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José Dias Coelho é um ícone do comunismo e da resistência antifascista em Portugal, evocado em poesia e música. Um grande activista estudantil. Um jovem artista plástico de talento que abdicou de uma promissora carreira para se dedicar de corpo inteiro à luta pela liberdade e pelo socialismo. Um dirigente comunista clandestino que foi assassinado a tiro pela polícia política, em pleno dia, numa rua de Lisboa – a 19 de Dezembro de 1961 .
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A par de toda a sua actividade política, Dias Coelho dedicava-se também com afinco e talento à criação artística e a iniciativas culturais. Foi por, exemplo, um dos organizadores das Exposições Gerais de Artes Plásticas promovidas pela Sociedade Nacional de Belas Artes.
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Presos Políticos- gravura de JDC |
Ainda muito jovem, José Dias Coelho aderiu à Frente Académica Antifascista, e mais tarde, ao MUD Juvenil, em 1946. Foi aluno da Escola de Belas Artes de Lisboa onde entrou em 1942. Frequentou primeiro o curso de Arquitectura, que abandonou, para frequentar o de Escultura.
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Participante em várias lutas estudantis em 1947, aderiu de seguida ao Partido Comunista Português e, em 1949, foi detido pela PIDE depois de participar na campanha presidencial de Norton de Matos. Em 1952, expulso da Escola Superior de Belas Artes e impedido de ingressar em qualquer faculdade do país, é também demitido do lugar de professor do Ensino Técnico. (...)
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Em 1959 entra para a clandestinidade, ao mesmo tempo que exercia funções no PCP, com o objectivo de criar uma oficina de falsificação de documentos para dar cobertura às actividades dos militantes clandestinos. Exercia esta actividade na altura do seu assassinato pela PIDE, em 19 de Dezembro de 1961, na Rua da Creche, que hoje tem o seu nome, junto ao Largo do Calvário, em Lisboa.
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O assassinato levou o cantor Zeca Afonso a escrever e dedicar-lhe a música A morte saiu à rua. Da sua vida pessoal há ainda a salientar a sua relação com a também artista plástica, Margarida Tengarinha. -- fonte
por Zeca Afonso, A Morte Saiu à Rua:
VÍDEO
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É pai de Teresa Dias Coelho, também pintora.
Escultor, desenhador, pintor, José Dias Coelho (Pinhel, 19 de Junho de 1923 — Lisboa, 19 de Dezembro de 1961) viveu e morreu por uma causa que inviabilizou o desenvolvimento pleno da sua produção artística, afinal voluntária e conscientemente interrompida em nome de um imperativo político: a liberdade.
JOSÉ DIAS COELHO em Vidas Lusófonas:
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«Muito te doía o sofrimento do próximo. Não foi por acaso que fizeste o retrato da Catarina Eufémia, aquela ceifeira grávida, com um filho de oito meses ao colo, e mesmo assim fuzilada, nas terras de Baleizão, pelo Tenente Carrajola da GNR. Ainda te ouço a dizer: - "Das sementes lançadas à terra, é do sangue dos mártires que nascem as mais copiosas searas".
Morte de Catarina Eufémia, desenho de J. Dias Coelho |
Éramos jovens: falávamos do âmbar ou
minúsculos veios de sol espesso
onde começa o vero; e sabíamos
como a música sobe às torres do trigo.
Sem vocação para a morte, víamos passar os barcos,
desatando um a um os nós do silêncio.
Pegavas num fruto: eis o espaço ardente
de ventre, espaço denso, redondo maduro,
dizias; espaço diurno onde o rumor
do sangue é um rumor de ave –
repara como voa, e poisa nos ombros
da Catarina que não cessam de matar.
Sem vocação para a morte, dizíamos. Também
ela, também ela a não tinha. Na planície
branca era uma fonte: em si trazia
um coração inclinado para a semente do fogo.
Morre-se de ter uns olhos de cristal,
morre-se de ter um corpo, quando subitamente
uma bala descobre a juventude
da nossa carne acesa até aos lábios.
Catarina, ou José – o que é um nome?
Que nome nos impede de morrer,
quando se beija a terra devagar
ou uma criança trazida pela brisa?
Eugénio de Andrade
oventoquepassa.blogspot.pt
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