VENHAM REIS
de José Saramago
Venham leis e homens de balanças,
Mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças,
Desça em nós o juízo até ao fundo.
Mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças,
Desça em nós o juízo até ao fundo.
Nos cruzamentos todos da cidade
Brilhe vermelha, a luz inquisidora,
Risquem no chão os dentes da vaidade
E mandem que os lavemos a vassoura.
Brilhe vermelha, a luz inquisidora,
Risquem no chão os dentes da vaidade
E mandem que os lavemos a vassoura.
A quantas mãos existam peçam dedos
Para sujar nas fichas dos arquivos.
Não respeitem mistérios nem segredos
Que é natural os homens serem esquivos.
Para sujar nas fichas dos arquivos.
Não respeitem mistérios nem segredos
Que é natural os homens serem esquivos.
Ponham livros de ponto em toda a parte,
Relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
Que a prosa de registo, o verso data.
Relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
Que a prosa de registo, o verso data.
Mas quando nos julgarem bem seguros,
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão-de ruir em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão-de ruir em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.
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