de António José Seguro, e aquela que no curto e médio prazo piores serviços prestará à causa do debate político de ideias, já que um partido socialista, como é o caso do Partido Socialista de Seguro, estando (em teoria) na oposição, deveria ser uma parte importante nesse debate... mas, como dizia, uma das piores “qualidades” de Seguro é fazer com que, por comparação em cada confronto direto, Pedro Passos Coelho pareça infinitamente mais do que é. Pela forma como, injustamente, Passos adquire “estatura”. Pela maneira implacável e fácil com que Passos o esmaga... ainda por cima com uma ensaiada delicadeza e um postiço sorriso nos lábios, que muita gente, infelizmente, confunde com real delicadeza e sincero sorriso.
Poucas coisas há mais risíveis do que o ar emproado com que Seguro, para os jornalistas, e depois de ser copiosamente tosado, insiste nos seus já incontáveis ultimatos ao governo e exigências ao primeiro-ministro, ou a maneira pomposa e ridícula como atribui a si próprio o inexistente título de «líder da oposição».
Como já deixei escrito no “Cravo de Abril”, num comentário a um texto em que o retrato de Seguro foi, mais uma vez, muito bem feito, a postura e a “liderança” de seguro são de tal maneira deprimentes, atolambadas e patéticas que, num momento de fraqueza, poderíamos ser levados a ter pena da sua triste figura.
Sejamos pois fortes... e não caiamos na tentação!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011


A ARROGÂNCIA DOS DITADORES FALIDOS

Só há acordo para regularizar finanças se Madeira aceitar, diz Jardim

27.09.2011 - Por Lusa

O cabeça de lista do PSD às eleições legislativas regionais avisou hoje que o acordo para regular as finanças da Madeira não avança sem a anuência da região, exigindo iguais condições para o tratamento da dívida.

“Vamos endireitar, regular, agora as finanças da Madeira, mas não pensem que Lisboa pode impor à Madeira uma solução sem haver acordo nosso”, afirmou Alberto João Jardim, lembrando que “a regularização das finanças implica a aceitação da Assembleia Legislativa da Madeira”.

Num comício na freguesia do Caniço, concelho de Santa Cruz, o candidato social-democrata alertou: “É isso que está na Constituição e se vierem com manobras para explorar o povo madeirense, a maioria PSD não assina nada com Lisboa”.

O responsável, líder do Executivo madeirense desde 1978, tornou a explicar a situação financeira da região: “O buraco é muito simples, roubaram-nos o dinheiro, eu não parei, foi preciso acertar tudo com empreiteiros e credores, e só se podia dar os números quando estava tudo acertado”.

Depois de reiterar que “não há nada a esconder”, Jardim afirmou que teve “a honestidade de pedir a intervenção da República antes das eleições”, acrescentando: “Não é como os Açores, que deixou [sic] para Novembro”.

O responsável adiantou que o “acerto de contas” será feito “com o Governo da República” e não com a troika.

“Eu nunca assinei nada com a troika. Não assino nada com a troika. Não vou estar aqui para aturar políticas que só pensam no défice”, declarou Alberto João Jardim, notando que os madeirenses, “como os outros portugueses”, vão “fazer sacrifícios por igual”, logo “o tratamento da dívida vai ser também igual para todos”.

“Também somos portugueses e, portanto, se o Estado português vai pagar a dívida a 30 anos, eu exijo que também a dívida da Madeira seja paga a 30 anos; se o Estado português vai pagar a dívida com os juros baixos que foram criados pelo Banco Central Europeu, então são esses mesmos juros baixos que se aplicam à Região Autónoma da Madeira”, considerou.

A este propósito, o candidato acrescentou: “Apareceu há dias aí uma fascista do CDS, que é vice-presidente da Assembleia da República, que disse que íamos pagar a nossa e a dívida deles. Para essa senhora eu faço aquele gesto do Bordalo Pinheiro”.

Às centenas de pessoas presentes no comício, o cabeça de lista do PSD apelou para uma nova maioria absoluta: “Precisamos da maioria absoluta porque temos negociações difíceis a fazer com Lisboa”, sublinhou, referindo estar em jogo “o emprego de muita gente” ou o “dinheiro para continuar a manter a Madeira a funcionar”.

