A poesia, no Encontro Internacional Poesia a Sul, que decorre até domingo em Olhão, também se mostra através de outras expressões artísticas e até com a luta contra as demolições no Farol e nos Hangares.
O evento foi lançado numa cerimónia que teve lugar no Salão Nobre da Câmara de Olhão, onde marcaram presença o poeta olhanense Fernando Cabrita, mentor da iniciativa, uma pintora e um escultor, cuja obra está exposta no âmbito do festival, e dezenas de ilhéus em protesto contra a anunciada tomada de posse de 81 casas em dois núcleos habitacionais da Culatra.
A presença tranquila e silenciosa dos ativistas anti-demolições marcou os discursos da cerimónia de abertura do evento, mas não os prejudicou. Antes pelo contrário. Para Fernando Cabrita, todos os que estiveram na sala «foram lá por causa da poesia, mesmo os que não o sabem», já que, ao longo da história, «onde há lutas há, também, poetas». «A poesia está sempre na primeira linha das lutas, lado a lado com os combates sociais», considerou.
«Este ano, o Poesia a Sul, infelizmente, também é luta. E isto vem confirmar aquilo que muitas vezes se diz: a poesia se não estiver ligada à realidade, à sociedade e ao mundo, é perfeitamente inútil» disse Fernando Cabrita ao Sul Informação.
Uma forma de tornar esta expressão artística ainda mais útil é levando-a até aos locais onde as pessoas estão, mas também mostrando que esta pode ser encontrada em muitos locais. O escultor Alberto Germán confessou, mesmo, que «sem a poesia e sem a música, a minha arte não seria a mesma».
A segunda edição do Poesia a Sul teve um crescimento substancial em relação à edição de 2015, muito por culpa do apoio do programa cultural «365 Algarve».
«Este programa cobre boa parte dos custos do evento. Isso dá-nos uma maior responsabilidade na sua execução e a obrigação de investir mais no Poesia a Sul, no ano que vem, se o Algarve 365 se repetir», disse o presidente da Câmara de Olhão António Pina. Mesmo sem este financiamento extra, o evento têm já garantida uma 3ª edição, a fazer fé nas palavras do edil.
Até porque esta é, acima de tudo, uma afirmação de Olhão como terra de cultura. «Em Olhão também há gente que pensa e que faz cultura. Há intelectualidade na nossa cidade», considerou o autarca. O Poesia a Sul procura que esta seja conhecida por todos.
A grande novidade da edição de 2016 é a introdução de outras expressões artísticas, desde a música às artes performativas, passando pelas artes plásticas. Também nova é dimensão internacional, já que marcarão presença no evento convidados do Vietname, Marrocos, Chile, Espanha, Brasil, França e, naturalmente, Portugal.
No fundo, os 10 dias que dura o Poesia a Sul são uma oportunidade de intercâmbio e partilha para os poetas e artistas que nele participam, através de palestras, debates, mesas redondas, apresentações de livros, leituras, homenagens, exposições, espetáculos variados e momentos de convívio. «Este é um momento de troca de experiências literárias, mas também de valores e éticas entre os participantes», resumiu Fernando Cabrita.
Esta oportunidade estende-se a todos os interessados, já as diferentes iniciativas são abertas à participação do público em geral. É por isso que os olhanenses e aqueles que visitam o concelho andam a cruzar-se com poesia há quase uma semana e continuarão a fazê-lo nos próximos três dias.
Desde sexta-passada, dia em que foi inaugurada uma exposição com trabalhos da artista plástica olhanense Joana Rosa Bragança e do escultor espanhol Alberto Germán no Auditório Municipal de Olhão, têm-se sucedido iniciativas, em vários pontos da cidade de Olhão. E se há locais mais óbvios para se mostrar poesia e outras artes, como o auditório, o museu ou a Biblioteca Municipal, há outros inesperado, como restaurantes e bares.
Até dia 30 de Outubro, domingo, esta expressão literária continuará a ser rainha em diferentes locais de Olhão. E também não faltará poesia, ou pelo menos sentimentos poéticos, no Farol e nos Hangares, tendo em conta a vitória conseguida esta semana pelos ilhéus na sua luta contra as demolições. Afinal, a tomada de posse das casas, originalmente marcada para ontem, foi adiada e a ameaça de demolição só pende, neste momento, sobre 62 casas.
Veja as fotos da exposição de Joana Rosa Bragança e de Alberto Germán no Auditório de Olhão, que pode ser visitada até domingo:
www.sulinformacao.pt
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