Esperou que o marido adormecesse e deu-lhe quatro tiros
Era um bruto na cama, um gastador, dirá reforçando o argumento: “Era ele ou eu”. Nascida espanhola, portuguesa por casamento, a pintora Josefa Greno pôs fim ao matrimónio a tiro de pistola. O seu processo será “o triunfo dos alienistas”.
Josefa anuiu, mas ditou a condição: "Acompanho-o onde quiser, senhor polícia, mas primeiro tem que me deixar almoçar". Chegou mais um polícia, tentaram demovê-la. "Vossa excelência tem de nos acompanhar". Ela não arredou pé, enquanto não comeu uma fatia de pão com manteiga e bebeu uma chávena de café com leite. Nessa madrugada de 26 de junho de 1901, Maria Josefa Garcia Seone Greno, de 50 anos, pintora afamada, assassinara o marido a tiro. Encarcerada no manicómio, morrerá sete meses depois.
“Pronto”, exclamou Josefa Greno declarando findo o almoço, nesta época ainda nome da refeição matinal. A casa estava cheia de vizinhos e de outros curiosos. Quem assistiu contou que ela se mostrava serena, indiferente, ao pôr o chapéu cinzento e a capa negra, de rendas, por cima do vestido de ramagens, e encaminhando-se para o patamar das escadas. Desceu-as à frente dos dois polícias; na rua, entraram todos para um trem de aluguer que já os aguardava com ordem de seguir para o juízo de instrução.
Ainda lá em cima, dissera à sobrinha Beatriz Amélia, residente lá em casa desde que perdera os pais, e à criada Libânia: “Não se apoquentem que eu não demoro”. Tinham sido estas que, ao acordarem com os tiros, pelas 4h20, entraram em pânico e puseram-se a gritar à janela, levando um vizinho estremunhado a sair para chamar a polícia e a moradora do rés do chão a perceber que as quatro marteladas, seguidas do baque no chão, significavam algo diferente das habituais discussões dos Grenos.
Na véspera desse sábado, Adolfo, de 46 anos, chegara ao seu primeiro andar da travessa de São Mamede, em Lisboa, pelas onze horas da noite. Pediu um chá e Josefa satisfez-lhe o pedido, mas não o desejo de com ela se deitar. Há cerca de dois meses que dormiam separados, todavia, segundo dirá, muitas noites ele a forçava a partilhar a cama, o que para si representava um suplício, razão pela qual uma vez tentara estrangulá-lo com uma toalha e noutra alvejá-lo com uma pistola.
Josefa contará ao juiz de instrução que, no dia 17 de abril, atentara contra a vida do marido usando o revólver do próprio. Encontravam-se em casa, discutiam ou já o teriam feito, ela irritou-se, empunhou a arma e fez fogo. A bala alojou-se na ombreira da porta. Adolfo tirou-lhe o perigo das mãos, dando-lhe ao mesmo tempo uma reprimenda. Só o vizinho de cima, do segundo andar, deu conta do sucedido; bateu à porta e prometeu guardar segredo. A partir daqui, cada um tinha o seu quarto.
“Não sinto a cabeça e no meu peito há uma enorme tempestade. Isto é horrível”, disse Josefa, dias depois do assassínio, ao jornal “A Tarde”, explicando que muitas vezes avisara o marido para dela fugir, que não podiam viver assim, que se deviam separar para acabar com o martírio. “Trabalhei toda a vida como um homem, mas os últimos anos foram superiores às minhas forças”, afirmou, dizendo-se perante uma fatalidade: “Tinha de ser assim”.
Na noite de sexta-feira, deitara-se ela, primeiro, depois aparecera Adolfo, de chá tragado e jornal lido. Não é claro que tivessem tido relações, contudo, é bem provável que tenha sido tentado. O marido adormeceu de barriga para cima, Josefa manteve-se acordada. Durante horas, à luz da lamparina, pensou se dispararia ou não o pequeno revólver americano, comprado cinco dias antes, numa loja da baixa. Custou-lhe nove mil réis, o preço de dois retratos grandes “a crayon com moldura”, uma novidade à venda no Chiado, na casa de fotografia Júlio Novais, onde por vezes os acusados de crimes eram fotografados para os registos policiais.
