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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

HISTÓRIA DO FADO - Nascido nos contextos populares da Lisboa oitocentista, o Fado encontrava-se presente nos momentos de convívio e lazer.



Nascido nos contextos populares da Lisboa oitocentista, o Fado encontrava-se presente nos momentos de convívio e lazer. Manifestando-se de forma espontânea, a sua execução decorria dentro ou fora de portas, nas hortas, nas esperas de touros, nos retiros, nas ruas e vielas, nas tabernas, cafés de camareiras e casas de meia-porta. Evocando temas de emergência urbana, cantando a narrativa do quotidiano, o fado encontra-se, numa primeira fase, vincadamente associado a contextos sociais pautados pela marginalidade e transgressão, em ambientes frequentados por prostitutas, faias, marujos, boleeiros e marialvas. Muitas vezes surpreendidos na prisão, os seus actores, os cantadores, são descritos na figura do faia, tipo fadista, rufião de voz áspera e roufenha, ostentando tatuagens, hábil no manejo da navalha de ponta e mola, recorrendo à gíria e ao calão. Esta associação do fado às esferas mais marginais da sociedade ditar-lhe-ia uma vincada rejeição pela parte da intelectualidade portuguesa. 

Atestando a comunhão de espaços lúdicos entre a aristocracia boémia e as franjas mais desfavorecidas da população lisboeta, a história do fado cristalizou em mito o episódio do envolvimento amoroso do Conde de Vimioso com Maria Severa Onofriana (1820-1846), meretriz consagrada pelos seus dotes de cantadeira e que se transformará num dos grandes mitos da História do Fado, referencial agregador da comunidade fadista. Em sucessivas retomas imagéticas e sonoras, a evocação do envolvimento de um aristocrata boémio com a meretriz, cantadeira de fados, perpassará em muitos poemas cantados, e mesmo no cinema, no teatro, ou nas artes visuais, desde logo a partir do romance A Severa, de Júlio Dantas, publicado em 1901 e transportado para a grande tela em 1931, naquele que seria o primeiro filme sonoro português, dirigido por Leitão de Barros.

Também em eventos festivos ligados ao calendário popular da cidade, em festas de beneficência ou nas cegadas - representações teatrais de carácter amador e popular, na generalidade representadas por homens, nas ruas, verbenas, associações de recreio e colectividades - o fado ganharia terreno. Apesar deste tipo de representação constituir um divertimentos célebres do Carnaval lisboeta, de franca adesão popular e muitas vezes com um vincado carácter de intervenção, a regulamentação da censura em 1927 iria contribuir, de forma lenta mas irreversível, para a extinção deste tipo de espectáculo.  

O Teatro de Revista, género de teatro ligeiro tipicamente lisboeta nascido em 1851, cedo descobrirá as potencialidades do fado que, a partir de 1870 integra os seus quadros musicais, para ali se projectar junto de um público mais alargado. O contexto social e cultural de Lisboa com seus bairros típicos, sua boémia, assume protagonismo absoluto no teatro de revista. Ascendendo aos palcos do teatro o fado animará a revista, estruturando-se novas temáticas e melodias. No teatro de revista, com refrão e orquestrado, o fado será cantado quer por famosas actrizes, quer por fadistas de renome, cantando o seu repertório. Ficariam na história duas formas diferentes de abordar o fado: o fado dançado e estilizado por Francis e o fado falado de João Villaret. Figura central da história do Fado, Hermínia Silva consagrou-se nos palcos do teatro nas décadas de 30 e 40 do Século XX, somando os seus inconfundíveis dotes de cantadeira com os de actriz cómica e revisteira

Alargando-se o campo de apropriação do fado a partir do último quartel do séc. XIX, corresponde a esta época a estabilização formal da forma poética da “décima”, quadra glosada em quatro estrofes de dez versos cada, aquela em torno da qual se estruturaria o Fado para mais tarde se desenvolver em torno de outras variantes. Será também neste período que a guitarra, ao longo do século XIX, progressivamente difundida dos centros urbanos para as zonas rurais do país, se definirá na sua componente específica de acompanhamento do fado. 

A partir das primeiras décadas do século XX o fado conhece uma gradual divulgação e consagração popular, através da publicação de periódicos que se consagram ao tema, e da consolidação de novos espaços performativos numa vasta rede de recintos que, numa perspectiva comercial, passava agora a incorporar o Fado na sua programação, fixando elencos privativos que muitas vezes se constituíam em embaixadas ou grupos artísticos para efeitos de digressão. Paralelamente, sedimentava-se a relação do Fado com os palcos teatrais, multiplicando-se as actuações de intérpretes de fado nos quadros musicais da Revista ou das operetas. 

Com efeito, o aparecimento das companhias de fadistas profissionais a partir da década de 30, veio permitir a promoção de espectáculos, com elencos de grande nomeada e a sua circulação pelos teatros de norte a sul do País, ou mesmo em digressões internacionais. Tal foi o caso do “Grupo Artístico de Fados” com Berta Cardoso (1911-1997), Madalena de Melo (1903-1970), Armando Augusto Freire, (1891-1946) Martinho d’Assunção (1914-1992) e João da Mata e do “Grupo Artístico Propaganda do Fado” com Deonilde Gouveia (1900-1946), Júlio Proença (1901-1970) e Joaquim Campos (1899-1978) ou da “Troupe Guitarra de Portugal”, integrada, entre outros, por Ercília Costa (1902-1985) e Alfredo Marceneiro (1891-1982). 

Embora os primeiros registos discográficos produzidos em Portugal datem dos alvores do século XX, o mercado nacional era ainda, nesta fase, bastante incipiente, uma vez que a aquisição quer de gramofones, quer de discos, acarretava custos bastante elevados. Efectivamente, depois da invenção do microfone eléctrico, em 1925, reunir-se-iam as condições fundamentais às exigências de captação do registo sonoro. Decorrendo, no mesmo período, o fabrico de gramofones a preços cada vez mais competitivos, estavam criadas, junto de uma classe média, as condições mais favoráveis de acesso a este mercado. 

No contexto dos instrumentos de mediatização do fado a TSF – telegrafia sem fios - assumiu uma importância central nas primeiras décadas do século XX. Da intensa actividade de postos de radiodifusão verificada entre 1925 e 1935, destacam-se o CT1AA, o Rádio Clube Português, a Rádio Graça e a Rádio Luso rapidamente popularizada pelo destaque que deu ao fado. Em 1925 tinham início as emissões da primeira estação de rádio portuguesa, o CT1AA. Investindo nas infra-estruturas técnicas e logísticas que lhe garantiam a expansão do seu âmbito de radiodifusão e a regularidade das emissões, o CT1AA de Abílio Nunes passou a integrar o fado nas suas emissões, angariando um vasto círculo de ouvintes, que se estendia à diáspora da emigração portuguesa. Incluindo emissões em directo dos Teatros, bem como apresentações musicais ao vivo nos estúdios, o CT1AA promovendo ainda, a título experimental, a transmissão de um programa de fados da responsabilidade do violista Amadeu Ramin.

Com o golpe militar de 28 de Maio de 1926 e a implementação da censura prévia sobre espectáculos públicos, imprensa e demais publicações, a canção urbana sofreria profundas mutações. De facto, logo no ano seguinte, regulamentando globalmente as actividades de espectáculo através de um extenso clausulado, o Decreto-Lei nº 13 564 de 6 de Maio de 1927, vinha consagrar, ao longo do disposto em 200 artigos, uma “Fiscalização superior de todas as casas e recintos de espectáculos ou divertimentos públicos (…) exercida pelo Ministério da Instrução Pública, por intermédio da Inspecção Geral dos Teatros e seus delegados”. Neste contexto, o fado sofreria inevitavelmente profundas mutações regulado agora, nos termos do disposto naquele instrumento legal, ao nível da concessão de licenças a empresas promotoras de espectáculos, nos mais diversificados recintos, dos direitos de autor, da obrigatoriedade de visionamento prévio de programas e repertórios cantados, da regulamentação específica para a atribuição da carteira profissional, da realização de contratos, deslocações em tournées, entre inúmeros outros aspectos. Impunham-se, assim, significativas mutações no âmbito dos espaços performativos, no modo de apresentação dos intérpretes, nos repertórios cantados – despidos de qualquer carácter de improviso – consolidando-se um processo de profissionalização de uma plêiade de intérpretes, instrumentistas, letristas e compositores, que passava a actuar em recintos diversificados para um público cada vez mais alargado. 

Gradualmente, tenderia a ritualizar -se a audição de fados numa casa de fados, locais que iriam sobretudo concentrar-se nos bairros históricos da cidade, com maior incidência no Bairro Alto, sobretudo a partir dos anos 30. Estas transformações na produção do fado irão necessariamente afastá-lo do campo do improviso, perdendo-se alguma da diversidade dos seus contextos performativos de origem e, por outro lado, obrigar à especialização de intérpretes, autores e músicos. Paralelamente, as gravações discográficas e radiofónicas propunham uma triagem de vozes e práticas interpretativas que se impunham como modelos a seguir, limitando o domínio do improviso.

Na década seguinte, vingariam definitivamente as tendências de um revivalismo dos aspectos ditos típicos, que apontavam para a recriação dos aspectos mais genuínos e pitorescos nos ambientes performativos do fado.

E se desde o primeiro momento o fado marcou presença no teatro e na rádio o mesmo irá acontecer na sétima arte. De facto, se o advento do cinema sonoro foi marcado pelo musical, o cinema português consagrou ao fado particular atenção. Ilustra-o bem o facto do primeiro filme sonoro português, realizado em 1931, por Leitão de Barros, ter por temática as desventuras da mítica figura da Severa. Como tema central ou simples apontamento, o fado foi acompanhando a produção cinematográfica portuguesa até à década de 70. Neste sentido, também em 1947 com O Fado, História de uma Cantadeira protagonizado por Amália Rodrigues ou, em 1963, com O Miúdo da Bica, protagonizado por Fernando Farinha, o cinema português consagra particular atenção ao universo fadista. Não obstante o protagonismo de Amália Rodrigues, também neste contexto, são ainda de sublinhar as incursões na Sétima Arte, de artistas como Fernando Farinha, Hermínia Silva, Berta Cardoso, Deolinda Rodrigues, Raul Nery e Jaime Santos.