Por fim, lembrou: “Demonstrei-vos sempre que sabia negociar com Lisboa. Melhor ainda que agora é o meu partido, o nosso partido, que está no Governo em Lisboa. Dêem-me força, que eu vou negociar e não quero saber da troika para nada”.

como se - poema ilustrado de António Garrochinho


vencer - poema ilustrado de António Garrochinho

sons do luar - poesia ilustrada de António Garrochinho

CHEGAR TARDE DEMAIS À ÍTACA DO COSTUME



Por Ítaca me fui desencontrando
Da sagrada missão da Poesia...
Se acaso a encontrei, nem nela havia
Tradução pr`á linguagem do meu pranto

Mal Ítaca pisei, fui encalhando
Naquele praia urgente e já vazia
Que quanto mais negada, mais crescia
Enredando-me toda no seu manto

Se algum farol em Ítaca se erguia,
Se, à porta, me pediram senha ou santo
Pr`á singular passagem que antevia

Não o posso afirmar. E, no entanto,
Em Ítaca, chorando, eu redimia
Cada poema à luz do desencanto




Maria João Brito de Sousa
blog poetaporkedeusker

Álvaro Santos Pereira - É apenas mais um...




Já que estava a falar do ministro da economia e não sei mais de quê, verifico que é inesgotável a vocação dos governantes para nos impingirem esta patranha... talvez porque é também inesgotável a disposição do povo para a engolir. Explico:
Contrata-se um qualquer grupo de aldrabões que se deixem corromper para dizerem que fizeram um “estudo”... e que segundo os resultados desse “científico estudo”, alguma coisa (pão, transportes, electricidade, etc.) vai ter o seu preço aumentado em, digamos, trinta por cento

Espera-se uns dias para deixar a coisa indignar os mais combativos e amedrontar a maioria... e zás!, lá vem um qualquer palhaço de serviço, neste caso, o próprio ministro, fazer o já estafado número do “Nem pensar!”... “Podem ficar sossegados!”... «O aumento vai ser muito menor que trinta por cento!»
E, para desespero da inteligência insultada de alguns, ainda vai havendo quem aplauda este miserável espectáculo.