Começara o sábado a surgir “cheio de sol, quente e abafadiço”, como referiu “O Século”, quando Josefa retirou o revólver do esconderijo, entre colchão e enxergão, levantou-se, aproximou o cano da axila esquerda do marido e disparou. Quando o chefe da terceira secção judiciária, que descobrirá a arma de novo escondida entre os colchões, lhe perguntou se sentia remorsos, a pintora respondeu: "Ninguno".
Adolfo tentou levantar-se, perdeu a força, rolou para o chão, enquanto isso Josefa voltou a disparar, por três vezes. Feriu-lhe o dedo indicador, acertou-lhe no pescoço… A quarta bala perdeu-se. O chefe Aguiar constatara no local que a pistola era de cinco balas e só uma restava no tambor. Na cama, ficaram duas, no chão outra. Na autópsia, serão observados três ferimentos, ao primeiro os médicos atribuíram a causa da morte.
UM QUADRO DE HORROR NA MORGUE
Na mesma manhã, a sobrinha Beatriz pagou 200 réis pelo serviço de maca para levar o corpo de Adolfo até à morgue, no Campo Santana, junto ao hospital de São José, onde ainda hoje se encontra chamando-se Instituto de Medicina Legal. O jornalista de “O Século” observou o cadáver: “Vestia uma camisola de flanela, desabotoada no peito, horrivelmente tinta de sangue, descobrindo-se-lhe ao centro do músculo peitoral, do lado direito, entre o mamilo e o sovaco, um horroroso ferimento, cujos bordos estavam negros da pólvora do revólver”.
Omita-se uma parte da descrição que mete sangue, apreciações dentárias e considerações do autor, mas não esta: “O infeliz tinha o olho direito aberto e o esquerdo semicerrado, o olhar fixo de cadáver, os lábios num último repelão da morte, a cabeleira e as barbas em desalinho, remolhadas no sangue, e as mãos enclavinhadas sobre o peito forte e musculoso”.
O jornalista, provavelmente o mesmo que testemunhou na morgue "um horror", assistiu à autópsia de Adolfo Greno, três dias depois, e escreveu não causar o corpo repugnância, mas estar o ambiente “detestável", devido às "exalações fétidas do cadáver do infeliz Carapinha, o operário morto no desastre da Junqueira, que se estendia na mesa próxima, coberto de vermes e em estado lastimoso”. Reproduzir a crueza das descrições é, agora, dar notícia de como se noticiava em quase todos os jornais e folhetos; com mais ou menos adjetivos, raro era o ‘media’ que não detalhava… pormenores.
Para dar ainda outra ideia da época, diga-se que, na mesma sala, além do “infeliz operário”, aguardavam a autópsia mais três cadáveres: “o de um velhote que se enforcara na rua dos Anjos, com o retrato de um neto pregado com um alfinete no peito, o rosto nos paroxismos da asfixia; o do desgraçado que foi trucidado pelo comboio em Alcântara, pavorosamente desfeito e ensanguentado; e ainda o de uma pretinha de 16 meses, que tinha de manhã falecido subitamente nos braços da mãe”. O jornalista de “O Século” viu-os assim, no sábado.
“ELE FAZIA-ME SOFRER MUITO. E EU NÃO MERECIA”
As exéquias do pintor Adolfo Greno realizaram-se na segunda-feira, dia 29 de junho. “O Século” dizia que “nos convites para o enterro, incertos nos jornais, o primeiro nome a aparecer era o de Josefa Greno, seguindo-se os de um irmão do infeliz pintor, de sua cunhada, de seu tio, de sua sobrinha e de seus primos”. O funeral foi pago pelos amigos do casal Joaquim e Madalena Sotto Mayor, em casa de quem a pintora jantara sexta-feira, enquanto Adolfo visitava uma cliente em Sintra.