E se a difusão radiofónica permitira ultrapassar barreiras geográficas, levando a milhares de pessoas as vozes do fado, depois da inauguração da Rádio Televisão Portuguesa - em 1957 – e, sobretudo, com a sua difusão, à escala nacional, em meados da década seguinte, os rostos dos artistas passariam a ser divulgados junto do grande público. Recriando em estúdio ambientes ligados às temáticas fadistas, a televisão transmitiria regularmente, em directo, de 1959 a 1974, programas de fado que contribuiriam de um modo inequívoco para a sua mediatização.

Usufruindo desde o último quartel do século XIX da divulgação nos palcos do Teatro de Revista e, a partir das primeiras décadas do século XX, da promoção de uma imprensa especializada, mediatizando-se progressivamente na Radio, no Cinema e na Televisão, o fado conhece uma franca vitalidade no período compreendido entre as décadas de 1940 e 1960, muitas vezes designado de “anos de ouro”, surgindo em 1953 o concurso da Grande Noite do Fado que se realizará anualmente, até aos nossos dias. Reunindo centenas de candidatos das várias colectividades e agremiações da cidade, este concurso, tradicionalmente realizado no Coliseu dos Recreios mantém-se, ainda hoje, como um evento de grande importância na tradição fadista da cidade e na promoção de jovens amadores que ali tentam ascender ao estatuto profissional.

Os expoentes da canção nacional encontravam-se, nesta época, vinculados a uma rede de casas típicas com elenco residente, usufruindo agora de um mercado de trabalho mais vasto, onde avultam as possibilidades de gravação discográfica, de realização de digressões e tournées, de actuações na rádio e na televisão. Paralelamente, sucediam-se as apresentações de fadistas nos “Serões para Trabalhadores” eventos culturais de cobertura radiofónica promovidos pela FNAT, a partir de 1942, promovendo-se os programas de fado também a partir do Secretariado Nacional de Informação, Cultura e Turismo que, a partir de 1944 passava a tutelar a Censura, a Emissora Nacional e a Inspecção Geral dos Espectáculos. A partir da década de 1950, a aproximação do regime ao prestígio internacional de Amália Rodrigues vinha reforçar esta colagem do regime ao fado, depois de nele operar profundas alterações.

Se a simplicidade da estrutura melódica do Fado valoriza a interpretação da voz, ela sublima também os repertórios cantados. Com forte pendor evocativo, a poesia do fado apela à comunhão entre intérprete, músicos e ouvinte. Em quadras ou quadras glosadas, quintilhas, sextilhas, decassílabos e alexandrinos, esta poesia popular evoca os temas ligados ao amor, à sorte e ao destino individual, à narrativa do quotidiano da cidade. Sensível às injustiças sociais, revestiu-se inúmeras vezes, de um vincado carácter de intervenção. 

E se as primeiras letras de Fado eram, na sua maioria, anónimas, sucessivamente transmitidas pela tradição oral, esta situação inverter-se-ia definitivamente a partir de meados da década de 20, época em que surge uma plêiade de poetas populares como Henrique Rego, João da Mata, Gabriel de Oliveira, Frederico de Brito, Carlos Conde e João Linhares Barbosa, que consagrará ao fado particular atenção. A partir dos anos 50 do século XX o fado cruzar-se-á definitivamente com a poesia erudita na voz de Amália Rodrigues. A partir do contributo decisivo do compositor Alain Oulman, o fado passará a cantar os textos de poetas com formação académica e obra literária publicada como David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello, José Régio, Luiz de Macedo e, mais tarde, Alexandre O’Neill, Sidónio Muralha, Leonel Neves ou Vasco de Lima Couto, entre muitos outros. 

A divulgação internacional do Fado começara já a esboçar-se a partir de meados da década de 30, em direcção ao continente africano e ao Brasil, destinos preferenciais para actuação de artistas como Ercília Costa, Berta Cardoso, Madalena de Melo, Armando Augusto Freire, Martinho d’Assunção ou João da Mata, entre outros artistas. Seria, porém, a partir da década de 1950 que a internacionalização do Fado se consolidaria definitivamente sobretudo através da figura de Amália Rodrigues. 

Ultrapassando as barreiras da cultura e da língua, com Amália o Fado consagrar-se-ia definitivamente como um ícone da cultura nacional. Durante décadas e até à data da sua morte, em 1999, caberia a Amália Rodrigues, o protagonismo a nível nacional e internacional.

Introduzida em Portugal a partir das colónias inglesas de Lisboa e do Porto, referências de gosto e mentalidade cultural da época, a guitarra inglesa conheceu uma grande divulgação nos salões europeus de meados do século XVIII. De utilização exclusiva nos círculos da burguesia e da nobreza dos salões urbanos, entre meados do século XVIII e 1820, “é nessa qualidade que a vemos associada ao acompanhamento de algumas modinhas e cançonetas italianas de carácter mais erudito (…) no que se refere aos primeiros testemunhos do Fado dançado no Brasil (…) as fontes da época mencionam sempre a viola. O mesmo sucede nas descrições mais antigas do fado de Lisboa (…)” (Cfr. NERY, Rui Vieira, Para uma História do Fado, Lisboa, Publico/Corda Seca, 2004, p. 98).

A partir do início do novo século vai surgindo nas fontes históricas a designação “guitarra portuguesa” atestando possivelmente o modelo de seis pares de cordas, uma alteração provavelmente introduzida em Portugal e, será sobretudo a partir de 1840, que surgem notícias da sua associação ao contexto performativo fadista onde assumirá um plano de absoluta centralidade.

Na história da construção da guitarra portuguesa, inteiramente artesanal, distinguem-se duas famílias de guitarreiros que aperfeiçoaram e transmitiram o seu segredo ao longo de sucessivas gerações. A primeira inicia-se com Álvaro da Silveira e é continuada por Manuel Cardoso e seu filho Óscar Cardoso. A segunda nasce com João Pedro Grácio e mantém-se com João Pedro Grácio Júnior, que se destaca de seis irmãos, e seu filho Gilberto Grácio. O diálogo permanente entre esta oficina e os executantes que a preferiram, como Luís Carlos da Silva, Petrolino, Armando Freire, Artur Paredes, Carlos Paredes, José Nunes, foi fundamental á evolução técnica e acústica do instrumento.

De entre os guitarristas, Armando Augusto Freire, também conhecido por Armandinho (1891-1946) foi autor de inúmeros fados e variações, deixando uma escola da qual saíram, entre outros, Jaime Santos, Carvalhinho, Raúl Nery e José Fontes Rocha.

No que se refere aos conjuntos de guitarras, ficaram como referência os conjuntos do Professor Martinho d’Assunção, proeminente violista e compositor e o conjunto de guitarras de Raúl Nery criado a convite da Emissora Nacional e formado pelo próprio Raúl Nery como primeiro guitarra, José Fontes Rocha – segundo guitarra - Júlio Gomes –viola - e Joel Pina –viola baixo.

A revolução de Abril de 1974 veio instaurar um Estado democrático em Portugal, fundado no pressuposto da integração das liberdades públicas, no respeito e garantia dos direitos individuais, com a inerente abertura, aos cidadãos, de uma mais activa participação cívica, política e social. Progressivamente, ao longo das décadas seguintes, far-se-ão sentir as influências da cultura de massas, próprias de uma sociedade da era da globalização, contexto que modificará a relação do fado com o mercado português, que se concentra agora na música popular de carácter interventivo absorvendo, simultaneamente, muitas das formas musicais criadas no estrangeiro.  

Nos anos imediatamente seguintes à revolução a interrupção, por dois anos, do concurso da Grande Noite do Fado, ou a diminuição radical da presença do fado em emissões radiofónicas ou televisivas, atestam bem a hostilidade ao fado. 

De facto, só a estabilização do regime democrático devolveria ao fado o seu espaço próprio a partir de 1976 e, logo no ano seguinte, vinha a lume o álbum Um Homem na Cidade por um dos maiores expoentes da canção urbana de Lisboa, figura central da internacionalização do fado, autor de uma sólida carreira de 45 anos, ao longo da qual tem articulado, como ninguém, a tradição fadista mais legítima, a uma inesgotável capacidade de a recriar. 

Encerrando-se gradualmente o debate ideológico em torno do fado, será sobretudo a partir da década de 1980 que terá lugar o reconhecimento do lugar central do fado consenso, no quadro do património musical português, assistindo-se a um renovado interesse do mercado pela canção urbana de Lisboa, como o atestam a atenção crescente da indústria discográfica, através, nomeadamente de reedições de registos gravados, a gradual integração do fado nos circuitos dos festejos populares, à escala regional, o aparecimento progressivo de uma nova geração de intérpretes, ou ainda a aproximação ao fado de cantores de outras áreas como José Mário Branco, Sérgio Godinho, António Variações ou Paulo de Carvalho.

Emergindo, no plano internacional um renovado interesse pelas culturas locais musicais, através dos seus expoentes mais reconhecidos, nos circuitos do disco, dos media e dos espectáculos ao vivo, Amália Rodrigues e Carlos do Carmo assumem destaque absoluto. 

Já nos anos 90 o fado consagrar-se-ia, definitivamente nos circuitos da World Music internacional com Mísia e Cristina Branco, respectivamente no circuito francês e na Holanda. Também nos anos 90, um outro nome que se destaca no panorama do Fado é Camané, com grande consagração. Desde a década de 90 e já no dealbar do século surge uma nova geração de talentosos intérpretes como Mafalda Arnauth, Katia Guerreiro, Maria Ana Bobone, Joana Amendoeira, Ana Moura, Ana Sofia Varela, Pedro Moutinho, Helder Moutinho, Gonçalo Salgueiro, António Zambujo, Miguel Capucho, Rodrigo Costa Félix, Patrícia Rodrigues, ou Raquel Tavares. No circuito internacional porém, Mariza assume protagonismo absoluto, desenhando um percurso fulgurante, ao longo do qual tem legitimamente colhido sucessivos prémios na categoria de World Music. 