ILHA DO PESSEGUEIRO



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Ilha do Pessegueiro

Vista da ilha, a terra parece mais próxima do que parece a ilha vista de terra. Isto faz pensar que uma ilha nunca quer ser ilha. A terra afasta-a. Ignora-a, como um amante negligente. Ou que teme a amada, ou ainda que a envolve de brumas e mitos, cobardemente, para amar nela os seus próprios sonhos. Vaidosas, as ilhas caem na armadilha. Dão-se ares. Prometem sempre mais do que têm para dar.
Na Ilha do Pessegueiro nunca houve pessegueiro nenhum. Nem o solo de areia endurecida o permitiria. O que diz a canção de Rui Veloso e Carlos Tê - “Havia um pessegueiro na ilha plantado por um vizir de Odemira, que dizem que por amor se matou novo… - não passa de uma lenda, mas ressuscitou a Ilha. Durante décadas, ou séculos, ninguém se lembrou dela. De repente, há 25 anos, com a canção Porto Côvo, foi como se tivesse emergido do mar. Porto Côvo tornou-se um estilo de vida, e a ilha 300 metros em frente uma espécie de símbolo de aventura e libertação.
Com mochilas e tendas, milhares de pessoas, na sua maioria vindas do Norte do país, começaram a descer a estas praias esquecidas. Músicos de rua e vendedores de artesanato vieram também, para garantir a especificidade do cenário. E a seguir a Porto Côvo foram as praias da Costa Vicentina. Vila Nova de Mil Fontes, Zambujeira do Mar, tudo levado na onda. Os festivais de Verão, do Sudoeste, depois o de Músicas do Mundo, em Sines. A onda de uma canção.
A Ilha do Pessegueiro tem ciclos de sono e vigília muito longos. Há vestígios de ocupação humana anteriores ao segundo século antes de Cristo, provavelmente por parte de navegadores de Cartago. Mas tornou-se importante, há provas concludentes disso, no período da ocupação romana, por alturas do Alto Império. Os comerciantes de Roma construíram aqui uma fábrica de salgar peixe, cujas ruínas estão bem visíveis.
“O peixe que pescavam, do Cabo de São Vicente para Norte, atum e sardinhas, precisava de ser salgado, usando o sal de Alcáçer do Sal. E construiram a fábrica aqui”, explica Joaquim Matias, o “dono” da Ilha do Pessegueiro. “Estas ruínas ficaram a descoberto após uma tempestade que houve aqui, em 1979. O peixe era colocado nestas placas de argamassa impermeável… esta zona é construída com pedra da ilha, que é areia consolidada, e esta de pedra impermeável, que traziam de terra… a cobertura era feita em telha de meia-cana, assim redonda porque era moldada por mulheres, que colocavam o barro sobre a coxa… Chiu! Caladas!” Por uns segundos, as gaivotas parecem obedecer ao amo, interrompendo o seu grito anelante e esganiçado. “Estes são os bancos onde se sentavam… havia canais à volta da sala, tudo barrado com argila virgem… uma lareira, um forno de cozer pão… sauna, depois o frigidarium… Por este buraco a água infiltrava-se na areia, porque a fábrica tinha de ser limpa todos os dias…”
Quando as gaivotas voltam a fazer muito barulho, como se estivessem a protestar, Joaquim repreende-as, com um ar zangado. “Chiu! Já disse! Estou a trabalhar!” E passa à atracção turística seguinte, o forte, seguido pelo pequeno grupo de portugueses e estrangeiros que trouxe no barco. “Durante onze séculos não houve quaisquer trabalhos nesta ilha. Até que no século XVI, durante o domínio filipino…”
Joaquim Matias, 62 anos, foi pescador em Porto Côvo desde os 12 anos de idade. Andou no barco do padrasto, o Esperança, desde 1960. Depois foi para a pesca do bacalhau, durante 12 anos. Embarcar para a Noruega num dos navios portugueses do bacalhau era uma alternativa ao serviço militar em África, que muitos pescadores aproveitavam. Regressou em 1974. A pesca foi entrando em decadência. Das dezenas de barcos que operavam, sobraram dois ou três. Foram tempos difíceis para Joaquim. Trabalhou nas obras do porto de Sines, juntou dinheiro para comprar um barco com que levava pescadores desportivos até à zona da ilha, que nos anos 90, graças à canção de Rui Veloso, se tornara num destino muito popular para pescadores, campistas selvagens e “hippies” nostálgicos da vida natural.
Sem qualquer actividade há mais de duzentos anos, a ilha não tinha quem tomasse conta dela. Ficou à mercê dos amantes da liberdade, transformou-se numa lixeira. E foi então que Joaquim teve a sua ideia. Escreveu um parecer, fez uma proposta às autoridades: ficaria com a concessão da ilha, em exclusivo. Comprometia-se a limpar o território, remover as aves mortas, manter os acessos, guardar e preservar as ruínas dos monumentos e impedir que pescadores, campistas ou qualquer pessoa não autorizada se aproximasse.
A direcção do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e a Capitania concordaram, e, em 1999, Joaquim ficou com a concessão. Mas só no ano passado com a exclusividade. Agora, é ele o único a ter acesso à ilha. Mal se chega, lê-se no pequeno embarcadouro flutuante: “Cais privado. Acesso exclusivo ao barco Novo Horizonte”.
Uma vida nova começou para o pescador. Comprou um barco, o Belo Horizonte, com capacidade para 12 passageiros, e pôs-se a estudar a geografia, geologia, biologia e História da Ilha do Pessegueiro. Ele, que só tem a 4ª classe, criou um programa de visitas guiadas, que realiza de 15 de Junho a 15 de Setembro. De Outubro a Maio, transporta grupos de pescadores desportivos.
Paga mil euros por ano pelo privilégio de ser o “dono” da ilha. Diariamente, percorre os 350 metros por 240 do pequeno território deserto, apanhando lixo e aves mortas. Certifica-se de que as plantas não foram danificadas, nenhum dos monumentos vandalizado. Em troca, cobra 10 euros a cada visitante que leva à ilha. Faz quatro viagens por dia.
