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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O TIROTEIO


O tiroteio

I.
Os excessos de euforia podem trazer tantos problemas ou mais do que os estados melancólicos. Um mergulho numa festa frenética regada a álcool e muitos disparates na pista de dança podem conduzir a uma operação stop. O que pensamos de madrugada numa avenida atafulhada de polícias e bêbados pode ser muito estimulante. Depois de namorarmos com a maquina e ela devolver-nos a afeição em números elevados resta-nos esperar pela sentença. 

II.
Podemos optar por aceitar que a leitura está correcta, que é a percentagem de veneno que nos corre nas veias e colocar a cabeça no cepo sem grande alarido. Podemos contestar, dizer que as máquinas também são humanas, não acreditar termos bebido tanto, ir ao hospital fazer umas análises e dar um passeio ao tribunal para dizer de nossa justiça. Faço um cálculo rápido, apressado por três pares de olhos policiais interrogativos e volto à adolescência. Aos anos que andei a conduzir sem carta, às bebedeiras a dar ao acelerador, à vez em que parti o separador central da ponte 25 de Abril. Olho novamente para o valor da multa e parece-me afinal um preço justo. Até parece-me pouco para a quantidade de disparates no currículo nunca punidos. Passem-me para cá a coima e não falamos mais disto.

III.
A burocracia precisa de tempo para funcionar de forma eficiente. Vou fumar cigarros para a viatura com vista para a ilegalidade fora-de-horas. E depois recordo-me do sonho da noite anterior. Estava no meu carro, era de noite e na rua a confusão instala-se, alguém tem uma arma na mão, dispara. Ouvem-se dois tiros, perfuram a chapa do carro e instalam-se no meu corpo. Um na perna, outro no peito. Digo aos meus companheiros que fui atingido e tenho de lhes mostrar as balas para perceberem que é verdade. Balas pequenas de metal brilhante cravadas no meu organismo sem uma única gota de sangue à mostra. Olho para a avenida, para os polícias, os carros a parar, os bêbados e percebo que estou a viver o sonho. Quando um carro suspeito é mandado parar à frente do meu, começo a sentir o início do ataque de pânico, um sabor metálico na boca.


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