Filarmónica Fraude – Animais de estimação
Numa viagem à longínqua juventude dos meus dezassete anos, lembrarei hoje uma rapaziada de Tomar, cidade onde vivi por um curto mas decisivo espaço de tempo. Numa altura que ainda só tinha sido “apresentado” aos discos dos meus mestres, aqueles que me mostraram que era possível outra música portuguesa, estes tomarenses, apenas um pouco mais velhos do que eu, foram uma das melhores coisas que me aconteceram aos ouvidos.
Fiquei a saber que era possível trazer para cá a modernidade dos sons que já se ouviam lá por fora, construindo um projecto “roqueiro” que, para além dessa estética musical, ousava falar do que via à sua volta, exactamente como os tais baladeiros... mas falando noutro “som”.
Apenas gravaram um LP, "Epopeia", de 1969, e, no mesmo ano mas antes do LP, dois discos dos mais pequenos (EP, discos de quatro canções). E ainda bem que os gravaram, pois num desses “pequenos” estava o seu maior sucesso, “O menino” (Quando eu era pequenino, acabado de nascer...), uma enorme ousadia, na altura, pela forma como pegaram numa canção tradicional da Beira Baixa, e no outro, de 1969, “Animais de estimação”, um tema corrosivo até ao osso. A capa que se vê aqui em cima, é da reedição num Single, de 1975, apenas destas duas canções.
Chamavam-se “Filarmónica Fraude” e são, até hoje, a minha "banda" portuguesa favorita de antes de Abril de 74. A canção, dedico-a, tal como eles fizeram há mais de quarenta anos, às madames portadoras de um deliquescente espírito caridoso, que por estes dias andam (mais uma vez) felicíssimas com os seus “filhotes” que, mal acabados de chegar ao poder, reinstituíram a caridade como “política social” oficial do Estado.
“Animais de estimação” – Filarmónica Fraude
(António Pinho/Luís Linhares)
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