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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O Ano da Morte de José Saramago












O livro, ”O Ano da Morte de José Saramago”, é uma homenagem ao homem, ao político e escritor que foi José Saramago, o mesmo que escreveu: “O Ano da Morte de Ricardo Reis”. É um poema longo, verso livre, de 65 estrofes, que provavelmente deverá ser lido sem interrupções. Há a existência de um elemento agregador, que é o de parecermos fazer parte de uma Sociedade Columbófila, nas palavras e nos versos do poeta Amadeu Baptista, em que nós somos os pombos e a rataria… emergente e ocupante que são as lojas chinesas nestes pombais onde vivemos, mais precisamente no Porto e em Viseu, onde se situa a acção.
A sátira constante neste poema extenso dá-lhe uma tónica, uma coloração inconfundível:

                                     X

  Contudo, o dilema desfez-se, o diletantismo corroborou
  as opções da vizinhança, e sabe-se o que acontece quando o teor
  democratizante nivela as coisas por baixo,
  vão-se nas cheias os efeitos das enchentes,
  os porcos flutuam,
  caminham sobre as águas,
  e fica suja a pomba de Picasso,
  indefectivelmente suja no transe contemporâneo que se apropria de tudo,
  os paroxismos das multidões em júbilo,
  o posto de trabalho das costureiras,
  o salário dos que punham nas minas
  os seus bicos de luz e acetileno,
  à espera de dias melhores e melhor paga

                                       XVI

  A desgraça de um país mede-se na distância que vai das instâncias do poder
  à esperança dos seus habitantes, o deserto especializa-se quando a crise
  se amplia, chegam os usurpadores e o equilíbrio das emoções descontrola-se,
  a ciência columbófila ressente-se por esse condicionamento,
  eiva-se de sinecuras e compadrios,
  especializa-se em apreciações,
  distingue-se entre os méritos e os desméritos
  por simonia,
  favorecimentos,
  invejas comezinhas

                                       XLIII

  Hoje são as exéquias do José Saramago,
  não falta o trânsito dos corvos na câmara ardente,
  mas em três dias tudo estará esquecido,
  as cinzas semeadas não frutificarão,
  ponham-nas ou não sob oliveira ressequida
  na Azinhaga do Ribatejo, em frente à Biblioteca,
  ou em Lanzarote, sob o vulcão
  -umas oliveiras nascem,
  outras morrem,
  outras estão a permanecer mais um dia,
  mais uma noite,
  mais uma derrogação
  para que as cinzas fiquem agora decididamente em Lisboa
  e às barcas seja permitido flutuar
  por uma vez, as barcas novas do Tejo
  e do texto de João Zorro,
  Ai, mia senhor velida!

Falando ainda sobre Herberto Helder:

                                   V

  Depois da morte não há quem leia Herberto Helder,
  o coração dos mortos não recebe a chapa do luar que no rio recai,
  o homem do leme exaure-se e nada acontece nos seus olhos de pedra,
  nem o mar é o mar, visto desta distância em que os filhos partiram
  para um refugo de vida que não sabe como se contrafazer na erosão,
  nem de poesia sabe, ou de poemas, ou de pássaros, ou de penas,
  esgarçado que foi o azul das interrogações do mundo,
  ainda que pese o seu feroz aspecto,
  essa dura ravina

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