(Lúcia Gomes, in Blog Manifesto74, 26/01/2017)
Devia haver um dispositivo de choque nos dedos de cada vez que se escrevem mentiras nos jornais. Mas pior do que mentira é a ignorância abissal que grassa nos textos de João Miguel Tavares. Aliás, mais do que ignorância, burrice. Em primeiro lugar porque não sabe o que é valor líquido e valor bruto. Em segundo lugar porque percebe zero de salários. Em terceiro lugar porque nunca deve ter visto um recibo de vencimento na vida. Em quarto lugar porque a ignorância é mesmo muito, muito atrevida. E este senhor devia ter vergonha na cara por se atrever a escrever tantos disparates juntos.
Assim, para atacar os seus habituais némesis, entre os quais o PCP, afirma que o salário mínimo não é 557 euros mas 877,3 euros (sim, ele disse isto). E nem vou falar de tudo porque o meu estômago se embrulhou todo logo nos primeiros parágrafos.
Passo a explicar:
Mas o salário mínimo para as empresas – aquilo que uma empresa paga por cada mês de trabalho efectivo do seu funcionário – subiu para os 877,3 euros. (céus, ainda nem acredito que alguém escreve isto…)
As contas são fáceis de fazer. (sim, são, mas o JMT não as sabe fazer)
Em primeiro lugar, há que somar aos 557 euros a famosa TSU das empresas, que se situa nos 23,75%. – A sério, JMT? Querido: aos 557 euros retiram-se 11% do trabalhador que é a sua contribuição para a segurança social. Ou seja: o trabalhador contribui com 46,32% do valor que a entidade patronal contribui para a segurança social – que só garante subsídio de parentalidade, desemprego, doença, reformas, nada de importante. Salário líquido? 495.73 euros.
Dá quase 690 euros mensais. ……..
Depois há que multiplicar esse valor pelos 14 meses de salário anual. São 9650 euros. De seguida, na perspectiva da empresa, esse valor tem de ser dividido por 11, porque qualquer trabalhador português que tenha a sorte de estar no quadro recebe mais três meses de salário por ano do que aqueles que trabalha. Ou seja, o que devia acontecer era – 365/366 de trabalho, sem férias, muito menos pagas (claro, que abuso) e os salários deviam ser à vontade do patrão, pois.
Em primeiro lugar, há que somar aos 557 euros a famosa TSU das empresas, que se situa nos 23,75%. – A sério, JMT? Querido: aos 557 euros retiram-se 11% do trabalhador que é a sua contribuição para a segurança social. Ou seja: o trabalhador contribui com 46,32% do valor que a entidade patronal contribui para a segurança social – que só garante subsídio de parentalidade, desemprego, doença, reformas, nada de importante. Salário líquido? 495.73 euros.
Dá quase 690 euros mensais. ……..
Depois há que multiplicar esse valor pelos 14 meses de salário anual. São 9650 euros. De seguida, na perspectiva da empresa, esse valor tem de ser dividido por 11, porque qualquer trabalhador português que tenha a sorte de estar no quadro recebe mais três meses de salário por ano do que aqueles que trabalha. Ou seja, o que devia acontecer era – 365/366 de trabalho, sem férias, muito menos pagas (claro, que abuso) e os salários deviam ser à vontade do patrão, pois.
O que JMT não sabe: Em percentagem do PIB, as cotizações pagas pelas entidades patronais em Portugal estão muito abaixo quer da média dos países da União Europeia (em 2012, eram 7,7% do PIB, ou seja, apenas 72% da média europeia), quer em relação a países que se encontram mais
próximos de Portugal (Grécia, Espanha e Itália) . E se a comparação for feita com os países da Zona do Euro, a distância que separa Portugal desses países, em percentagem do PIB em despesas sociais, é ainda maior, pois a média neles é cerca de 50,6% superior ao valor em Portugal (nos países da Zona do Euro, as contribuições patronais representaram em 2012, em média, 11,6% do PIB enquanto em Portugal, no mesmo ano, correspondia a apenas 7,7% do PIB, segundo o Eurostat).
próximos de Portugal (Grécia, Espanha e Itália) . E se a comparação for feita com os países da Zona do Euro, a distância que separa Portugal desses países, em percentagem do PIB em despesas sociais, é ainda maior, pois a média neles é cerca de 50,6% superior ao valor em Portugal (nos países da Zona do Euro, as contribuições patronais representaram em 2012, em média, 11,6% do PIB enquanto em Portugal, no mesmo ano, correspondia a apenas 7,7% do PIB, segundo o Eurostat).
E podia saber: só tinha que googlar, ir ao Eurostat ou ler a página de Eugénio Rosa. Aliás, o Eugénio Rosa – que sabe fazer contas – deixa tudo bem clarinho:
«Como mostram os cálculos feitos com base nos dados do INE, uma redução de 4 pontos percentuais na taxa contributiva paga pelas entidades patronais (passaria dos 23,75% atuais para 19,75%) determinaria uma redução média nos custos das empresas em apenas 0,41%. (…) É evidente que não é com uma redução de custos desta dimensão que se poderia aumentar a competitividade das empresas portuguesas pela via dos preços e promover o investimento, como alguns dizem. O único
resultado certo e imediato seria o aumento dos lucros em mais mil milhões € das empresas não financeiras à custa da descapitalização da Segurança Social. Os trabalhadores pagariam a redução com pensões mínimas de miséria no futuro.»
resultado certo e imediato seria o aumento dos lucros em mais mil milhões € das empresas não financeiras à custa da descapitalização da Segurança Social. Os trabalhadores pagariam a redução com pensões mínimas de miséria no futuro.»
Este senhor devia ganhar o salário mínimo e aí sim veria o que é ser um pai de quatro. E não é de quatro filhos. Porque o que defende é uma vida sem dignidade para a maioria de nós.
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