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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Brasil - A contradição da direita conservadora de se dizer contra o crime mas defender valores inspiradores de crimes



Assassinatos em massa e genocídios
Em pleno regime capitalista, mais de 50 mil pessoas morrem assassinadas por ano no Brasil, por causa de um cenário de violência urbana e rural fortemente atrelado, em parte, a problemas originados no capitalismo, como:
• O narcotráfico;
• A exclusão social;
• A carência de perspectivas de vida e de políticas de inclusão;
• A ganância acima da empatia;
• Genocídios indígenas (como o dos Guarani-Kaiowás em Mato Grosso do Sul);
• As mortes por conflitos agrários;
• As mortes por desnutrição.





Violência contra a mulher, homicídios, corrupção… O envolvimento de valores considerados reacionários na inspiração de muitos crimes contradizem os discursos da direita “pelo respeito às leis”
Aviso de conteúdo traumático: contém menções à violência contra a mulher
A indignação contra o crime, da corrupção ao homicídio, e o desejo que ele seja erradicado da sociedade são comuns no discurso conservador, o que inspira demandas como a liberação do armamento civil e a radicalização da violência da Polícia Militar. Mas essa oposição ao desrespeito às leis esconde diversas contradições ideológicas: os mesmos que se dizem contrários à criminalidade estão seguindo e reproduzindo crenças e valores que originam e inspiram uma notável variedade de crimes.
Este artigo foca sete tipos de crimes comuns no Brasil: violências diversas contra a mulher (estupro, feminicídio, agressão doméstica, assédio sexual etc.), crimes de ódio, roubos e furtos, narcotráfico, homicídio, violência policial e corrupção. Em cada um deles, há laços entre o que grande parte da direita brasileira acredita e o que faz com que esses delitos ocorram.

Violência contra a mulher
Em alguns casos muito repercutidos de violência contra mulheres, como o estupro coletivo de uma menina no Rio de Janeiro em maio passado, muitos direitistas assumidos declararam que estupradores devem ser punidos com medidas como castração química, estupro de vingança (por outros detentos) na cadeia ou pena de morte. Mas em nenhum caso defenderam que as causas fundamentais desse tipo de crime sejam combatidas: a misoginia e o machismo.
Essas duas formas de ódio e preconceito contra a mulher, apesar de também serem relativamente comuns entre homens que se dizem de esquerda, encontram frequentemente legitimação e justificação em discursos de direita, desde o patriarcalismo religioso até o reacionarismo de jovens de classe média.
No âmbito religioso, igrejas “cristãs” conservadoras não hesitam em pregar que as mulheres se submetam a seus maridos, mantenham hábitos sociais e domésticos recatados, se reprimam sexualmente antes do casamento e repudiem o feminismo. Paralelamente, respaldam que o homem seria a “criação maior” de Deus – enquanto a mulher seria um “anexo” seu, surgida da costela dele – e, portanto, teria liberdades e poderes diversos que não seriam permitidos que as mulheres tenham, entre eles o de ser o “cabeça” da família tradicional e da sociedade como um todo.
Nesse contexto de doutrinação em prol do supremacismo masculino e da submissão feminina, muitos “cristãos” acabam misturando esses ensinamentos com todo o machismo que absorvem dos outros veículos de propagação de ideologias (televisão, internet, escolas, publicidade etc.).
E dessa mescla explosiva entre o patriarcalismo das igrejas conservadoras e a objetificação e inferiorização de mulheres promovida pela mídia, muitos encontram um universo de “justificativas” para relativizar violências contra a mulher. Quando ocorrem crimes como estupros, feminicídios e casos de assédio sexual, tendem a amenizar, ou mesmo retirar, a culpa do homem criminoso e vilanizar a mulher vitimada, responsabilizando-a pelo crime que ela própria sofreu.
Esse mesmo misto de machismo e misoginia é muito comum em ambientes muito masculinos e conservadores, mesmo laicos, como ambientes de cultura nerd, gamer e geek e panelinhas de garotos em escolas tradicionais que não promovem educação para a diversidade. Esses locais costumam ser apontados como verdadeiros caldeirões de ódio e objetificação sexual contra mulheres e meninas. E paralelamente funcionam, muitas vezes, como focos de crenças e ideias reacionárias, como o culto à personalidade do deputado Jair Bolsonaro e seus filhos e o ódio a movimentos sociais e de defesa dos Direitos Humanos, entre eles o feminismo.
Não é à toa que muitos desses reacionários assumidos, desde pré-adolescentes até adultos em idade madura, também são misóginos. E de sua misoginia, não é raro que culpabilizem e até odeiem as mulheres vítimas de violência sexual e minimizem a culpa dos homens criminosos.
Nesse cenário de religiosidade sem moralidade e fomento à masculinidade agressiva, o conservadorismo exacerbado e o ódio machista-misógino se misturam numa só substância. A impunidade para a grande maioria dos crimes motivados por machismo e misoginia é incentivada e promovida.
Não é de surpreender aqui que a direita brasileira, em sua maior parte, odeie feministas, não esteja interessada em questionar e combater o machismo e a misoginia e, ao invés, defenda demagogicamente punições que não previniriam o surgimento de mais criminosos sexuais. Afinal, esse desprezo à mulher é parte do ideário conservador brasileiro.