Excertos do texto:
Pereira, Sara (2008), “Circuito Museológico”, in Museu do Fado 1998-2008, Lisboa: EGEAC/Museu do Fado. 

www.museudofado.pt

A "Dieta Mediterrânica" na pintura portuguesa


Natureza Morta (peixe, rábano de folhas verdes, galheteiro com azeite e vinagre); óleo sobre tela; 1931. Autor: Abel Manta (1888-1982) - Museu José Malhoa - MatrizNet.

A "Dieta Mediterrânica", com origem nos países junto ao Mar Mediterrâneo, tem sido transmitida de geração em geração ao longo dos séculos. 

A "Dieta Mediterrânica", definida pelo termo grego “díaita”, da qual deriva dieta, significa estilo de vida equilibrado, uma forma de estar e não apenas um padrão alimentar, que combina ingredientes da agricultura local, receitas e formas de cozinhar próprias utilizadas pelas diferentes comunidades ao longo dos séculos, refeições partilhadas, tradições e festividades. Este regime alimentar, juntamente com o exercício físico moderado, praticado diariamente, favorecido pelo clima ameno, completam um "modo de vida" que a ciência moderna nos convida a adoptar em benefício da nossa saúde.


Natureza Morta com Peixes, Camarões e Perna de cordeiro; óleo sobre tela; 1640-1650. Autor: Baltazar Gomes Figueira (Óbidos,1604-Óbidos,1674) - Museu de Évora - MatrizNet
Natureza Morta (ganso, fatia de abóbora e couve); óleo sobre tela; século XX. Autor: Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929) - Museu do Chiado - MatrizNet
Natureza Morta (maçãs, uvas e copo com vinho); óleo sobre tela; século XX. Autor: Manuel Jardim (1884-1923) - Museu Nacional Machado de Castro - MatrizNet

Esta dieta é caracterizada pelo consumo de pão, azeite e vinho, alimentos de origem vegetal, como massas e arroz, legumes, hortaliças, fruta fresca e frutos oleaginosos. As aves, peixe e ovos devem ser consumidos numa base semanal e a carne vermelha apenas uma vez por mês. A dieta mediterrânica permite o consumo moderado de vinho tinto mas sempre às refeições.

A UNESCO, no decurso da 8ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorreu no Azerbaijão, no dia 4 de Dezembro de 2013, classificou a "Dieta Mediterrânica" como Património Cultural Imaterial da Humanidade de Portugal, Espanha, Marrocos, Itália, Grécia, Chipre e Croácia.


Natureza Morta ( couve, molho de cebolas e utensílios de cozinha); óleo sobre tela; 1887. Autor: José Queirós (1856-1920) - Museu de Évora - MatrizNet
Natureza Morta com Frutos; óleo sobre tela; 1650. Autor: António Pereda y Salgado (1611-1678).- Museu Nacional de Arte Antiga - MatrizNet
Natureza Morta (aipo, marmelo e laranja); óleo sobre tela; 1650-1684. Autores: Baltazar Gomes Figueira (Óbidos, 1604 - Óbidos, 1674) e Josefa de Ayala (Sevilha, 1630 - Óbidos, 1684)- Museu de Évora - MatrizNet

O pão é, sem dúvida, uma fonte de energia. Nutricionalmente, pertence ao grupo dos cereais e é um fornecedor de vitaminas (B1, B2, B5), fibras e hidratos de carbono.  Ao longo do território português, confecciona-se em diferentes formatos, como o Folar de Chaves, a broa de Avintes e a broa de milho com origem no Norte de Portugal, o pão de centeio da Serra da Estrela, e o pão de trigo, de que é exemplo o pão alentejano. Este, geralmente de grandes dimensões, é utilizado em diversos pratos como as açordas e as migas à alentejana.

O azeite, rico em antioxidantes e vitamina E, é um alimento transversal na dieta dos Portugueses. Utilizado principalmente como condimento nas sopas, nas saladas, nas migas, no bacalhau assado ou nas batatas cozidas, o azeite também está presente na confecção de doçaria, bolos e filhós, principalmente nas Beiras e Alentejo. 

Natureza Morta com Frutos e Flores; óleo sobre tela; 1670. Autora: Josefa de Ayala dita Josefa de Óbidos (1630-1684) -  Museu Nacional de Arte Antiga - MatrizPix
Natureza Morta; óleo sobre tela; 1941. Autora: Maria Keil (1914-2012) - Centro de Arte Moderna - MatrizNet

Interior; óleo sobre tela; 1914. Autor: Eduardo Afonso Viana (1881 - 1967) - Museu do chiado - MatrizNet

O pescado integra a dieta mediterrânica, mas em Portugal, o peixe é consumido tradicionalmente devido à dimensão da nossa costa e à qualidade do pescado capturado no Atlântico. O peixe é rico em omega 3, proteínas, vitamina D, cálcio, ferro e vitamina B 12. A célebre sardinha, o polvo e o bacalhau, são os peixes preferidos pelos portugueses, que comem 57 quilos de pescado por ano per capita. Por esta razão, é importado cerca de dois terços do peixe que chega à mesa.

Portugal tem uma grande variedade de vinhos com excelente qualidade. Em quantidades moderadas ( 250 ml por dia), é um excelente tónico. As regiões produtoras de melhor vinho são o Douro, o Alentejo, e o Dão, merecendo também referência as regiões do Minho, Terras do Sado, Bairrada e Bucelas.


Abóboras; óleo sobre tela; 1944. Autor: Mário Eduardo de Passos Reis. - Museu do Chiado - MatrizNet
Natureza Morta - A Lagosta; óleo sobre tela; 1953. Autor: Eduardo Afonso Viana (1881-1967) - Museu Nacional soares dos Reis - MatrizNet
Natureza Morta; óleo sobre tela; 1965. Autor: Abel Manta (Autor: Abel Manta (1888-1982) - Museu Nacional Grão Vasco - MatrizPix.

O tomate, a cebola, o alho e o azeite, são imprescindíveis na dieta mediterrânica, assim como algumas ervas aromáticas. Além dos temperos já mencionados, no norte de Portugal é comum usar a salsa e o louro, no sul, especialmente no Alentejo, utilizam os coentros, a hortelã, o poejo, os orégãos, o alecrim... 
A descoberta do caminho marítimo para a Índia, por Vasco da Gama, possibilitou aos portugueses o consumo da pimenta (designada no Brasil como pimenta-do-reino), canela, noz-moscada e cravinho-da-índia. A doçaria portuguesa faz uso abundante da canela.


Hortaliceiras; óleo sobre tela; 1938. Autor: José de Almeida e Silva (1864-1945) - Museu Grão Vasco - MatrizNet

Milho ao Sol; óleo sobre madeira; 1927. Autor: José Malhoa (1855-1933) - Museu Grão Vasco - MatrizNet
Festa na aldeia; óleo sobre madeira; século XIX; Autor: Leonel Marques Pereira (1828 - \1892) - Museu do Chiado - MatrizNet

Azeite e Pão (montado alentejano com campo de trigo e conjunto de oliveiras); óleo sobre tela; século XX. Autor: João de Melo Falcão Trigoso (1879-1956) - Museu do Chiado - MatrizNet

Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gastronomia_de_Portugal
https://sites.google.com/site/docapescacreative/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Baltazar_Gomes_Figueira

https://ess.ualg.pt/pt/content/dieta-mediterranica-patrimonio-cultural-imaterial-da-humanidade#sthash.xUG9sl69.dpuf
comjeitoearte.blogspot.pt

TEMPOS ANTIGOS - AS SOMBRINHAS E OS LEQUES EM PORTUGAL

Sombrinhas antigas  Portugal

Palácio Burnay, Garden-Party no jardim, Lisboa (23-05-1907)Fotografia. Dimensão: 9 x 12 cm. Negativo de gelatina e prata em vidro - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. 
Na foto, uma das três senhoras usa sombrinha branca, símbolo de elegância e distinção.

Garden-Party, festa no jardim, foi dos acontecimentos mais importantes para a alta sociedade no início do século XX. Henrique Burnay, 1º conde de Burnay (1838-1909), capitalista, empresário e político português, ofereceu umGarden-Party no seu palácio, situado na Rua da Junqueira (Palácio Burnay), em Maio de 1907. Nestes eventos os homens trajavam de forma solene. As senhoras ostentavam elegantes trajes de passeio.


Palácio Burnay, Garden-Party no jardim, Lisboa (1907)Fotografia. Dimensão: 9 x 12 cm. Negativo de gelatina e prata em vidro - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. Nestes eventos os homens trajavam de forma solene. As senhoras  ostentavam elegantes trajes de passeio.

A sombrinha data de tempos remotos. Usada como protecção contra o sol, surge muito antes do chapéu de chuva. Do Oriente, onde era considerada um símbolo de elegância e distinção, passou ao conhecimento dos Gregos e Romanos.

No decorrer da Idade Média, o chapéu de sol foi esquecido por um longo período de tempo, reaparecendo em Itália, durante o século XIV.



O Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; 25 de Julho de 1838. Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal 


O Correio das Damas 
Chapeo franzido. Saia de cambraia de Escocia. Roupão de gros de Tours. Chapeo de gros de Naples. Vestido de cambraia. Chale de gros de Argel. 
Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; 25

de Julho de 1838. Biblioteca Nacional de Portugal


O Correio das Damas: jornal de literatura e de modas;. "Modas. Toilettes diversas"; 25 de Julho de 1838, pág. 50. Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal.
No Correio das Damas, de 25 de Julho de 1838, página 59 (em cima, ao lado direito), pode ler-se:
Toilettes diversas.

Toilette de  passeio. - Vestido de seda de cordãosinho côr de lírio, guarnecido de tres ordens de seda preta. - Chapeo de palha d' arrôz ornado de flores. - Luvas côr de canário.
Dita. - Vestido de cassa de lã, côr de rosa. - Mantelete de setim preto, guarnecido de renda da mesma côr. - Chapeo, franzido, de seda branca. - Luvas brancas. - Chapeo de sol côr de castanha.
           (...) 
O Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; "Modas. Toilettes diversas"; 25 de Julho de 1838, pág. 50. Biblioteca Nacional de Portugal


A partir do século VXIII, a sombrinha foi um importante acessório do traje feminino europeu. No século seguinte, conheceu diferentes formas e materiais, e tornou-se no acessório indispensável da toilette feminina aristocrática e burguesa, da sociedade portuguesa. Nestes círculos da sociedade, a influência da moda francesa era evidente. 



