Tal como o barro ganhava uma alma, facilmente atestado pelo som que as peças ganham depois de cozidas, o pão também se tornava uma entidade nova. Esta crença subsiste até aos dias de hoje, com o pão a ocupar um lugar central em muitas religiões. O pão, como entidade, é respeitado. Simboliza a vida, afinal de contas.
Diz a tradição que não se deve virar um pão de pernas-para-o-ar, não só porque não é a posição em que melhor se equilibra ou aquela em que fica mais bonito, mas porque é uma falta de respeito. Apesar de tudo, nunca vi ninguém reclamar com o padeiro por ter os pães num monte dentro de um cesto de verga.
Há quem diga que esta tradição se prenda não só com considerações estéticas ou por respeito para com a entidade pão, mas por razões mais práticas.
Uma possível explicação é a lenda do pão do carrasco.
Uma possível explicação é a lenda do pão do carrasco.
Reza, mais ou menos assim: há muitos séculos, nas cidades e vilas onde a maioria dos habitantes não trabalhavam a terra, os fornos comunitários não existiam, cabia aos padeiros fazer e vender o pão a quem o pudesse comprar.
Uma profissão bem paga, tida como necessária, mas muito mal vista era a de carrasco.
Uma profissão bem paga, tida como necessária, mas muito mal vista era a de carrasco.
A associação entre o pão, símbolo da vida, e o carrasco, símbolo da morte, era estranha e, por isso, o pão do carrasco era posto de parte e, para não se confundir com nenhum outro, era virado ao contrário, tornando-se, também ele, morte.
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