Crimes de ódio
Além do machismo e da misoginia, a direita brasileira também carrega, sobre suas costas, o peso de defender valores e crenças que legitimam e “justificam” o alastramento do preconceito e, muitas vezes, ódio explícito contra homossexuais, negros que atuam contra o racismo, pessoas trans, pessoas pobres e membros de movimentos sociais. Por tabela, é possível colocar na conta dela a inspiração de muitos crimes motivados por tais intolerâncias.
É costumeiro, no meio reacionário brasileiro, dizer que racismo, machismo, heterossexismo (ódio contra não heterossexuais), transfobia e pauperofobia (ódio a pobres) “não existem” enquanto problemas de cunho social e coletivo. Nesse contexto, crimes de ódio que correspondem a um ou mais desses tipos são reduzidos a violências cometidas “por seres humanos contra seres humanos”, casos de “humanofobia”, forçando uma igualdade que invisibiliza as desigualdades sociais, regionais, raciais, de gênero e identidade de gênero, de orientação sexual etc.
A grande maioria dos crimes de ódio é simplesmente ignorada pela direita. Aqueles que excepcionalmente conseguem uma repercussão muito grande têm seu agravante de intolerância negado. Ou seja, por exemplo, um homicídio racista, segundo muitos conservadores, não foi motivado por racismo, mas sim um outro motivo qualquer não ligado a intolerâncias – que muitas vezes deságua na culpabilização da vítima.
Com isso, demandas como a criminalização do heterossexismo e da misoginia são enfraquecidas, e discursos de ódio continuam inspirando, sob o acobertamento do reacionarismo, crimes que saem do preconceito verbalizado e partem para a agressão física, a humilhação pública – a qual muitas vezes induz o humilhado a se suicidar – e os atentados explícitos contra a vida.
E falando em atentados, tem sido um crescente motivo de preocupação a iminência e mesmo ocorrência de ataques terroristas, perpetrados por extremistas de direita, contra movimentos sociais, sedes de partidos como o PT e universidades, assim como agressões físicas a pessoas identificadas (verdadeiramente ou não) como sendo de esquerda. Não é imprudente dizer que as mais que numerosas pregações de intolerância a petistas e esquerdistas, a grande maioria feitas impunemente nas redes sociais e em blogs, estão começando a inspirar ataques do tipo.
Exemplos marcantes recentes foram a invasão do campus da Universidade de Brasília, em 17 de junho, por um grupo de ultraconservadores armados, e diversos casos de agressão física contra pessoas vestidas de vermelho em diversas cidades em março passado, nos dias seguintes à condução coercitiva do ex-presidente Lula à Polícia Federal.
Tudo isso nos leva à lamentável conclusão de que a direita conservadora, despindo-se de qualquer moderação e respeito às minorias sociais e aos opositores políticos, está inspirando graves crimes de ódio no país. E seus formadores de opinião não parecem se incomodar com isso.