Sombrinha que pertenceu à Rainha D. Amélia. Renda de agulha de Bruxelas sobre gorgorão de seda azul-clara. Ornamentação floral. Cabo dobrável de tartaruga loira, incrustado de brilhantes (comp. 78,7 cm). A segurança de ligação do cabo é feita por peça metálica com a legenda: "Kermesse - Maio 1888". Cordão e duas borlas de seda azul-clara. 
Maria Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.

Sombrinha que pertenceu à Rainha D. Amélia, com estojo forrado exteriormente de cetim cor de marfim e interiormente de cetim e veludo do mesmo tom, apresenta no tampo as armas reais da Família de Orléans e Bragança, encimadas pela coroa.
Maria Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.


A variedade de sombrinhas existentes no século XIX, possibilitava a sua utilização nas mais variadas ocasiões. Entre os anos 30, e meados da década de 60, do mesmo século, distinguem-se as sombrinhas de cabo de dobrar, de pequenas dimensões, ideais para os passeios em carros de cavalos.

Sombrinha de renda em trabalho de bilros, de Bruxelas (séc. XIX). Ornamentação de motivos florais. Sombra de seda lilás, forrada a seda branca. Cabo dobrável, em marfim trabalhado (comp. 55 cm). Uma peça metálica decorada com folhas e flores, serve de segurança na articulação do caboMaria Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.

Sombrinha de renda em trabalho de bilros, de Bruxelas, com cabo articulado de marfim trabalhado ligeiramente curvo na extremidade. Peça metálica trabalhada, na articulação do cabo. Transferência do Museu Nacional dos Coches para o Museu Nacional do Traje e da Moda .    MatrizNet

Sombrinha de renda "dentelle d'Irlande" em crochet finíssimo, a imitar o ponto rosa da renda de Veneza (século XIX). Sombra de seda cor de marfim, com forro em seda do mesmo tom, rematado por galão franjado. Cabo dobrável em marfim trabalhado, com peça metálica de segurança decorada e com a legenda: "Boulevard des Italiens - Cazal - Paris" (comp. 60,7 cm). Da pequena ponteira de marfim, pendem duas borlas suspensas de um cordão. Oferecido ao museu por Beatriz Cinatti Batalha Reis. Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.



Cabo de dobrar, varetas e cobertura, são os elementos que constituem as sombrinhas deste grupo. O primeiro elemento: o cabo. Trabalhado em marfim, coral e madrepérola, distingue as sombrinhas mais elegantes; a madeira ou o marfim liso, são usados nos modelos mais simples. O metal é também utilizado desde o início do século XIX. 


 Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; 30 de Junho de 1852. Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal 

Correio das Damas
Chapéo de palha d'arrôz. Vestido de tafetá. Mantelete de cassa. - Chapéo de palha e clina. Saia de tafetá......... (?)
Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; 30 de Junho de 1852. Biblioteca Nacional de Portugal

Correio das Damas: jornal de literatura e de modas;. "Modas. Toilettes diversas"; 30 de Junho de 1852, pág. 143. Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal.

No Correio das Damas, de 30 de Junho de 1852, página 59, pode ler-se:

Modas. 
Toilettes Diversas.

Toilette de passeio. - Chapéo franzido de grôdenaple branco ornado de plumas e fitas da mesma côr. - Vestido de seda de furta-côres, guarnecido em roda da saia de quatro ordens de folhos recortados a ferro. Corpo áAmazona, aberto até á cintura. Mangas largas, e sobmangas de tulle bordada. Luvas brancas. Chapéo de sol de seda branca. Botinhas da côr do vestido.
                      (...) 
Dita. - Chapéo de palha de arrôz, ornado de flores. Vestido côr de óca queimada, de tafetá de Itália, guarnecido em roda da saia, de tres ordens de folhos, ornados de um festão de flores, estampados na mesma seda. Corpoliso e afogado aberto até ao meio do peito. Mangas largas e sobmangas de tulle bordada. Camizeta de cambraia bordada. Mantelete de cassa bordado e guarnecido de uma larga renda. Luvas côr de cana. Chapéo de sol de seda branca. Botinhas pretas.
                     (...) 
Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; "Modas. Toilettes diversas". 30 de Junho de 1852, pág. 143. Biblioteca Nacional de Portugal

O segundo elemento a considerar na constituição da sombrinha: as varetas. O material utilizado na sua fabricação é diferençado: as barbas de baleia ou aço destinam-se às sombrinhas de melhor qualidade; nas de qualidade inferior, as varetas são de cana.  

Uma Vista do Passeio Público; óleo sobre tela (97 cm x 130,5 cm); 1856; Romantismo. Autor: Leonel Marques Pereira. - Palácio Nacional da Pena MatrizNet.
(...)
“Nesse grupo, destaca-se ao centro a figura do rei D. Fernando II, alto, esguiu e elegante, trajando fraque castanho, calças brancas e chapéu alto. Junto à personagem central e trajando uniforme militar, o seu ajudante de campo, o conde de Campanhã, sendo as outras duas figuras masculinas que compõem este núcleo central, Almeida Garrett e o Marquês de Ávila e Bolama. (...) As damas surgem representadas com um conjunto de coloridos trajes e amplas saias que fazem adivinhar por baixo os saiotes e as crinolinas em oposição aos corpetes justos e decotados. As capas, os chapéus e as sombrinhas constituem o natural complemento de toilette”.


Sombrinha de seda de cor bege, rematada por folho em renda de bilros (séc. XIX). Forro acetinado em cor-de-rosa forte. Cabo dobrável, em marfim trabalhado (comp. 61 cm). A segurança de ligação do cabo é de latão cinzelado, com motivos ornamentais. O seu formato lembra de certo modo, a forma dos pagodes chinesesOferecido ao museu por Beatriz Cinatti Batalha Reis. Maria Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.

Praia de Banhos, Póvoa de Varzim; óleo sobre tela; 1884. Autor: João Marques de Oliveira.  Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea. MatrizNet
"No 
areal da praia nortenha, à direita, um grupo de senhoras: uma de pé e outras duas sentadas em cadeiras de madeira, com vestidos em rosa, cinzento e violeta, usando chapéus e sombrinhas abertas que as protegem do sol". 


Renda para sombrinha (século XIX). Renda "blonde" espanhol, de cor preta. Composição floral disposta em sentido radiado. Oferecido ao museu por Beatriz Cinatti Batalha Reis. Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.

Na praia, 1907; fotografia (9 x 12); negativo de gelatina e prata sobre vidro; fotógrafo: Benoliel, Joshua.1873-1932. Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. 
Seróes: revista mensal ilustrada, nº 4, Julho de 1901, pág. 255 - CML Hemeroteca Digital


O último e muito importante elemento da sombrinha: a cobertura. O tecido de seda, liso ou lavrado, em todos as cores e variedade de tons,  é amplamente utilizado. A sombrinha de seda lisa, revestida de renda preta ou branca, é símbolo de elegância e distinção. Particulariza-se a cobertura rematada com aplicação de larga franja; realizada em seda escocesa; e a guarnecida de penas. Muitas delas eram forradas de seda branca. Quanto ao formato da cobertura destacaram-se dois tipos: um em forma de cúpula e o outro em forma de pagode, por influência dos objectos exóticos oriundos do Extremo Oriente.

Praia de Cascais, (1906); aguarela sobre papel; 24 x 16,5 cm. Autor: D. Carlos de Bragança. (1863-1908). Composição representando senhora de costas, na praia.  Veste saia comprida e chapéu; sobre o ombro segura uma sombrinha fechada. Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves. MatrizNet

Sombrinha de tule e tecido bordado; 1900. Material: fio de seda branco; seda creme; bambu, metal pobre dourado; metal pobre prateado.Técnica:tule mecânico branco; tecido bordado; tafetá; mousseline; metal relevado. Altura: 98 cm; diâmetro: 86,5 cm. "Sombrinha de tule mecânico branco com bordado a fio de seda da mesma cor, formando decoração floral, vegetalista e geométrica. Sombra de tafetá de seda creme. Folhos do mesmo tule bordado e de mousseline de seda. Cabo de madeira de bambu, arqueado na parte superior, com aplicação de cabeça de cisne de metal pobre dourado com decoração incisa e relevada. Armação e varetas de metal pobre prateado". Doação - José Manuel Mendes Martins. Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet

Retrato de Maria Cristina Bordalo Pinheiro; óleo sobre tela; 1912. Autor: Bordalo Pinheiro, Columbano. "Retrato de uma sobrinha do pintor, jovem mulher sentada a corpo inteiro, trajando elegantemente à moda dos anos 10. Tem o corpo virado para a direita mas olha na direcção contrária, usando um longo vestido branco, chapéu com faixa preta esegura na mão direita uma sombrinha vermelha e branca. Numa mesa a seu lado, vêem-se um samovar de cobre, brilhando, uma chávena e um bule prateado, sobre um fundo castanho nebuloso" . Doação - Emília Bordalo Pinheiro, viúva do artista. Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte ContemporâneaMatrizNet

Capa da revista Ilustração Portuguesa, nº 25, de 13 de Agosto de 1906, 2ª série. Hemeroteca Digital



Seróes: revista mensal ilustrada, nº 72, Junho de 1911, pág. 477 - CML Hemeroteca Digital

Chronica da Moda
(...)
Um complemento gracioso, alem de indispensavel para uma toilettede verão, é sem duvida uma bonita sombrinha. Algumas são um verdadeiro mimo de bom gosto, em linho branco, com bordado inglez, reunindo á beleza o serem tambem muito praticas o que não succede com as de seda, que a não serem muito boas, são de pouca duração. Nos cabos, uns grandes laços de velludo preto tem novidade. Para mais toilette, as de renda sobre seda, são tambem de bom gosto. 
(...) 
Seróes: revista mensal ilustrada, nº 72, Junho de 1911, pág. 478 - CML Hemeroteca Digital

Sombrinha de seda branca bordada; 1918-1920. Material: seda branca; vidrilhos; missangas e madeira. Comprimento: 64 cm. "Sombrinha com pano em tafetá de seda branca bordada com missangas e vidrilhos da mesma cor, formando motivos florais. Forro em tafetá de seda branca. Cabo e ponteira torneada de madeira clara. Varetas de metal pobre dourado". Doação - Elina de Moraes Sarmento de Moura Mattosa. Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet

O gosto pelos artigos exóticos oriundos do Extremo Oriente, cresceu na Europa a partir da segunda metade do século XIX, levando à importação de sombrinhas, entre outros objectos nipónicos. Esta preferência manteve-se durante as duas primeiras décadas do século XX.