Quando consegue lá chegar. Porque se o mar está alteroso, a viagem é demasiado perigosa, ou demasiado assustadora, pelo menos. Foi o que aconteceu durante a primeira metade deste Verão. Agora é preciso compensar.
Há uma certa emoção nos rostos dos turistas quando põem os pés na ilha deserta. Joaquim faz render o momento. Mostra-lhes um objecto esbranquiçado, com vários metros de comprimento, que parece um tronco. “Isto é o que resta do pessegueiro”, brinca ele. Na verdade, trata-se de meia maxila de um cachalote que uma tempestade em 2002 estraçalhou por toda a costa. Joaquim encontrou o osso na praia de Porto Côvo e achou logo que seria um bom adereço para a sua performance. Trouxe-o e é agora com ele que inicia a narrativa, para explicar que o nome Pessegueiro derivou de Piscis Secarum, ou Piscatorium. Avança pela ilha falando do forte, dos piratas e do porto artificial de Alexandre Massai, acrescentando aos factos elementos de erudição e contexto histórico. “Chiu! Calem-se, gaivotas!”, impõe-se ele. “Está ou não está impecável a minha ilha?”, orgulha-se. Vai pegando em pedras, telhas, objectos que dispôs em locais estratégicos para exemplificar as actividades dos antigos. “A 16 de Fevereiro o mar chegou aqui e desarrumou-me a mobília toda”.
Agora está tudo limpo e arrumado na Ilha do Pessegueiro. As coisas estão nos seus lugares, o que parece dar espaço à Natureza para se manifestar sem constrangimentos.
A rocha áspera e branca, refulgindo como marfim, esventrada pelo mar que lhe explode nas concavidades, e a desfaz em areia, instável e cristalina. As plataformas duras e claras, cheias de crateras, como a Lua. As crias de garça, tufos de algodão ralo e trémulo depositados negligentemente nas reentrâncias da pedra, entre os arbustos. Chilreiam com os seus bicos vermelhos e aduncos como narizes de bêbado, a céu aberto, totalmente desprotegidas, cheias de confiança na sua ilha,  o seu mundo. “São fofas, mas feias”, diz uma das turistas. “Estão mortas”, diz outra. “Estão todas cagadas”, observa uma terceira. “Que nojo”, murmura a última rapariga a passar pelos ninhos.
E as plantas misteriosas, de folhas verdes cobertas de sal, que nascem e morrem no Verão, apenas do lado leste da ilha, mais horas exposto ao sol e ao calor. Os seus caules brotam da rocha e as folhas brilham com os cristais de sal de que talvez se nutram. Ninguém sabe. Os biólogos só agora começaram a estudar o estranho vegetal, e ainda não chegaram a conclusões. Ao que parece, a espécie não existe em mais nenhum lugar do mundo. Às primeiras chuvas, desaparece por completo, talvez porque, sob o efeito da água doce, o sal se lhe dissolva das pétalas, e assim não consiga viver. Ou porque encontre, nos reversos desconhecidos da ilha, outras formas de vida. É uma teoria. Os caules podem não nascer ali, mas serem um apêndice aventureiro de alguma alga que habite as profundezas do oceano e, atraída pelo sol, perfure a rocha porosa para ensaiar uma dupla personalidade na atmosfera da ilha deserta.
Conduzindo o grupo pelos trilhos do Pessegueiro, Joaquim vai divagando pelos anais da intriga política dos tempos de D. Sebastião, de Alcácer Quibir e do advento dos Felipes, para explicar a construção do forte e os colossais blocos de pedra à beira da água.
Vê-se que adora a nova profissão. Hoje em dia, Joaquim dedica-se em exclusivo às suas três paixões. Uma antiga - o mar - outras recente - a dança e a História. Com a amiga Maria do Céu, 48 anos, Joaquim inscreveu-se num curso de danças de salão. As suas especialidade são a valsa e o bolero. “É um excelente bailarino”, jura Maria do Céu. E vê-se que é isto que os faz felizes. Para Joaquim, a ilha é um amor infeliz, que o afastou de muitos dos antigos colegas pescadores. Aproximou-o mais dos arqueólogos e professores, com quem está sempre a aprender, e menos dos companheiros, que não lhe perdoam ter arranjado maneira de ser o único a ganhar dinheiro com a ilha. “O Pessegueiro desperta muita cobiça”.
Joaquim prossegue o seu relato aos turistas, que com o respeito que inspiram os homens que reemergiram na vida, nem se lembram de lhe regatear o rigor científico.
A chegada da dinastia castelhana ao trono português atraiu a inimizade dos ingleses, envolvidos na Guerra dos 80 anos contra a Espanha. Para que corsários britânicos não usassem a ilha para atacar os navios, Felipe II mandou construir o forte de Santo Alberto. A obra seria entregue ao arquitecto napolitano Alexandre Massai, que viria também a tomar em mãos a construção de um porto de características inéditas e porventura demasiado ambiciosas.
Massai imaginou ligar a ilha ao conjunto de rochedos chamados Penedos do Cavalo, e estes ao próprio continente. Usando escravos oriundos do norte de África, mandou cortar enormes pedaços da ilha, que seriam lançados ao mar e arrastados com alavancas, criando um molhe artificial até aos Penedos do Cavalo.
Mas Massai não calculou que, em contacto com a água, os cubos de 1200 toneladas de rijo arenito se começariam a desfazer. As dificuldades tornaram-se incomportáveis, e o projecto seria abandonado, em 1598. O tsunami de 1755 deixaria as estruturas irremediavelmente destruídas. Mais tarde, o forte foi abandonado, e a ilha voltou a mergulhar no seu profundo torpor. Até que, dois séculos depois, alguém cantasse o seu nome.
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Funchal

