contra o paraíso multicultural, o racismo
a visão do pnr sobre os motins ocorridos em inglaterra vai muito para lá daquilo que eu poderia esperar. estranho será, por certo, que eu continue desta forma ingénua a espantar-me com o que vem daquela gente e fique sempre chocada com a profundidade da crueldade que sai daquelas cabeças povoadas com suásticas ao invés de neurónios. mas é isso que vai acontecendo, novidade após novidade.
as palavras pesam e, quando usadas sem cuidado, provocam-me o que me provocou este artigo: nojo absoluto. se me espanta que não se condene “a morte do líder de um gangue étnico de delinquentes”, também não me deixa pouco inquieta que a polícia seja santificada, que o assassinato de polícias seja vil, que o assassinato por polícias seja ordeiro.
do pnr, só espero condenações apolíticas e preconceitos, mas não posso deixar de me sentir enojada e incrédula de cada vez que me deparo com pérolas destas. expressões como “estirpe de marginais” podem ser-me repetidas diariamente e eu vou continuar incapaz de me familiarizar com elas.
toda esta história começou com o mark duggan, que é este menino aqui:
como facilmente observável, o mark duggan era preto. fosse o caso de ele ter sido um adorável loirinho de olhos azuis, como o breivik, aquele amoroso assassino, o pnr iria inverter a situação com a maior das facilidades, dizendo que afinal a culpa era dos ingleses, que não são gente em que se fie e que andam sempre à porrada só porque são estrangeiros. onde é que eu já ouvi esta história? ah, já sei, foi, por certo, em alguma das minhas incursões ao site do pnr. se um dia alguém resolver dizer por aí que o duggan dava beijinhos a meninos, lá teremos o josé pinto coelho e o mário machado, a concubina preferida, a mostrar em praça pública as imagens dos motins, dizendo que o lobby gay está a crescer e se prepara para dominar o mundo de maneira vil e aleivosa. e não nos esqueçamos, por favor, de que "O PNR é o único partido que rejeita a promoção da "cultura gay" e do "folclore amaricado".
no artigo mencionado, a comunicação social é acusada, pasme-se, de “salvaguardar com astúcia a origem étnica dos vândalos” que têm protagonizado os motins. deturpar a realidade dá nisto: em não encontrar a raiz dos problemas, em confundir cor com ideologia. eu sei, o pnr sabe (espero), toda a gente sabe que violência pela violência não é propriamente agradável, que pilhar lojas não é educado, que os motins têm dado asas a algum oportunismo, mas longe estarei eu de julgar - só porque tenho a pele ebúrnea como a cal, não importa o tempo que passo na póvoa - que a culpa é dos pretos só porque são escuros e não precisam de protector solar 60+ for kids como eu. e, no fundo, parece-me que até o pnr deve saber que a morte de um membro de uma comunidade pobre acontecida só porque sim teria de ter resposta. mais cedo ou mais tarde e esperançosamente, claro.
o capitalismo tira vidas, as vidas revoltam-se. ouvi dizer que lhe chamam luta de classes. que queremos, afinal? revolução, sim, mas com maneiras?
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