Dama nobre do Japão com sombrinha de papel (em cima, lado direito). "Ilustração Portuguesa", nº 25, 13 de Agosto de 1906; 2ª série. - CML, Hemeroteca Digital


Sombrinha; papel pintado, fibra vegetal e fio de algodão. Origem: China. Início do século XX. Comp. 71 cm; diâm. 68,5 cm. Museu Nacional do Traje e da Moda. Doação - Maria Fernanda Rosado. - MatrizNet 

Sombrinha Chinesa; século XX. Material: Papel pintado; bambú. Diâmetro: 51,5 cm; comprimento: 70,6 cm. "Sombrinha Chinesa em pano de papel pintado de azul, imitando a técnica de batik. Varetas de madeira pintadas de preto no exterior e de cor natural pelo interior. Ponteira de madeira forrada de papel de lustre preto. Cabo de bambú de cor natural com manchas castanhas". Doação - Germana Martins da Ponte Rodrigues. - Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet

Sombrinha (Wagasa) de produção artesanal (1868-1926). Origem: Japão. Materiais: papel "washi" de fabrico tradicional japonês colorido por técnica de gravura (?); uma vara de bambu; setenta e duas varetas de bambu; madeira não identificada pintada. Museu dos Biscainhos. Doação de António Cerqueira Queiroz, "Casa da Ponte", de Arcos de Valdevez.MatrizNet

A sombrinha "wagasa" de produção artesanal japonesa, implicava um processo de fabrico bastante difícil, o que exigia cerca de uma dezena de artífices a trabalhar na execução de cada peça, durante vários meses. Nos artefactos destinados ao abrigo da chuva, era indispensável a impermeabilização do papel através da aplicação de lacas, entre outros produtos. Na Ásia, o papel e a seda foram usados abundantemente na confecção de sombrinhas e guarda-sóis. Um exemplar japonês pertenceu a uma dama portuguesa de Arcos de Valdevez (imagem em cima).


Desenho (Sem título); Guache; Aguarela; Grafite e Tinta da china; sobre papel. Data: 1922. Dimensão 25 x 18 cm. Autor: Bernardo Marques.  Museu Calouste Gulbenkian 

Sombrinha de cetim de seda pretaArt Déco (1920-1930). Diâmetro: 61 cm; comprimento: 55 cm. "Sombrinha com pano cortado aos gomos de cetim de seda preta e cetim de seda branca, guarnecido com largo folho franzido e pespontado de cetim de seda branca. Cabo em forma de "L", de secção quadrangular, em galatite branca, terminando em galatite branca e amarela nas extremidades. Ponteira de madeira pintada de preto. Varetas de metal pobre pintado de preto com terminações esféricas de galatite preta". Doação - Maria Elisa Metelo. Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet

Figurino para Elisa Doolitte do musical peça "My Fair Lady" ; guache sobre papel (2002). Autor: Victor Pavão dos Santos. "Figurino para Elisa Doolittle (5) (Anabela) do musical "My Fair Lady", uma produção de Filipe La Féria no Teatro Politeama em 2002. Figurino feminino com vestido comprido branco com pintas pretas. A parte de cima do vestido é constituído por uma grande gola que também fazem de mangas, muito cintado abrindo depois da cintura. Saia justa, comprida e com ligeira cauda. Na cintura duas roas vermelhas. Usa um manguito branco com pintas pretas e decorado com rosas. Segura uma sombrinha branca e preta. Na cabeça um enorme chapéu também decorado com rosas. No canto superior direito está indicado que se trata do traje para ser usado em Ascot."  Doação - Victor Pavão dos Santos - Museu Nacional do Teatro. MatrizNet. 

Após as duas  primeiras décadas do século XX, a prática do  desporto e a moda da pele bronzeada, fazem da sombrinha (guarda-sol) um acessório votado ao esquecimento.


Revista Ilustração, nº 53, 1 de Março de 1928; pág.: 33. Em baixo, à direita - sombrinha em musselina de dois tons, estampada e trabalhada. Criação Vedrenne. CML, Hemeroteca Digital

Revista Ilustração, nº 60, 16 de Junho de 1928; pág.: 33. "Hipismo e elegâncias - Na nossa página arquivamos os mais belos documentos das últimas provas hípicas internacionais, não só sob o ponto de vista puramente desportivo, mas também sob o ponto de vista de elegância pois que o Concurso Hípico foi uma verdadeira parada de luxo e bom gôsto, distinguindo-se, na aristocrática exibição, os modelos de "toilettes" da célebre criadora de modas Mme Valle, com chapéus de TáTá, e que reproduzimos na nossa página à direita." CML, Hemeroteca Digital

Sombrinha de tecido estampado; 1920. Material: Algodão creme; madeira; metal; tecido estampado. Diâmetro: 72 cm. "Sombrinha com pano em tafetá de algodão creme estampado com decoração floral em tons policromos. Cabo de madeira com pega cilíndrica de madeira com decoração floral e geométrica incisa e pintada de verde e vermelho. Ponteira de madeira. Varetas de metal pobre pintado de preto com terminações em plástico (baquelite?) vermelho" . Doação - Maria Luisa Seabra Dinis. Museu Nacionaldo Traje e da oda. MatrizNet

Sombrinha de tecido estampado; 1920. Cabo de madeira com pega cilíndrica de madeira com decoração floral e geométrica incisa e pintada de verde e vermelho.Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet


Na literatura portuguesa, mais concretamente na obra Os Maias, de Eça de Queiroz (1845-1900),  os objectos intervêm na acção, assumindo importância e destaque. 

No excerto do livro (em baixo), tem protagonismo um objecto: sombrinha escarlate... 



(...)
Daí a dias, Afonso da Mais viu enfim Maria Monforte. (...) Maria,abrigada sob uma sombrinha escarlate, trazia um vestido cor-de-rosa cuja roda, toda em folhos, quase cobria os joelhos de Pedro sentado ao seu lado: as fitas do seu chapéu, apertadas num grande laço que lhe enchia o peito, eram também cor-de-rosa: e a sua face, grave e pura como um mármore grego, aparecia realmente adorável, iluminada pelos olhos dum azul sombrio, entre aqueles tons rosados. (...) Iam calados, não viram o mirante; e, no caminho verde e fresco, a caleche passou com balanços lentos, sob os ramos que roçavam a sombrinha de Maria. O Sequeira ficara com a chávena de café junto aos lábios, de olho esgazeado,  murmurando:  
- Caramba! É bonita! 
Afonso não respondeu: olhava cabisbaixo, aquela sombrinha escarlate, que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia, parecia envolvê-lo todo - como uma larga mancha de sangue alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.
 QUEIROZ, Eça - Obras de Eça de Queiroz - Os Maias. Edição Livros do Brasil, Lisboa ( págs. 29 e 30)


Fontes:

SIQUEIRA, Laura Viana -  "Sombrinhas": Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches . Lisboa: Ministério da Comunicação Social. 1976.
VIEIRA, Joaquim - Portugal século XX : crónica em imagens . 1ª ed. [Lisboa] : Círculo de Leitores, imp. 1999.

QUEIROZ, Eça - Obras de Eça de Queiroz - Os Maias. Edição Livros do Brasil, Lisboa

http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/index.htm

http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Home.aspx

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/

https://gulbenkian.pt/museu/

http://www.bnportugal.pt/

O leque em Portugal



Leque em marfim relevado, com medalhão pintado, e recortada no  marfim a legenda " Viva o Príncipe Regente de Portugal". Data: 1799. Materiais: marfim; seda; metal e madrepérola. 
Transferência do Museu Nacional dos Coches para o Museu Nacional do Traje e da Moda. (MatrizNet)


Leque comemorativo. Trabalho chinês, "brisé", em marfim arrendado, com aplicação de fita de seda branca. No centro, pintado, medalhão com o retrato de D. João VI e recortada no  marfim a legenda " Viva o Príncipe Regente de Portugal". Altura: 20cm. 
Cagigal e Silva, M. Madalena (1976) "Leques", Ensaios nº 1.Museu Nacional dos Coches.  Ministério da Comunicação Social: Lisboa 


Leque é um objecto constituído por um conjunto de varetas, sobre as quais é aplicada uma folha pregueada, na parte superior. O "colo", em geral ornamentado, é formado pela parte inferior das varetas, reunidas por um eixo, que possibilita a mobilidade. 


O leque quando fechado é protegido pelas duas varetas das extremidades laterais, frequentemente ornamentadas, designadas por "guardas".



Leque com folha dupla em pergaminho pintado em tons policromos, dourado e prateado. Representação de uma cena galante, inserida numa reserva ladeada por motivos decorativos. Colo e varetas de marfim e madrepérola, com decoração vazada e gravada. Século XVIII. Largura: 27,8 cm. - Palácio Nacional da Ajuda (MatrzNet).