PND ocupa instalações do Jornal da Madeira

por Lilia Bernardes com Lusa
O Partido Nova Democracia (PND) ocupou hoje as instalações do Jornal da Madeira, no Funchal. Os candidatos estão barricados no edifício desde as 10:30 desta manhã.
Candidatos do Partido da Nova Democracia estão barricados desde hoje de manhã no edifício-sede do Jornal da Madeira, na Rua Dr. Fernão Ornelas na Baixa do Funchal, onde já se encontra a PSP.
Entre os candidatos barricados estão António Fontes, Gil Canha e Eduardo Welsh.
Os candidatos, acompanhados pelos jornalistas, tentaram aceder à redacção do diário, tendo os jornalistas que faziam a cobertura desta acção sido expulsos do edifício, mantendo-se os candidatos no interior.
"Vamos passar da legítima defesa à acção directa. Vamos entrar no jornal da Madeira, vamo-nos barricar aqui dentro enquanto não formos ouvidos pelo vice-presidente do Governo regional ou pelo senhor bispo do Funchal. Daqui não sairemos", afirmou António Fontes.
Pela porta exterior do edifício foram visíveis empurrões, estando agora no interior das instalações do jornal pelo menos quarto agentes da PSP.
António Fontes adiantou que o Jornal da Madeira é a sede da "batota eleitoral", referindo o que o matutino "enxovalha, humilha e goza todos os dias" com a oposição, "em particular o PND".
Segundo António Fontes, o Jornal da Madeira "não admite direitos de resposta nem qualquer esclarecimento", sublinhando que "faz campanha total quase ao PSD e ao Governo Regional da Madeira em pré-campanha e na própria campanha eleitoral", acrescentando que "não dá acesso" a correntes de opinião contrárias.
O candidato da lista liderada por Hélder Spínola referiu ainda os apelos sistemáticos do PND a várias instâncias sobre a situação da publicação e a necessidade de esta adoptar uma postura pluralista, recordando as recomendações da Comissão Nacional de Eleições a este propósito, "para tratar todas as candidaturas de igual forma", mas que "o jornal não cumpre".
O administrador do Jornal da Madeira, Rui Nóbrega, que exigiu a saída dos jornalistas e dos candidatos do PND -- gritando, enquanto empurrava alguns dos candidatos "sai imediatamente, não tem autorização para entrar nas instalações", ao que o candidato Eduardo Welsh respondia: "Não ponha os jornalistas na rua, isto é uma acção de campanha, nós queremos falar com um responsável, nós queremos pluralismo aqui dentro, não é esta pouca-vergonha da imprensa 'jardinista', o senhor faz fraude".
"Nunca foi pedida autorização", declarou, insistindo que a acção do PND foi "abusiva".
Rui Nóbrega dirigiu-se mais tarde aos profissionais da comunicação, aos quais pediu desculpa e justificou a acção.
Jornalistas e muito populares enchem a Rua Dr. Fernão Ornela curiosos com a situação de barricada no Jornal da Madeira, um jornal subsidiado pelo Governo Regional da Madeira.
Esta acção insere-se na campanha eleitoral do PND.
DN



