Margarida Botelho
Onde anda o Correio da Manhã?
Não é caso único, mas o Correio da Manhã tem-se destacado no panorama dos órgãos de comunicação social portugueses por um activismo muito militante em torno de concepções retrógradas e populistas.
Podíamos falar das muitas páginas de anúncios de prostituição. Ou da escolha das notícias de crime como o elemento diferenciador face à concorrência. Mas o objectivo deste pequeno texto não é fazer uma análise circunstanciada às opções do jornal generalista mais lido do País. É apenas assinalar duas pequenas falhas de honestidade intelectual.
A primeira é sobre o financiamento dos partidos políticos. Há todo um discurso construído na sociedade portuguesa, profundamente instigado e alimentado pelo Correio da Manhã e pelos seus mentores, contra a política, os políticos, contra a cambada que vive à conta do orçamento, que faz contas a quanto «custa» cada voto, ou publica declarações de rendimentos de titulares de cargos políticos para lançar suspeições sobre todos. Concepções que objectivamente enchem as campanhas dos que odeiam a democracia, a participação popular e as liberdades em geral. Ora, tendo o Correio da Manhã tanto gosto em aprofundar o tema do financiamento dos partidos políticos, não teria sido adequado fazer uma chamada de capa para a proposta do PCP de reduzir o financiamento público dos partidos, que na semana passada foi reapresentada?
A segunda é sobre o chamado IMI do sol. O assunto fez correr rios de tinta e ocupou muito espaço em murais de facebook, entre proclamações inflamadas, piadas de gosto duvidoso e muita hipocrisia do PSD e do CDS. Como o Correio da Manhã teve o seu lugar no pelotão da frente desta campanha, não seria de esperar uma manchete bem grande a anunciar a proposta do PCP de que o agravamento deste critério no cálculo do IMI só se aplique a imóveis acima dos 250 mil euros?
Como dizia o anúncio, poder, podia, mas não era a mesma coisa. Não fosse o Correio da Manhã ter que reconhecer razão ao PCP. Ou, pior ainda, dar elementos aos seus leitores que os ajudassem a concluir que o PCP é um partido diferente de todos os outros.
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