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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

José Gomes Ferreira


12 Set 2011 /  Sem categoria

Na morte de Manuela Porto
……………………………………-..
Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: “Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas.  Traje de passeio”.
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
“Adeus! Adeus!”
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes…
(primeiro, os olhos… em seguida, os lábios… depois os cabelos…)
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo… tão leve… tão sutil… tão pólen…
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis…

Foto: Pintura de Agualdo X. Oliveira Capri
www.louletania.com

1 comentário:

Palma disse...

Um obrigado ao excelente blog " Desenvolturas e desacatos " por mais esta referência a um post publicado no " Louletania ".
Longa vida neste mundo da blogoesfera são os meus votos. Palma