Ilha da Berlenga

A Berlenga é uma verdadeira ilha, orgulhosa e independente. Não é um pedaço de terra anexo ao continente, como as outras. É um território com vida própria, com as suas montanhas, os seus caminhos, as suas grutas e as suas praias. Ao contrário do que sucede no Pessegueiro, aqui é a terra que parece mais distante. Facilmente é levada pela neblina, apagada do horizonte para a ilha poder ficar sozinha.
Por vezes, o que se vê são apenas algumas das pequenas ilhas do arquipélago, as Estelas e os Farilhões, o que permite a ilusão de se estar na metrópole de um misterioso e altivo país perdido no mar.
Não é fácil chegar cá. A viagem demora uma hora que parece duas ou três. O mar é sempre tão agitado que, no barco do Cabo Avelar Pessoa (do nome de um herói lendário da Berlenga), um tripulante vem distribuir sacos para vomitar aos mais de 150 passageiros. Também isto faz aumentar a distância. Depois de dobrar o Cabo das Tormentas, a sensação é a de chegar a um outro mundo.
A Berlenga é isso, um mundo virado para si próprio. Uma vez cá, esquecemo-nos de onde vimos, declaramos a soberania. O tempo e o espaço deformam-se para nosso aconchego. A paisagem não tem semelhanças com nenhum lugar do continente. O mar é verde e a terra escura, recortada e íngreme. Por algum fenómeno relacionado com o talhe e a densidade da rocha, as vozes ficam sempre abafadas, embora produzam eco. Ouve-se melhor o que é dito ao longe do que a fala dos que estão ao nosso lado. Há uma sensação de irrealidade e suspensão, como se ninguém tivesse os pés assentes na terra. Excepto Marieta e o marido, Veríssimo, no Bairro dos Pescadores.
A ilha pode estar cheia de gente, como acontece nestes meses de Verão, mas nenhum som humano sobreleva o grito das gaivotas. Elas dominam a ilha, voando nas enseadas, ou pousadas aos milhares ao longo das encostas, como um exército a perder de vista. Aqui é impossível mandá-las calar. O seu triunfo é total. Nunca fogem. Parece até que grasnam mais alto quando um ser humano passa perto.
É um gralhar contínuo e variado, que ora faz lembrar gritos, ora latidos, mas a partir do momento em que nos ocorre a comparação com gargalhadas, não mais nos livramos dela. A partir daí, por onde quer que andemos, em toda a ilha da Berlenga, acompanha-nos o riso sarcástico das gaivotas.
Para percorrer a ilha há duas opções: vai-se de barco ou a pé, o que implica subir. Os barcos visitam as baías, as praias e as grutas, chegam até ao forte S. João Baptista, situado numa ilhota ligada à ilha-mãe por uma ponte. A pé passa-se pelo restaurante e o bar, sob as cerca de 30 casas do antigo Bairro do Pescadores, pelo parque de campismo, pelo farol, até ao forte.
O forte de S. João Baptista, uma construção do século XVII que foi inicialmente um convento, é agora uma espécie de lugar comunitário para amantes da Berlenga. Conta-se que foi aqui que um tal cabo Avelar Pessoa, em 1666, com os 26 soldados que constituíam a guarnição do forte, resistiu heroicamente ao ataque de uma armada espanhola de vinte barcos.
Hoje, quem aparentemente manda aqui é Rogério Leitão, um pescador de Peniche com 45 anos. É ele que coordena as actividades, embora toda a azáfama se desenrole sem complicações. As pessoas entram no forte, dirigem-se à cozinha e  desatam a assar sardinhas, ocupam as mesas dos pátios, reúnem-se em grupos à beira das ameias.
A Associação dos Amigos da Berlenga é quem gere, desde 1976, toda esta utilização do edifício, aberto a quem quiser aparecer. A manutenção é feita com os fundos provenientes do aluguer dos 22 quartos, disponíveis de Junho a Setembro e sempre esgotados.
“Antes do 25 de Abril isto era uma pousada de luxo”, conta Rogério. “Salazar vinha para cá com uns amigos, que gostavam de fazer caça submarina”. Em 1971, o exclusivo resort foi encerrado, e depois do 25 de Abril de 1974 ocupado pelo povo. O pescador Rui Gonçalves, pai de Rogério, foi o primeiro a vir organizar o novo uso comunitário das instalações. “Há pessoas que vêm para aqui todos os anos, há mais de 30”, diz o sucessor de Rui. Chegou a haver um bar montado, mas no ano passado a ASAE veio cá e fechou-o.