No dia do funeral, já Josefa aguentara dois interrogatórios e desmaiara ao dar entrada na cadeia. A sobrinha, filha de um irmão de Adolfo e pouco dada à tia, para desgosto desta, fez-lhe chegar ao Aljube o colchão e as roupas por ela pedidas, mas não a visitará; quem irá vê-la, frequentemente, será o escultor e pintor Artur Prat, o professor Pinto de Almeida e Madalena Sotto Mayor, que pagava as refeições confecionadas no hotel Europa para Josefa comer na prisão. A pintora nunca perderá o apetite, pelo contrário, em sua defesa dirá que é a única distração do seu espírito.
A sua grande amiga Madalena, dez anos mais nova, não a deixará de visitar até julho. Neste mês, a viúva assassina será internada, ficando incomunicável, até morrer, no hospital de Rilhafoles, dirigido pelo médico alienista Miguel Bombarda, o mesmo que conseguirá “roubar” a pintora à justiça, defendendo que “estava doida, que o crime de que era acusada fora fruto imediato da sua doença mental” e abrindo uma polémica que ainda hoje tem cabimento.
Os jornais acompanham o assunto, uns menos, talvez por pudor, outros, os de maior tiragem, publicando grandes artigos dias a fio. “O Século” e o “Diário de Notícias” entrevistaram-na no domingo, pela primeira vez. As respostas e perguntas eram semelhantes. “Mas vossa excelência não estimava muito o seu marido?”, questionaram-na. “Sim coitado, mas ele fazia-me sofrer muito. E eu não merecia”, respondia-lhes Josefa. Quanto ao facto de os jornais a considerarem louca, “serenamente” objetava: “Podem dizer o que quiserem, o que não podem dizer com verdade é que eu não tenha sido uma mulher honesta e muito, muito trabalhadora”.
No ano de 1901, reinava em Portugal dom Carlos, Josefa já nem uma sombra era da “espanholita de olhos escuros, elegante” que “apareceu no Chiado”, ainda no tempo de dom Luís, tendo “a alegria contagiosa do sol andaluz na expressão do rosto e na plenitude da sua figura”, como contou em 1950, o pintor Luís Varela Aldemira, no seu livro “A Pintora Josefa Greno. Nova Autópsia dum Velho Caso” em que arrasa os conhecimentos e o comportamento de Miguel Bombarda face à homicida que, em sua opinião, matara o marido porque este queria morrer. Ou não tivesse descurado as anteriores tentativas, deitando o primeiro revólver num lago da avenida da Liberdade ou proferindo frases tipo “não foi nada, isto passa-lhe”.
Os médicos psiquiatras que a observaram, na altura chamados de alienistas, registarão estar perante uma “mulher baixa, gorda empastada. Nada surpreendente no exame geral do corpo senão na carência de beleza e a pequenez extrema das mãos, cujos dedos são nodosos e um tanto tortuosos”… De facto, os últimos quinze anos gastaram-na, engrossaram-lhe o rosto. Mesmo contando com alguma benevolência, a prova está no retrato que o marido lhe pintou em 1887, tinha ela 37 anos.
JOSEFA REVELA-SE NA PINTURA AOS 34 ANOS
Maria Josefa Garcia Seone, nascida em Medina Sidónia no dia 1 de setembro de 1850, refugiara-se em Portugal, com a mãe, teria 24 ou 25 anos. O pai, José Garcia Sáez, militar de carreira, morreu quando a família vivia em Sevilha, tinha ela quatro anos e ele 74, mais trinta e sete do que Maria Seoane. Esta, ao ficar viúva, resolveu regressar à Corunha, levar a filha a conhecer a sua terra natal, já Josefa completara a primária e aprendia desenho e bordado.
Mãe e filha residiram na Galiza seis anos até decidirem retornar à Andaluzia. O regresso deu-se durante a queda da Primeira República e o restabelecimento da monarquia com Afonso XII — a instabilidade reinava em Espanha, o regime republicano duraria apenas onze meses, espaço de tempo em que o país enfrentou três guerras civis. Talvez temendo a insegurança, optaram por se instalar em Lisboa, numa casa vizinha à de Adolfo César de Medeiros Greno, alfacinha nascido em 1854, uma promessa na pintura.
