estória exemplar do filhodaputismo bi-polar
“Se a minha avó tivesse rodinhas era um carrinho de bombeiros”, disse José Miguel Júdice. Bem, não disse mas podia ter dito. O que ele realmente disse (há uns anos e, a brincar) foi: ”se em 1980 o PS fosse como hoje, Sá Carneiro era PS” - o que, na prática, quer dizer que a avozinha do senhor é realmente um tinóní. E o senhor um engraxa-o-cágado (o cágado era Sócrates), ou seja, um merdas.
Mas isso foi há uns anos. Agora, o que ele diz a sério é que acreditou no que os amigos lhe diziam - mal - do novo líder, Passos Coelho. Hoje, nenhuma dessas realidades se mantém. É isso, o cágado, agora chama-se Coelho. E não espantará ninguém por isso que Júdice um destes dias afiançe que se fosse hoje Sá Carneiro seria PSD. O que seria natural, pois mesmo em vida o homem passava o tempo a entrar e a sair do partido.
Mas isso foi há uns anos. Agora, o que ele diz a sério é que acreditou no que os amigos lhe diziam - mal - do novo líder, Passos Coelho. Hoje, nenhuma dessas realidades se mantém. É isso, o cágado, agora chama-se Coelho. E não espantará ninguém por isso que Júdice um destes dias afiançe que se fosse hoje Sá Carneiro seria PSD. O que seria natural, pois mesmo em vida o homem passava o tempo a entrar e a sair do partido.
. Agora, mesmo a sério: José Miguel Júdice é um advogado, dos mais influentes do país, dizem (foi licenciado e lente em Coimbra meu deus), sócio de uma empresa que tem uma “visão próxima do cliente” e um empresário esclarecido (presumo que com uma visão próxima do advogado) que deve o seu sucesso a um sem número de qualidades que são o paradigma desse determinismo nacional do qual já vos falei aqui. Duas dessas qualidades são as piéces de resistance (enfim, o je ne sais quoi indispensável) do enriquecimento pessoal e do sucesso de empreendimentos de toda a ordem neste país: cara-de-pau e espinha flexível, para engraxar o cágado que tem o poder no momento. Uns têm, outros não. Ele tem. E sublima-as.
. Por isso mesmo e apesar da sua forte crença nas virtudes do mercado, Júdice deve muito do seu sucesso como empresário à sua prestação como advogado. Do Estado. Não há nada que ele não faça pelo Estado: dá-lhe consultas, dá-lhe pareceres, dá-lhe conselhos, enfim gosta. Mas do que gosta mais é de parcerias com organismos públicos. Câmaras municipais, e assim. Como a sociedade que constituiu com a da Figueira da Foz (com o objectivo da recuperação do Paço de Maiorca e sua posterior utilização como hotel de charme).
O Paço de Maiorca albergava então um valioso espólio de mobiliário e cerâmica (avaliado em 600 mil euros), oferecido ao município por um particular, na condição de ser exposto no referido edifício. A este respeito, António Tavares, actual vereador da Câmara da Figueira, conta, a pags 75/76 do seu imperdível opúsculo “Figueira da Foz – erros do passado, soluções para o futuro”, uma estória exemplar: “(…) veja-se que ainda o edifício não estava em obras, mal a sociedade com a Quinta das Lágrimas estava constituída e já algumas peças tinham “voado” nessa direcção”.
O Paço de Maiorca albergava então um valioso espólio de mobiliário e cerâmica (avaliado em 600 mil euros), oferecido ao município por um particular, na condição de ser exposto no referido edifício. A este respeito, António Tavares, actual vereador da Câmara da Figueira, conta, a pags 75/76 do seu imperdível opúsculo “Figueira da Foz – erros do passado, soluções para o futuro”, uma estória exemplar: “(…) veja-se que ainda o edifício não estava em obras, mal a sociedade com a Quinta das Lágrimas estava constituída e já algumas peças tinham “voado” nessa direcção”.
. Recorde-se que embora Júdice seja o feliz proprietário da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, a estória da parceria que assinou com o município figueirense (tão bem explicada aqui) e o episódio contado por Tavares são tão exemplares, que podem bem ilustrar um compêndio sobre o enriquecimento pessoal e a prosperidade de muito do filhodaputismo nacional mais freneticamente adepto da economia de mercado.
Ah, José Miguel Júdice é ainda proprietário da “marca” Inês de Castro e escreveu um livro chamado “O meu Sá Carneiro”, pelo que se pode deduzir que já terá também privatizado o malogrado político nortenho (vocês sabem, aquele baixinho com um grande nariz), o que aliás, dadas as convicções económicas liberais de ambos, acho que faz sentido.
Em todo o caso, si non è vero, è ben trovato.
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