Roubos e furtos
Ao contrário dos crimes de ódio contra mulheres, homossexuais e outras minorias políticas, a direita não inspira diretamente o cometimento de roubos e furtos. Mas defende muito daquilo que acaba, no final das contas, induzindo muitas pessoas a abandonarem qualquer senso de misericórdia e respeito e investirem em assaltar pessoas e estabelecimentos.
A direita brasileira é defensora ferrenha e incondicional do capitalismo. Seus adeptos também costumam consentir ou apoiar abertamente as desigualdades sociais, a não empatia pela maioria dos seres humanos, a cultura de mais competição do que cooperação, as relações de dominação e submissão, a falta de preocupação com a maioria dos limites da liberdade individual, a desvalorização e supressão de direitos, a desassistência social aos mais necessitados, a abolição da função social do Estado e da propriedade, a invisibilização dos preconceitos e desigualdades estruturais, a conversão de serviços públicos em serviços privados pelos quais apenas uma parcela restrita da população possa pagar, a ganância por lucros e riquezas cada vez maiores, a naturalização da exclusão social etc.
É ingenuidade achar que, somando-se e aplicando-se todos esses (des)valores e reivindicações, não seriam consequentes o aumento escandaloso da miséria e da desesperança das pessoas e a desvalorização disseminada do respeito à vida e à propriedade do próximo. Com isso, tendem a aumentar muito os roubos e furtos, tanto aqueles cometidos por quem subtrai bens alheios para sobreviver como por pessoas que encontraram na compra e consumo de drogas pesadas a única maneira de aliviar as dores de uma vida existencialmente esvaziada.

Narcotráfico
Provavelmente a maioria dos conservadores brasileiros defende que o consumo de drogas pesadas continue sendo tratado como caso de polícia – leia-se invasão de favelas e prisão ou extermínio de usuários e pequenos traficantes –, e não de saúde pública, inclusão social e combate à criminalidade dos ricos. Em outras palavras, apoiam a perpetuação da “guerra às drogas”, mesmo ela tendo sido um completo fracasso em diminuir o uso de narcóticos e o cometimento de crimes contra a vida e, pelo contrário, aumentando as mortes causadas direta ou indiretamente pelas drogas ilegais.
Quando conservadores defendem a continuidade da política de “combater” o narcotráfico predominantemente por meio de operações policiais em comunidades pobres, estão, sem perceber, consentindo que tudo continue como está. Ou seja, que o comércio e consumo de drogas ilegais continuem em alta, e que vidas de traficantes, usuários, policiais e pessoas não envolvidas sejam violentamente tiradas.
Além disso, não percebem – e muitas vezes negam categoricamente – que o tráfico de drogas é retroalimentado pelas desigualdades sociais e por muitos dos desvalores que permeiam o capitalismo. Não raramente a falta de políticas sociais, a negação de direitos básicos, a sede de dinheiro fácil e riqueza, o desemprego, a desvalorização da empatia, o fomento à ganância do lucro, a dificuldade extrema em ascender socialmente, entre outros problemas, inspiram parte daqueles jovens desprovidos de qualquer esperança de inclusão social a aderir ao narcotráfico, no qual encontrarão sua única chance de redenção e prestígio social.
E nisso a direita não se compromete em discutir esses problemas. Pelo contrário, é comum que deixe para os indivíduos, mesmo aqueles mais despossuídos, desesperançosos e privados de direitos, toda a responsabilidade de não aderirem ao tráfico ou ao consumo de drogas, por meio da defesa de meritocracia, da supremacia do individual sobre o coletivo e da negação das desigualdades e opressões sociais.

Homicídios
A direita conservadora brasileira não tem a tradição de valorizar o respeito à vida humana alheia (defender fetos e embriões, enquanto entrega mulheres e meninas já nascidas e crescidas à morte por aborto clandestino ou suicídio, não conta). Vira as costas para quem mata e morre por problemas relativos ao capitalismo, como exclusão social, piora da violência, genocídios indígenas e assassinatos a mando de latifundiários.
Relativiza os crimes políticos cometidos pelo Estado durante a ditadura militar. Não se posiciona contra os homicídios motivados por ódio e os discursos que os motivam. E não discute a sério uma solução para abolir os muitos crimes contra a vida cometidos no contexto do narcotráfico.
E na tentativa de se defender da acusação de omissão ou cumplicidade, é comum que acuse a “natureza humana” de ser violenta e propensa ao crime e à crueldade. Com isso, acaba colocando como “natural” que morram tantas pessoas nas mãos de outros seres humanos.
Ou seja, a direita não está afim de respeitar e proteger a vida dos seres humanos, mesmo quando diz valorizar a segurança pública.