Josefa sustentava-se fazendo bordados e alta-costura, Adolfo estudava em Belas Artes, eram vizinhos e apaixonaram-se. No espaço de um ano, casaram-se em segredo para, em 1876, rumar a França, onde Adolfo, discípulo do romântico Miguel Ângelo Lupi, iria beneficiar da bolsa de Pintura Histórica que ganhara, passando a ter por mestre Alexandre Cabanel, seguidor dos modelos clássicos greco-romanos.
Viveram dez anos em Paris, o subsídio acabou a meio da estada, o pintor foi-se desleixando no trabalho, perdendo qualidade, desrespeitando prazos, a Academia de Lisboa suspendeu-lhe a bolsa em 1881. Perante as dificuldades financeiras, Josefa decidiu ter aulas de pintura. E foi uma revelação. Dedica-se às flores, arranjos por si dispostos “de uma forma harmoniosa”, notando-se na sua pintura “um cuidado em dispor os elementos de forma a transmitir a noção de beleza e serenidade”, como se lê na dissertação de mestrado de Fernanda Pedro, feita em 2002.
As suas telas começam a ser elogiadas; participa, ao lado do marido, nas grandes exposições em Paris e em Lisboa, integra o Grupo do Leão, em que se encontram, entre outros “artistas modernos”, os irmãos Bordalo Pinheiro. Os seus quadros vendem-se bem, a preços elevados; a sua arte passa a ser o sustento da família. Adolfo Greno fez um percurso no sentido inverso. Quando regressaram a Lisboa, em 1886, ela é uma grande pintora e ele dá lições particulares e, com ela, decora casas. Josefa ganha muito bem, tenta manter uma poupança no banco, mas o marido levanta tudo.
“Viveram os dois esposos uma vida de anelos e de amores, durante largos anos ininterruptamente, até que tão saliente se tornou ao nosso pequeno meio de arte”, escreveu o diário “O Século”. “Viveram 19 anos de lua de mel”, dizia o “Diário de Notícias”. Mas nos últimos seis anos, desde 1895, portanto, que Josefa acumulava raiva contra o marido gastador e bruto no leito conjugal.
No ano anterior às tentativas e ao assassínio, Josefa teve um grande desgosto, talvez o detonador da sua violência. A mãe, que sempre a acompanhara, mesmo em Paris, morreu. Maria Seone já passava dos oitenta anos, mas nunca deve ter deixado de pôr água na fervura da filha e do genro. A pintora nunca mais pegou nos pincéis.
"Não podíamos viver os dois. Ou eu havia de matá-lo, ou teria de me suicidar...", disse no primeiro interrogatório a que foi sujeita, no sábado do crime. Quando lhe perguntaram qual a razão deste seu ato, respondeu: “Ele gastava todo o dinheiro que eu ganhava. Era um desequilibrado. Não podíamos viver bem. A mulher tem os seus direitos”. A dada altura, o chefe Aguiar, a fim de lhe testar o discurso, disse-lhe que o marido ainda vivia. “No ha morrido? Coitado! Deve então sofrer muito!”, exclamou, fazendo uma pausa para concluir: “Deixá-lo! Mato-me eu!”
No domingo, "O Século" pediu uma declaração ao "ilustre alienista" Ferraz de Macedo. Para o encarregado da secção de antropologia junto do juízo de instrução criminal, Josefa Greno pertencia à categoria dos delinquentes responsáveis, embora o seu estado manifestasse um evidente desequilíbrio mental. "Há, porém, a considerar que esse desequilíbrio se traduz somente na obsessão de uma ideia fixa e no fenómeno conhecido dos psicologistas da premeditação lenta. Tudo o mais nela é razoável e normal”, sentenciou.
Quarenta e oito horas depois de ter disparado o seu revólver de bolso, fabricado nos Estados Unidos, Josefa seria novamente chamada a depor. O juiz Pena Calado pensou que ela estaria mais tranquila. A pintora, porém, mostrou-se ainda mais abatida, andando com dificuldade, de lamento em lamento. “O seu aspeto é o de uma louca, causador por isso da mais dolorosa impressão”, escreveu o jornalista “O Século” que, assim como outros camaradas, não teve permissão, desta vez, para assistir ao interrogatório.