Colo e varetas de marfim e madrepérola, com decoração vazada e gravada

(...) 
Leque. Abano. Está agora averiguado que a etimologia do vocábulo é o nome geográfico – Lieu Khieu em chinês,Léquios ou Ilhas Léquias dos nossos cronistas – de um arquipélago situado ao sul do Japão. Dizia-se a princípio «abano léquio», mas depois ficou substantivado o adjectivo, como tantos outros análogos.(...)1551. - "Por retorno do presente lhe mandou (o Rei de Bungo) armas ricas, e dous treçados douro, e cem abanos Lequios". –Fernão Pinto, Peregrinação, cap. 225. 
(...)
Glossário luso-asiático, Parte 1 (pág. 522).
Sebastião Rodolfo Dalgado Buske Verlag, 1982 
Helmut Buske Verlag Hamburg


Leque "squelette" de folha dupla de seda pintada e com aplicações policromadas de lantejoulas e vidrilhos. Varetas de marfim recortado, gravado e pintado. Representa uma cena galante de exterior dentro de cartela ondulada com motivos geométricos. As varetas são ornamentadas com motivos geométricos e flores. Comp. 27 cm. Século XVIII.  Cagigal e Silva, M. Madalena (1976) "Leques", Ensaios nº 1.Museu Nacional dos Coches.  Ministério da Comunicação Social: Lisboa 

Leque de folha dupla em papel pintado. Varetas de madeira recortada com pintura dourada e policromia. A folha apresenta motivos historiados em vários medalhões e ornatos figurados. As varetas são ornamentadas por motivos fotomórficos. Comp. 27,4 cm. Século XVIII. Cagigal e Silva, M. Madalena (1976) "Leques", Ensaios nº 1.Museu Nacional dos Coches.  Ministério da Comunicação Social: Lisboa 



Leque constituído por duas folhas estreitas de papel pintado em ambas as faces, com colo largo e varetas de madrepérola, arrendadas, pintadas a ouro e policromadas. As folhas são decoradas por cenas campestres e galantes, onde se notam senhoras vestidas "à la polonaise", e aves empoleiradas em ramos. O colo é ornamentado por aves e ramos de flores inscritos em cartelas com motivos vegetais. Comp. 29 cm. Século XVIII. Cagigal e Silva, M. Madalena (1976) "Leques", Ensaios nº 1.Museu Nacional dos Coches.  Ministério da Comunicação Social: Lisboa 


O leque pregueado ou de varetas, é utilizado na Europa a partir do século XVI, tendo sido o seu uso introduzido pelos portugueses, devido ao seu contacto com a China e Japão, durante a época dos Descobrimentos.

(...)
Do Japão vieram-nos no século XVI o leque, chamado origináriamente abano-léque (léquio).Lequio é adjectivo topográfico, relativo às IlhasLíuquias, ao sul do Japão, berço dêsse produto industrial. Assim o registou Fernão Mendes Pinto, o das Peregrinações, injustamente difamado pela fórmula humorística Fernão Mentes? Minto! mas hoje plenamente reabilitado pelas indagações de viajantes modernos. Vid. Gonçalves Viana, Apostilas s. o leque
(...)
Lições de filologia portuguesa, Volume 1 (pág. 317) 
Carolina Michaëlis de Vasconcellos (1851-1925) 
Edição da Revista de Portugal, 1911 – Lisboa 

A França toma a dianteira, na moda do leque na Europa Ocidental durante o século XVIII. Obra de arte de extremo requinte, o leque é acompanhado de materiais preciosos (marfim, sândalo, madrepérola, tartaruga, prata...), empregados nas varetas, e de materiais requintados (seda, cetim, plumas, penas...) aplicados na sua folha.



Leque fabricado na China (1850-1860). Varetas, colo e guardas em madeira lacada e pintada de dourado. Folha em papel pintado com representação de chineses com trajes de seda. Caixa de madeira pintada e lacada. Altura 28 cm; largura: 52 cm. - Museu Nacional do Traje e da Moda (MatrizNet)



Leque chinês. Folha dupla de papel pintado em ambas as faces, com aplicações de marfim e tecido, e varetas de charão. Representação de cenas da corte e drama de teatro. Comp. 29,2 cm. Século XIX; Macau. Oferecido ao Museu por Beatriz Cinatti Batalha Reis. Cagigal e Silva, M. Madalena (1976) "Leques", Ensaios nº 1.Museu Nacional dos Coches.  Ministério da Comunicação Social: Lisboa 




Leque chinês de folha dobrável "Zhe shan", da tipologia Mandarim ou Mil Faces, em Portugal conhecido como "Leque de Cabecinhas". Ângulo de abertura de cerca de 240º. Folha dupla em papel de arroz pintado a guache, bordejada na parte superior por filete de papel dourado. Duas guardas e catorze varetas em madeira lacada a negro com pintura em dourado. Representação de cenas da vida social, com quarenta figuras masculinas e femininas, organizadas em grupos, sentadas ou de pé, em ambiente de ar livre. Algumas figuras seguram leques e ventarolas. Fabricado na China/Cantão. Data: 1821-1850. Dinastia Qing. Reinado Daoguang. Doação de Maria Delfina Gomes S. M. de Sousa Cardoso - Museu dos Biscainhos (MatrizNet)


 (...)
       19 de Novembro (segunda feira). 
Modas francezas. -  Refere Mylord Bolingbroke que no tempo do famoso Colbert custavão á Inglaterra as maravalhas do luxo francez 5OO a 600,000 libras esterlinas por anno (o que anda por 2700 contos de réis), e o mesmo proporcionalmente ás outras nações. De então para cá tem consideravelmente augmentado a exportação de todos os objectos de luxo das fabricas francezas. Só Paris exporta por anno 75,000 colletes de barbas, que rendem um milhão de francos, toucas e chapéus de senhora por mais de 5 milhões, flores artificiaes por uns dous milhões, e leques por um milhão.
          (...) 
           Almanach de lembranc̜as Luso-Brazileiro para o anno            de 1855 (pág. 372).
         Imprensa de Lucas Evangelista, Lisboa, 1854.
       
Leque, Rainha D. Amélia. Guardas, varetas e colo de tartaruga. Folha de tecido pintado à mão, com reservas em cartelas pintadas em tons policromos sobre fundo branco, representando cenas campestres. Altura: 29 cm; largura: 55 cm. Século XIX. Assinado: Lluvelleux. - Transferência do Museu Nacional dos Coches para o Museu Nacional do Traje e da Moda. (MatrizNet).



No reverso do leque, sobre fundo branco, monograma pintado a azul encimado por coroa real pintada a dourado.


Leque oferecido à Rainha D. Amélia (comemorativo da presença dos monarcas numa tourada real em Madrid, 16 de Novembro de 1892). Leque em marfim, papel pintado a tempera, metal branco e pedras preciosas. No anverso, tem pintados os retratos dos toureiros espanhóis Lagartijo, Mazzantini e Guerrita, em molduras circulares, entre atributos tauromáquicos. A primeira guarda, em marfim, tem encastradas pedras preciosas, representando a coroa real. Altura:36 cm; largura: 67 cm. Autor: Bach M. - Museu Nacional dos Coches (MatrizNet).

XVIII       Dezembro    1847.
                     (...)
   9 - Portaria declarando os direitos que devem pagar os leques importados das nossas Colonias .........................Pag. 518

     (...)                    
  Tendo sido presente a Sua Magestade a Rainha, a Consulta a que procedeu a Commissão permanente das Pautas, em 15 de Setembro proximo preterito, sobre o Requerimento de Jeronymo Elias dos Santos, que pede lhe seja admittida a despacho na Alfandega Grande de Lisboa, uma partida de leques que mandou vir de Macáu, pagando sómente o direito de cinco mil réis por arroba, que a Pauta Geral estabelece para os leques com varetas de páo, e não o de novecentos réis em arratel, que lhe exigem, e é o direito marcado para os que vem de Paiz estrangeiro; e Conformando-Se a Mesma Augusta Senhora com o parecer emittido na dita Consulta, c com a resposta do Conselheiro Procurador Geral da Fazenda, que foi ouvido sobre a materia; Houve por bem declarar, em virtude da authorização concedida ao Governo pelo artigo 22º dos preliminares da Pauta, que assim como os leques com varetas de páeram omissos na dita Pauta, antes da Portaria de 7 de Julho de 1843, publicada no Diario do Governo Nº 162 de 13 do referido mez, pela qual ficaram obrigados ao direito geral de novecentos réis em arratel, tambem é omissa a necessaria declaração relativamente aos mesmos leques das nossas Possessões, os quaes deverão por tanto pagar por entrada o direito de trezentos réis em cada um arratel; sendo esta declaração opportuna e convenientemente inserta na Pauta. O que, pela Secretaria d Estado dos Negocios da Fazenda, se communica ao Director da Alfandega de Lisboa para sua intelligencia, e effeitos necessarios.
   
Paço das Necessidades, em 9 de Dezembro de 1847. - Marino Miguel Franzini. - Para o Director da Alfandega Grande de Lisboa. ( 1) No Diario do Governo de 18 de Dezembro Nº 299.
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(1) Identicas se expediram na mesma data a todos os Chefes das Alfandegas marítimas do Continente do Reino e Ilhas Adjacentes; dando -se conhecimento desta resolução ao Tribunal do Thesouro Publico, e áCommissão permanente das Pautas.
  
 Colecção oficial de legislação portuguesa 
Imprensa nacional, 1846

N. B. O texto acima é da época do reinado de D. Maria II de Portugal (1819-1853), que reinou por dois períodos diferentes, primeiro entre 1826 e 1828, e depois de 1834 até à sua morte.  




Leque, Rainha D. Maria Pia. Leque com folha formada por 18 penas de avestruz. Colo estreito com varetas e guardas de tartaruga loira. Na parte superior da guarda da frente o monograma coroado "M P" (Maria Pia), em ouro cravejado de brilhantes e rubis. Eixo com argola de ouro cravejada de diamantes. Comp. 45 cm. Data: 1862-1910. Caixa com marca do fornecedor: Joillerie, Marroquinerie BOUDET; França. Paris, 43 Boulevard des Capucines - Palácio Nacional da Ajuda (MatrizNet)


Monograma coroado "M P", em ouro cravejado de brilhantes e rubis. 

Caixa com marca do fornecedor


(30 de Setembro) 1851.        Pag. 361
   Direcção Geral das Alfandegas e Contribuições indirectas.