A UNESCO classificou este ano o arquipélago das Berlengas como Reserva Mundial da Biosfera, estatuto que pode atrair mais turistas, mas também mais recursos para preservar as plantas, peixes e aves selvagens deste habitat único. Hoje, para além do faroleiro, sempre na ilha, mas num regime de turnos, só um casal permanece todo o ano na Berlenga, para tomar conta de tudo - Marieta e Veríssimo Soares. São eles que fazem as limpezas, gerem o parque de campismo, controlam a electricidade, tratam dos sanitários e da distribuição da água potável.
Vivem na ilha há 26 anos. Antes, Veríssimo trabalhava num escritório e Marieta numa fábrica de filetes de peixe, que fechou. Vieram para cá por necessidade. Deixaram os cinco filhos sozinhos, os mais velhos tonando conta dos mais novos. Marieta, de 59 anos, ganha 500 euros. O marido, como Fiscal de Limpeza, um pouco mais. Ela limpa as casas de banho, as únicas da ilha, que no período do verão tem milhares de visitantes. Ele preocupa-se com ligar e desligar a luz, abrir e fechar as torneiras da água da cisterna e do mar. Nas torneiras do restaurante, bem como nas das casas do Bairro dos Pescadores (algumas das quais são privadas) corre água salgada. A casa do casal Soares é muito pequena. Tem um quarto e uma cozinha, com uma mesa de jantar e, na parede, um grande póster do cantor Beto.
“No Inverno tudo fecha”, diz Marieta, que tem ao peito um crachá com a imagem de um homem de olhos azuis e cabelo comprido, e as palavras “Beto para sempre”. “O barco acaba em Setembro. Não vem mais ninguém. Ficamos sozinhos. Só com as ondas, o vento. É lindo. Gosto muito de cá estar. Gosto do sossego”.
Ao princípio custou. Depois  habituou-se. Agora precisa da ilha, da interminável solidão do Inverno, para se sentir inteira. Nessa altura, não há muito que fazer. Gosta de ir à pesca, de apanhar lulas com uma tonera, de ficar em casa a ler as revistas e jornais que os turistas deixam durante o Verão. Com vagar,  esmiúça, linha a linha, todas as notícias da Caras e do Correio da Manhã, não importa que tenham meses de atraso. O tempo na ilha avança de forma descontínua, como o vai-vem das ondas. Aqui, o mundo é uma miniatura e por isso e tudo é imenso. “Ih ih ih ih”, gritam as gaivotas. “Iac iac iac iac”, riem elas, alucinadas.
Em Maio do ano passado, um barco da Polícia Marítima chegou à ilha para trazer uma notícia. Vinha a bordo um funcionário da Câmara de Peniche, um médico e mais uns homens que  não conhecia. Não se explicaram logo. Ficaram assim num silêncio embaraçoso, permitindo que o cenário se enchesse de escarpas negras, de gargalhadas sinistras e um cheiro enjoativo a gaivotas mortas.
Marieta levanta-se todos os dias às 6 da manhã para fazer a limpeza. Mas a ilha é muito grande para uma pessoa só. Por exemplo, ninguém recolhe as aves mortas que vão apodrecendo nos planaltos de vegetação rasteira. Os cadáveres estão por todo o lado, alguns já secos, outros inteiros, de asas abertas, de costas, como se tivessem morrido no ar e depois tombado, ou esmagados de frente, de bruços, na posição de quem tivesse perdido a noção das distâncias ou o controlo do voo, e simplesmente se despenhasse contra uma pedra.
Os homens do barco quiseram que o casal fosse com eles para terra. No meio do mar disseram que tinha havido um acidente com o Beto. Depois falaram de um AVC, e  pensou que daria ao filho uns chás e aquilo passava-lhe.
“O Beto chegou a gravar com a Rita Guerra”, diz a mãe. “Era muito famoso”. Um dos “maiores cantores românticos portugueses da sua geração”, segundo a respectiva entrada na Wikipedia. A prova de que o talento pode nascer entre cinco crianças criadas sozinhas enquanto os pais ganhavam o seu sustento isolados numa ilha a vida inteira.
Foi uma das filhas que acabou por dar a  a informação: “Mãe, o nosso Beto morreu, nas Caldas da Rainha”.
Desde que soube isto, a funcionária da limpeza da Berlenga ainda não passou nenhum Inverno na ilha. Tem muita confiança no próximo. “A ilha ajuda. Este Inverno vou conseguir ultrapassar o desgosto. Pelo menos assim o espero, embora com um bocadinho de medo”.