Josefa repetirá à polícia, aos médicos que a analisaram durante dois meses no antigo convento de Rilhafoles — hospital psiquiátrico batizado em 1911 com o nome de Miguel Bombarda e encerrado um século depois —, as suas queixas contra o marido, lamentará a sua existência, o sofrimento injusto perante as suas qualidades como pessoa, a sua força para aguentar. O culpado fora ele, o homem que a todos enganara, que tinha amantes, que era uma coisa em casa e outra na rua. Ele era muito bonzinho, dirão os jornais.
PERTURBAÇÃO PARANOIDE DA PERSONALIDADE E NÃO DELÍRIO DE CIÚME
Miguel Bombarda, que será assassinado por um doente dois dias antes da implantação da República a 5 de outubro de 1910, empenhou-se bastante neste caso. Tratou-se de um grande impulso para a sua luta em defesa da irresponsabilidade penal dos doentes mentais que desencadeou “grandes resistências nos tribunais e na opinião”, como escreveu Baraona Fernandes, em 1952, para responder ao livro de Varela Aldemira — uma resposta diplomática mas severa, na separata da revista “O Médico”, a favor do alienista republicano, mas consciente de que “a beleza das flores da Greno será por ventura de todos os tempos”, enquanto as suas interpretações, “como as de Bombarda, murcharão a cada novo progresso científico”.
Em 2002, o psiquiatra Carlos Nunes Filipe, ao apreciar o “relatório médico-legal” e o “complemento para a observação clínica de Josefa Greno”, concluiu que “não se apura sintomatologia que preencha os critérios de diagnóstico de perturbação psicótica. Por maioria de razões, não são preenchidos os critérios de diagnóstico de delírio de ciúme invocado pelo autor [Miguel Bombarda]. Por outro lado, parecem claramente preenchidos os critérios de diagnóstico para perturbação paranoide da personalidade”.
Convidado a pronunciar-se por Fernanda Pedro, no âmbito da sua tese “Vida e Obra da Pintora Josefa Greno”, o professor da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, afirma que "tratando-se de uma perturbação paranoide da personalidade e tendo havido premeditação, bem documentada no processo, não parece ter havido 'incapacidade no momento da prática do facto, de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar de acordo com essa avaliação'".
Josefa Greno morreu no dia 27 de janeiro de 1902, o cortejo fúnebre, no dia 30, para o Alto de São João, o mesmo cemitério em que jaz Adolfo, resumiu-se a uma sege dourada para o caixão, uma outra com o sacerdote e o acólito, e cinco carruagens “com outras tantas senhoras e três cavaleiros”. No dia do seu funeral, sucumbiu em Portalegre uma mulher, Joana Carvalho; na véspera, levara um tiro do marido Manuel Caldeira, quando tinha ao colo uma filha de quatro anos que fraturou um braço ao cair no chão com a mãe.
Feita a autópsia, os médicos concluíram ter morrido a pintora, que sempre se sentiu uma vítima, do “mal de Bright”, ou seja por insuficiência renal crónica. O seu cérebro estava “uma ruína”, segundo Miguel Bombarda, para quem este exame final provou ser Josefa Greno uma alienada, e sobre isso dará uma conferência, na Sociedade de Ciências Médicas, descrevendo numa ardósia as lesões detetadas.
A primeira vez que Madalena Sotto Mayor apareceu no Aljube, logo no domingo seguinte ao crime, Josefa ia desmaiando ao vê-la aproximar-se das grades, onde as presas aguardavam as visitas. Numa sala destinada ao encarregado da prisão, a amiga consolou-lhe o choro, ouviu-lhe o desejo de morrer. A páginas tantas, perguntou-lhe como eram as mulheres que a rodeavam. “Excelentes”, respondeu. “Mas… estão aqui presas”, retorquiu Madalena. “Também eu sou boa e cá estou”, rematou Josefa.
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