       Tendo sido presente a Sua Magestade a RAINHA o processo que teve logar ácêrca do despacho proposto na Alfandega Grande de Lisboa por Dubena, de uma caixa com a marca BD n.º 1, contendo setenta e nove leques, que os respectivos Verificadores classificaram como omissos na Pauta; e Conformando-Se a Mesma Augusta Senhora com o parecer do Director Geral das Alfandegas e Contribuições indirectas, emittido de accôrdo com o da Commissão permanente das Pautas, dado em Consulta de 14 de Maio ultimo: Ha por bem Ordenar, usando da authorisação que foi conferida ao Governo pelo artigo 22.º dos preliminares a Pauta Geral das Alfandegas, que os leques de que se trata, paguem os direitos, por entrada, na razão de novecentos réis em arratel, e por sahida, cinco réis, que foram estabelecidos pela Portaria de 7 de Julho de 1843 para os leques com varetas de páo, e pannos de papel pintado de todas as qualidades, com os quaes têem maior analogia, sendo aquelles opportunamente insertos na classe 25.º da Pauta, similhantemente ao que para estes fôra determinado pela citada Portaria de 7 de Julho. O que se participa ao Conselheiro Director da referida Alfandega para sua intelligencia e devida execução. 
    Paço, em 30 de Setembro de 1851. - Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello. - Para o Conselheiro Director da Alfandega Grande de Lisboa. (1) No Diario do Governo de 3 de Outubro, N.º No 233.(...)
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  (1)  Na mesma data se fez a conveniente participação á Commissão permanente das Pautas
Colecção oficial de legislação portuguesa 
Imprensa nacional, 1852

N. B. O texto acima é da época do reinado de D. Maria II de Portugal (1819-1853), que reinou por dois períodos diferentes, primeiro entre 1826 e 1828, e depois de 1834 até à sua morte. 



Leque D. Maria Pia e D. Carlos de Bragança. Folha dupla de seda pintada e armação em marfim, formada por colo e 14 varetas. O colo tem gravadas ao centro as armas da aliança Portugal e  Sabóia. Um dos lados da folha tem uma pintura com representação de aves, a assinatura da Rainha D. Maria Pia, encimada por coroa real. Do outro lado, uma pintura com navio e a assinatura "Carlos 1881".Eixo com argola de ouro e diamantes. Altura:27,5 cm; largura: 50 cm.  - Palácio Nacional da Ajuda (MatrizNet).


O colo tem gravadas ao centro as armas da aliança Portugal e  Sabóia. 


Leque comemorativo (1886). Guarda, colo e varetas de osso. Folha com cetim de seda creme estampado, representando o Principe D. Carlos e a Princesa Amélia e respectivas armas reais. Inscrição: Festa da Industria Portuguesa por ocasião do do Feliz Consórcio de Suas Altezas Reais. Altura:27 cm; largura:52,2 cm. - Museu Nacional do Traje e da Moda (MatrizNet)

                     (...)
       MARÇO - 23
Leques. -  Segundo se crê foi sob o céu poético da Grécia que o leque teve a sua origem, e os ramos de myrtho e de acassia, e as folhas elegantemente recortadas do platano oriental forão os leques primitivos. Com os pavões, que começaram a ser conhecidos na Grécia no quinto século antes de Jesu Christo, vierão os leques pennas de pavão, e esta moda foi anciosamente buscada damas gregas   Mais tarde ainda as pennas do pavão forão as preferidas para esta especie de adorno, porque nas collecções de vestidos modas dos differentes povos do mundo durante a idade média, vêem se os leques de pennas de pavão usados pelos lombardos.  Á rainha Izabel, de Inglaterra, offereceram pelo Anno Bom um leque guarnecido de diamantes. Balzac, diz que no seu tempo (1650) havia leques na Italia que cançavão os braços quatro escudeiros. ( A. 54, p. 288)(...) 

Almanach de lembranc̜as Luso-Brazileiro para o anno de 1863 (pág. 138)Sociedade Typographica Franco-Portugueza, Lisboa, 1862. 

Leque "brisé", constituído por onze varetas e duas guardas em madeira. As varetas são em madeira escurecida, gravada e dourada, com decoração de motivos florais, vegetalistas e geométricos. O conjunto é reunido na parte superior por fitilho de seda. Pelas dimensões reduzidas e a decoração deste leque, pode integrar-se no estilo Império. Em Portugal estes diminutos leques designavam-se de "Marotinhos". Altura:17,7cm; largura:25 cm. Data: 1804-1815. Executado na Europa. Doado ao museu por Maria Delfina Gomes S. M. de Sousa Cardoso - Museu dos Biscainhos (MatrizNet


Leque de luto, com folha de seda preta transparenta, decorada com lantejoulas. Varetas e guardas em madeira com decoração floral gravada. Largura: 24 cm. Século XIX - XX. Este leque estava no quarto de dormir da rainha D. Maria Pia, de acordo com o Arrolamento do Paço da Ajuda, em 1911. - Palácio da Ajuda (MatrizNet).



Leque de folha dobrável em formato "grand-vol", constituído por armação com quinze varetas e duas guardas lisas, em madeira preta. A folha é confeccionada em tecido estampado em policromia, sobre fundo negro, com temática floral. O colo é realizado em madeira negra, com decoração em pintura dourada. Este exemplar "grand-vol", pode ser  integrado no movimento temático da Belle Époque, pelos elementos naturalistas com predominância floral. Altura:36,8 cm; comprimento 66,5 cm. Data: 1890-1910. Executado na Europa. Doado por Maria Delfina Gomes S. M. de Sousa Cardoso - Museu dos Biscainhos(MatrizNet)


A época e a moda, definem as dimensões dos leques e as proporções existentes entre o colo e a folha do mesmo leque. Os leques europeus usados entre os séculos XVI e XX, destinam-se normalmente às pessoas de classes elevadas, principalmente da nobreza. 

O uso e manejo do leque, integrava os livros de boas maneiras. Destinado a refrescar, ele também servia uma linguagem simbólica, que incluía a dos namorados; ocultava o estado de espírito da sua possuidora; ele ajudava-a a manter a serenidade que lhe era exigida.




Leque com guardas e dezassete varetas, em marfim. Guardas com decoração vazada e relevada formando motivos florais e geométricos. As varetas recortadas, são unidas por fita de seda. Altura: 23,5 cm. Data: 1870-1880. Doado pela Condessa de Farrobo - Museu Nacional do Traje e da Moda (MatrizNet)



Leque "brisé", constituído por uma armação de dezassete varetas e duas guardas, em marfim vazado, gravado, recortado e perfurado, reunidas na parte superior por fitilho em seda. Medalhões perfurados com decoração vegetalista, debruada a "piqué" prateado (técnica de inserção de materiais nobres a quente).  Altura: 21 cm; largura: 38 cm. Data: 1825-1835. Doado por Maria Delfina Gomes S. M. de Sousa Cardoso - Museu dos Biscainhos (MatrizNet)



Leque com folha em renda de bilros, formando motivos florais. Guardas e colo em marfim inciso e vazado, pintado. Varetas em marfim. Altura 22 cm; larguta 41 cm. Data: 1890-1900. Doado por Maria da Conceição Ramalho Ornelas. - Museu Nacional do Traje e da Moda (MatrizNet)


Durante o século XVIII, os temas mais comuns na decoração dos leques, são as cenas de salão, as pastorais e as cenas campestres, aparecendo algumas vezes as cenas mitológicas. As figuras chinesas são introduzidas na ornamentação do leque, em especial no colo. Prevalecem as composições históricas de temas vários na folha do leque de ambos os lados, em cartelas ou medalhões circulares, ovóides ou rectangulares.
As varetas aparecem ricamente lavradas, e por vezes pintadas. A prata, o marfim, a madrepérola e outros materiais nobres são abundantemente utilizados.



Leque com folha de seda branca partida, formada por palmetas lobuladas, pintadas com motivos fitomórficos e aplicação de lantejoulas. Colo formado por varetas de marfim, arrendado e aplicações de espelhos. A caixa, em papelão, tem forma de palmatória, forrada de papel com motivos dourados e um medalhão oval pintado com motivos florais. Comprimento: 27 cm. Século XIX. Cagigal e Silva, M. Madalena (1976) "Leques", Ensaios nº 1.Museu Nacional dos Coches.  Ministério da Comunicação Social: Lisboa 



Leque "imperceptivel". Folha em seda, pintada e ornamentada com lantejoulas. Representação de uma senhora vestida à época, com uma sombrinha. Varetas de marfim com dourados e decoração vazada. Colo muito pequeno. Comprimento 20 cm. Século XIX. Doação de Matilde Bensaúde. - Cagigal e Silva, M. Madalena (1976) "Leques", Ensaios nº 1.Museu Nacional dos Coches.  Ministério da Comunicação Social: Lisboa 



Leque Império. Folha em seda branca e roxa e tula bordado, com aplicaçãode palmetas, contas e lantejoulas douradas. Varetas, gurdas e colo de tartaruga loira. Altura: 19 cm. Data: 1804-1815. Pertenceu à pianista Eleanor Amsel. Doado por Adelaide Sá Marques - Museu Nacional do Traje e da Moda (MatrizNet)


O aspecto geral do leque vai evolucionar, as varetas aparecem muito separadas, constituindo o leque "squelette", os materiais empregados na folha são mais ricos, optando-se pela seda e o cetim, entre outros. 

No século XIX, assiste-se a uma mudança nos temas de ornamentação dos leques. Os temas históricos são substituídos por motivos florais e geométricos, além de aves. Em Inglaterra no período victoriano, os modelos dificilmente se distinguem dos exemplares do século anterior.