Violência policial
Em se tratando de segurança, uma das maneiras pelas quais o reacionarismo brasileiro diz defender o combate ao crime é aplaudindo o uso da força por policiais militares. Mas essa suposta oposição à violência contra “cidadãos de bem” entra em contradição com a falta de critérios em promover esses aplausos.
Digo isso por causa do apoio de reacionários à violência policial indiscriminada, mesmo quando policiais prendem, agridem e/ou matam inocentes e forjam as acusações contra eles. Em momento nenhum exigem prudência e justiça da polícia.
Um caso exemplar disso foi o assassinato do menino Ítalo, de 10 anos, em São Paulo, no início de junho, em cuja investigação foi notada a adulteração do cenário do crime para responsabilizar a criança vitimada. Reacionários foram às ruas aplaudir e defender os policiais, afinal, o que eles fizeram foi “matar um bandido”, mesmo que as investigações estejam tendendo a incriminar os soldados e inocentar o garoto.
Se depender da vontade dos conservadores defensores da violência policial, vale a polícia agir até mesmo fora da lei para “manter a lei e a ordem”. Não lhes importa se policiais incidirem, por exemplo, em crimes como tortura, racismo, homicídio qualificado, calúnia, constrangimento ilegal, abuso de autoridade e corrupção.

Falando em corrupção, esse é um dos crimes que a direita brasileira mais diz “combater”. Mas só promovem esse “combate” quando os acusados do delito são filiados ou aliados do PT.
Quando os denunciados são de partidos conservadores ou aliados do conservadorismo, como o PMDB, o PSDB, o DEM e o PSB, o silêncio é total, a não ser que seja para inocentá-los ou relativizar as acusações feitas contra eles.
Repare-se também que a grande maioria dos discursos da direita “contra a corrupção” são simplesmente para acusar o PT e pregar sua deposição e criminalização. Não é comum que defendam uma reforma política profunda, que elimine os vícios e vulnerabilidades do sistema político brasileiro os quais permitem a ocorrência de muitos casos federais, estaduais/distritais e municipais desse tipo de crime.
Pelo contrário, o discurso é que, tirando o PT do jogo, o Brasil vai “mudar” e “avançar”, mesmo quando quem assume no lugar são políticos frequentemente delatados por envolvimento em esquemas ilegais e/ou operações para abafar investigações.
Nisso, as declarações de páginas sociais, blogs e políticos de direita induzem muitas pessoas a acreditarem que, praticamente, o PT detém o monopólio da corrupção no Brasil. Propagar essa falsa informação é essencial para acobertar os corruptos de outros partidos e mantê-los agindo em impunidade.
Ou seja, a direita brasileira não está interessada em denunciar e combater a tradição de corrupção na política do país, já que participa dela e, portanto, quer conservá-la. Isso sem falar que alguns de seus valores, como o egoísmo, a ganância, o descaso para com o bem-estar alheio, a negação da consciência social e a falta de respeito por aquilo que é público e coletivo, favorecem que mais pessoas ricas e poderosas vejam na corrupção um “crime que compensa”.

Considerações finais
A direita conservadora brasileira muito discursa “contra o crime”, mas infelizmente ela é cúmplice ou omissa perante milhares de crimes muito comuns no Brasil. Suas defesas do preconceito e da intolerância, do lucro ganancioso, da naturalidade da exclusão social, da negação de empatia ao próximo, da supremacia do individual sobre os interesses coletivos, da moralidade seletiva e do capitalismo sem responsabilidade ética desaguam na literal desgraça para muitas pessoas, cujas vidas poderiam ter sido salvas se a direita não estivesse tão forte no país atualmente.
Se a direita quer realmente se posicionar contra a violência e o desrespeito às leis e a favor da vida e da propriedade, precisa abandonar esses (des)valores tão corrosivos e adotar uma postura mais moderada e humanista. Ou seja, necessita mudar, tornar-se muito diferente daquilo que é hoje.



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