Agências funerárias têm catálogos com várias opções e preços para fazer relíquias dos falecidos. Falta de espaço nos cemitérios faz aumentar cremações.
Quando Alexandrina Simões diz às pessoas que o marido, falecido há três anos, "anda sempre juntinho ao coração", não está a mentir. A professora reformada, a viver em Matosinhos, pegou "num bocadinho" das cinzas do marido e mandou colocá-las no interior de uma medalha de ouro que trás pendurada num pequeno colar.
"Só não quero que a minha fotografia apareça no jornal, porque as pessoas lidam mal com a morte e tenho receio de ser mal interpretada", afirmou. Para as três netas, mandou fazer "umas medalhinhas parecidas", dando liberdade aos pais de autorizar, ou não, que as crianças usem as joias. No total, gastou "cerca de 5 mil euros".
Como Alexandrina, cada vez mais famílias optam por dar um destino às cinzas diferente do habitual. As agências funerárias apresentam um vasto catálogo de opções, que vão desde a confeção de joias até soluções ecológicas como transformar as cinzas em fertilizante para árvores. O leque de preços também é grande e variado. Alguns artigos são feitos no estrangeiro, mas há joalheiros portugueses que já trabalham quase a tempo inteiro a fazer "relíquias" com cinzas.
SEIS DADOS SOBRE CREMAÇÕES QUE PROVAVELMENTE NÃO CONHECIA
Vítor Cristão, da Associação dos Agentes Funerários de Portugal, diz que se nota "um crescimento muito acentuado no número de cremações". As causas para esta opção são variadas e passam "pela falta de espaço nos cemitérios e pelo preço dos jazigos". "Com a cremação, acabam-se os gastos em jazigos e flores", realçou.
Paulo Carreira, da Servilusa, a maior agência funerária portuguesa e proprietária de seis crematórios, avança com outra explicação. "As famílias estão cada vez mais deslocadas da sua terra natal e a cremação permite guardar as cinzas e aproximar as famílias dos seus mortos".
Totalmente "verde" é a opção apresentada pela Sigmapack, a empresa de Lisboa que quer tornar ecológicos os funerais em Portugal. Só este ano, a empresa já fez 250 urnas (com cartão e papel reciclado) que, juntamente com as cinzas e alguma terra, serve de base à raiz de uma árvore que deverá ser replantada. "É o retorno à vida pelo meio da natureza", disse Nuno Gonçalves, responsável da empresa.
Dar um destino às cinzas
A procura de urnas biodegradáveis é feita também por pessoas que têm guardadas em casa, algumas durante anos, cinzas de familiares. "É uma forma de retirar as cinzas de casa e devolvê-las à natureza através da plantação de uma árvore", referiu. Em alguns cemitérios e crematórios, já existem locais para depositar as cinzas como é o caso do "roseiral", no Tanatório de Matosinhos.
A legislação é omissa sobre este assunto permitindo, por exemplo, que as cinzas de pessoas que morreram fora do país sejam transportadas para Portugal, de avião, como bagagem de mão.
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