Leque de renda de Chantilly preta, sobre folha de organdi branco e varetas de tartatuga. Comprimento: 24,6 cm. Data: 1860 (Século XIX). Leque usado por Celeste Cinatti Batalha Reis em S. Petersburgo (Rússia) entre 1914 e 1917. Doação de Beatriz Cinatti Batalha Reis. Cagigal e Silva, M. Madalena (1976) "Leques", Ensaios nº 1.Museu Nacional dos Coches.  Ministério da Comunicação Social: Lisboa 


Leque de penas e tartaruga. Folha de penas roxas, pretas e verdes, com pintas e riscas acastanhadas. Varetas de tartaruga e guardas com fecho de encaixar. Caixa de madeira com tampa de correr ornamentada com pintura policromada. Comp. 13,8 cm. Século XIX. Pertenceu a Maria Helena Croft de Moura. Cagigal e Silva, M. Madalena (1976) "Leques", Ensaios nº 1.Museu Nacional dos Coches.  Ministério da Comunicação Social: Lisboa 

 Correio das Damas: jornal de literatura e de modas;1 de Março de 1837, Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal.
Correio das Damas
Vestido de setim ornado de fitas. Vestido de crepe branco guarnecido com duas ordens de folhos de blonde. Manta de veludo guarnecida de pelles.
Correio das Damas: jornal de literatura e de modas;1 de Março de 1837.
 Correio das Damas: jornal de literatura e de modas;. "Modas de senhoras, toilettes diversas"; 30 de Abril de 1852, pág. 128. Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal.

Na parte superior da página 128 (na foto), do Correio das Damas, 30 de Abril de 1852, lê-se:
(...)
Dita de Baile. - Penteado ornado de flores azues-claras e brancas, com folhagem de velludo carmezim. Vestido de setim branco, guarnecido em roda da saia de quatro ordens de tufos de tulle maline. Tunica de tulle. Corpo liso,  e ornado no decote de um rufo igual ao da saia. Mangas muito curtas e enfeitadas com dois rufos como os do corpo, terminando este elegante vestido por um festão de flores iguaes ás da cabeça, o qual começando no hombro direito desce até ao fim da tunica. Braceletes de ouro e corallinas.Léque de madreperola. Çapatos de setim. 
           M. J. M. M. 
O Correio das Damas: jornal de literatura e de modas;. "Modas de senhoras, toilettes diversas"; 30 de Abril de 1852, págs. 127/128.




Leque com folha em penas de ganso selvagem pintadas, com representação de dois pavões e flores. Varetas, colo  e guardas em marfim gravado e dourado com decoração floral. Altura: 20,5 cm; comprimento: 34,5 cm. Data: cerca de 1820.Estojo em cartão, com o exterior forrado em tecido, e interior em papel vermelho. Etiqueta "Luenchun Mother Opearl Ivory and Tortoiseshell Carver N.º 6 New China street."Cantão, produção industrial para exportação. - Palácio Nacional da Ajuda (MatrizNet)


A arte do leque sempre inovadora, cria o leque "brisé". Este é constituído por varetas ligadas entre si na parte superior por uma fita. Este tipo de leque aparece a par dos leques de folha, em criações chinesas muito ricas, em marfim recortado.


No Directório, aparece a moda dos leques pequenos, chamados pelos franceses de "imperceptíveis".

Os leques de estilo Império caracterizam-se pela folha de tule ou seda, ornamentada com lantejoulas e fio ou galão dourado.


Leque chinês, com folha de papel pintado, representando cenas de rua e de interior, e figuras chinesas, com rosto de marfim e indumentária de seda. Guardas e colo de sândalo com decoração vazada e relevada, com motivos vegetalistas e figurativos. Altura: 33 cm. Data: 1870-1880. Doado por Luisa Barroso Crespo - Museu Nacionaldo Traje e da Moda (MatrizNet).


Leque "brisé", com folhas duplas em tecido de seda, pintadas a guache, representando de flores. Dezasseis varetas de madeira lisa, pintadas a tinta de água. Altura: 20 cm; comprimento (guarda): 19,2 cm. Data: 1895-1925. A temática floral da folha é típica do período Arte Nova /Arte Deco. Doado por Maria Delfina Gomes S. M. de Sousa Cardoso - Museu dos Biscainhos (MatrizNet)



Leque de folha dobrável, em tecido de cetim de seda e seda natural, de cor violeta, com aplicação "decoupé" em papel recortado e pintura em guache. Catorze varetas e duas guardas, confeccionadas em madrepérola. Colo em madrepérola baixo relevada, com representação de cartela com dois meninos abraçados (Cúpidos). Altura: 45 cm; comprimento (guarda): 21,7 cm. Data: 1890-1914. A temática floral da folha é típica do período conhecido como  Belle Époque. Doado por Maria Delfina Gomes S. M. de Sousa Cardoso - Museu dos Biscainhos (MatrizNet)

Com a entrada no século XX, as composições integram todos os géneros de temas, embora tenham desaparecido os temas históricos, muito usados nos séculos XVII e XVIII, a "Arte Nova" introduz um leque de bordos mais suaves e ondulantes.


Serões: revista mensal ilustrada, nº 77, Novembro de 1911, pág. 398. -CML, Hemeroteca Digital

SERÕES DAS SENHORAS
  
(...) 
Leques para soirées
Os leques, que ordinariamente acompanham uma toilette de soirée, são quasi sempre de dimensões regulares.
Os modelos antigos, sobretudo o estilo Luís XVI, são os que mais se usam. Alguns são lindos, em tons grisalhos, vieil argent e preto. Leves contornos de lantejoilas prateadas ornam os desenhos, e as varetas são de marfim com frisos pretos.
Este modelo além de bonito é apropriado a todas as idades. Tem-se tentado rejuvenescer o clássico leque de plumas de avestruz, introduzindo várias imitações de menor ou maior fantasia. O lequechiffon é a novidade mais recente, e profetiza-se-lhe um grande sucesso para o próximo inverno.São ainda os reflexos da moda dosvoilages que inspiraram certamente esta nova invenção. As varetas são de madrepérola e o leque é formado em cada vareta, por uma espécie de fôlha estreita, feita de seda furta-côres, guarnecida de uma minuscula renda dourada, e recoberta de uma segunda fôlha de gaze furta-côr tambem, igualmente ornada de renda. No conjuncto o effeito é o mais maravilhôso possivel.
(...) 
Serões: revista mensal ilustrada, nº 77, Novembro de 1911, pág. 398. -CML, Hemeroteca Digital 

Com alguma frequência, as senhoras usavam os leques suspensos da cintura por uma corrente de ouro ou outro material nobre. Mais tarde, a argola foi utilizada para segurar cordão e borla.



Leque, Maria Keil. Folha formada por penas vermelhas e pretas irisadas, sobrepostas. Guardas e varetas de madeira lacada a preto, com decoração de motivos geométricos e vegetalistas incisos e pintados a dourado. Cordão e borla de fio de seda preto. Altura: 36 cm; largura: 58 cm. Data: 1910. Doado por Maria Keil. - Museu Nacional do Traje e da Moda (MatrizNet)


Leque com folha em tafetá de seda (organdi), com decoração floral e vegetalista, com aplicação de missangas e lantejoulas. Guardas, varetas e colo em madeira pintada de branco. Altura: 34,5 cm; largura: 65 cm. Data: 1900-1910. Comprado pelo Museu Nacional dos Coches a Maria Fernanda Pinto Basto Stilwell. Transferido do museu dos Coches para o Museu Nacional do Traje e da Moda ( MatrizNet)
























Leque com folha de tecido verde, pintada, representando motivos florais e geométricos. Varetas e guardas em madeira natural. Altura: 25,5 cm; largura: 30 cm. Data: 1920-1930. Doado por Isolda Lino e Maria Cristina Lino. - Museu Nacional do Traje e da Moda (MatrizNet)


Dos artistas célebres desta modalidade destaca-se "Alexandre - 14 Boulevard Montmartre - Paris, "Faucon - Paris", Duvelleroy - Parss. des Panoramas" ou "Mon. Brasseur - 34, "Rue de Petites Écuries - Paris. Gavarin e Lluvelleux assinaram leques da Rainha D. Amélia.

Em Lisboa, destaca-se a casa portuguesa "A. Enrique - 101, Rua Áurea", especializada em conserto  de leques e limpeza de luvas. 



Folha de leque pintada a aguarela. Século XIX. Projecto de leque atribuído à rainha D. Maria Pia. - Palácio Nacional da Ajuda (MatrizNet)


Leque com decoração de flores (renda de bilros, - estilo moderno). Autora: Maria Augusta de Prostes Bordalo Pinheiro. Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea (MatrizNet).



Estudo para leque. Lisboa: Ponte dos Vapores... Litografia aguarelada, ca. de 1850. Litografia da Rua Nova dos Mártires. Biblioteca Nacional de Portugal 





Cartaz. Fábrica Âncora: licores e cognacs portuguezes, ca. de 1910. Jovem figura feminina, em meio corpo, com leque a fazer de chapéu, onde se escrve parte do anunciado. Biblioteca Nacional de Portugal

O Domingo Ilustrado, nº 2, 25 de Janeiro de 1925, pág. 9; ao lado direito, podem ver-se alguns modelos de leques, com a legenda: "Leques de "paradis", de brocado, de plumas, de "aigrettes", de tudo... As maiores fantasias aparecem , sob o nome leques, nas mãos das parisienses "chics"." - CML, Hemeroteca Digital

Na parte superior da página 9 (na foto), de O Domingo Ilustrado, nº 2, lê-se:



Página feminina - Carta de Paris
(...)                        O leque e a moda
Muito sóbria no seu vestuário de passeio, a mulher moderna assume toda a sua feminina seducção na toilette da noite completada com lindos acessorios. Qualquer que seja o seu vestido, um delicado leque lhe completa a harmonia. Na nossa gravura vêm-se alguns dos typos de leque agora em uso em Paris. 
Celiméne 
 O Domingo Ilustrado, nº 2, 25 de Janeiro de 1925, pág. 9. CML - Hemeroteca Digital

Fontes: 
Museu Nacional dos Coches. Leques (1976). Lisboa: Ministério da Comunicação Social.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_II_de_Portugal
https://books.google.pt/books?id=eKZHAQAAMAAJ
https://books.google.pt/books?isbn=3871184799
https://books.google.pt/books?id=kKwDAAAAYAAJ
https://books.google.pt/books?id=RJ8DAAAAYAAJ&hl=pt-PT&source=gbs_navlinks_s
https://books.google.pt/books?id=AaUvAQAAMAAJ&hl=pt-PT&source=gbs_navlinks_s
https://books.google.pt/books?id=NZUvAQAAMAAJ&hl=pt-PT&source=gbs_book_other_versions
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/index.htm

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