Insua

Há dois barcos que vão à Insua: o do restaurante e o de Mário. A ilha situa-se a 200 metros da costa, em frente à praia de Moledo e à Mata de Camarido, mas quem quiser lá ir tem de chegar até ao restaurante Insua, em Caminha. Ali, à beira rio, há um cais partilhado pelas duas concessões, a de Mário Gonçalves de Vasconcelos, 64 anos, antigo pescador, dono de um pequeno barco de madeira, e a de Pedro Machado, 33 anos, e Sebastião Nunes, 27, que exploram respectivamente a empresa Minha Aventura e o restaurante, e possuem uma lancha moderna.
As viagens para a ilha são monopolizadas por estes dois barcos, mas, ao contrário das outras ilhas continentais que visitámos, a Insua está de facto abandonada. Ninguém sabe quem toma conta dela, ou seja, ninguém toma. Percebe-se que os barqueiros têm um estatuto especial. Pelo simples facto de lhe terem acesso são vistos de facto como os donos da ilha. É assim desde sempre.
Nos finais do século XIV, alguns monges da Galiza e das Astúrias, zangados por Castela apoiar o papa de Avignon durante o Grande Cisma do Ocidente, fugiram para o Minho. Chefiados por Frei Diogo Arias, construíram o convento de Santa Maria da Ínsua.
No ano de 1462, aos dois pescadores que costumavam transportar os monges para a ilha foi concedido um estatuto de privilégio. E desde então o ter-se acesso de barco à Insua tornou-se quase um título nobiliárquico. Uma espécie de condes da Insua.
O uso militar da ilha começaria em 1580, o ano da perda da independência. Uma armada galega ocupou o convento, em demonstração de apoio à causa dos Filipes. No início do século XVII, a ilha foi objecto de vários ataques de piratas, muitos deles britânicos, cuja coroa estava em guerra com a espanhola. A insegurança era tal, que, em 1623 já só havia dois monges no convento.
Com a recuperação da independência nacional, e para que dali não adviessem mais perigos, a Ínsua foi definitivamente transformada em quartel. D. Diogo de Lima, Governador das Armas da província do Minho, presidiu à construção da fortaleza.
Monges e soldados passaram a habitar a ilha, num conturbado convívio. Em 1807, durante as Invasões Francesas, a Insua foi ocupada por uma força espanhola, que capitularia no ano seguinte perante os exércitos napoleónicos. Em 1834, os liberais extinguiram as ordens religiosas, e, desde então, tanto o forte como o convento ficaram abandonados.
O edifício, de grande complexidade arquitectónica, começou a degradar-se. A sua guarda, do Ministério da Defesa passou para o da Finanças, deste para o IPPAR e, por fim, para o Instituto Politéctico de Viana do Castelo. Todas as instituições devem estar orgulhosas do trabalho realizado: o forte está em ruínas.
Mário é pescador desde criança. Andou 14 anos no bacalhau, trabalhou por conta de outrem, em barcos grandes, depois sozinho. No navio Senhora das Candeias especializou-se em escalar o peixe. Chamavam-lhe o Faca Negra. Quando o Senhora das Candeias foi abatido, por imposição da CEE, Mário ficou a trabalhar no Clube da Insua, um clube chique de Moledo que possuía aqui um posto náutico.
Foi o edifício desse clube que seria adquirido por Sebastião Nunes e um irmão, para abrirem o restaurante Insua, especializado em polvo à lagareiro. Mário trabalha agora por conta própria. Faz passeios à ilha e pelo Rio Minho, em concorrência com a parceria de Sebastião e a Minha Aventura, que alugam bicicletas e barcos, organizam passeios de observação de pássaros, fazem viagens à ilha e promovem percursos de canoa ao luar.
À volta da ilha, o mar é azul escuro e agitado. Um pequeno barco de borracha vermelha anda à pesca nas ondas, perigosamente, junto aos rochedos que marcam a foz. A ilha tem praia de um lado e rochas do outro. Alguns banhistas apanham o barco e vêm para aqui fazer praia. Deixam um rasto de garrafas e embalagens de plástico. O forte está ocupado por um grupo de velhos radioamadores que obtiveram autorização para aqui montarem as antenas durante duas semanas. Mostram-se indignados com a presença dos repórteres. “Isto é uma zona militar”, dizem, e telefonam à Polícia.
“Então os senhores pensam que é só chegar aí à ilha, assim, sem mais nem menos”, diz-nos o polícia, pelo telefone do radioamador. “É preciso uma autorização”.
Brilhando semi-enterrada na areia, uma garrafa fechada parece ter sido deixada por um náufrago que não conseguiu enviar a sua mensagem. A Insua, a única ilha abandonada de Portugal, pede socorro.
(PÚBLICO)