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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Não há imperialismo menos mau, todos significam exploração, rapina, saque, guerra, morte



Entrevista especial com Pavel Blanco, Primeiro Secretario do Partido Comunista de México, para a internationalcommunist press (http://icp.sol.org.tr/node/287)

Não há imperialismo menos mau, todos significam exploração, rapina, saque, guerra, morte


Importante entrevista do 1º Secretário do PCM, em que aborda as difíceis condições de luta no seu país - incluindo a violência paramilitar - a situação dos trabalhadores mexicanos nos EUA, o carácter inseparável da luta antimonopolista e anti-imperialista, o esforço de, dia a dia, construir o partido revolucionário.


ICP: Nos últimos anos a violência no México, seja a relacionada com os grupos narcotraficantes ou seja a que parte da clara actividade paramilitar, contra as forças, organizações e pessoas progressistas e sobretudo comunistas, vem aumentando de forma óbvia. O seu Partido, o PCM, sofreu também ataques por parte destas forças paramilitares; quais são as causas objectivas desta onda de violência e quais são e serão as consequências desta situação no quadro da luta de classes na perspectiva da classe operária? E ainda, qual é a relação desta situação com o imperialismo estado-unidense, que nunca deixou de marcar presença no México?

Pavel Blanco: Em primeiro lugar uma saudação muito fraterna a este meio informativo do Partido Comunista de Turquia, com o qual estamos irmanados e com quem compartilhamos trincheiras comuns para o reagrupamento revolucionário do movimento comunista internacional. Aproveitamos para reiterar a nossa solidariedade face aos acontecimentos políticos que convulsionam a luta de classes nesse país.
No México pode demonstrar-se literalmente aquilo que Marx exprimia acerca do capitalismo jorrar lodo e sangue por todos os seus poros. A onda de violência que nos atinge, com mais de 200.000 mortos em 10 anos, não é uma falha do sistema mas a consequência lógica do capitalismo que é barbárie, terror, incerteza, fome, morte. A chamada guerra do narcotráfico, na qual o Estado mexicano está directamente envolvido, é um processo de rearrumação de mercados, rotas, parceiros, para o controlo desse negócio, que além do mais se branqueia rapidamente com os investimentos financeiros, imobiliários e também produtivos, e referimo-nos não só à agro-indústria, mas também a ramos como a metalomecânica, a siderurgia, e a indústria extractiva. É pois um processo de ampliação da acumulação, um novo ramo da economia que tem rapidamente reflexos na política, com dinheiros que compram partidos, candidatos, ou funcionários já eleitos, presidentes de municípios, deputados, senadores, governadores, e que influem fortemente na Presidência da República.
E nesta direcção é necessário semear o terror, desmobilizar, imobilizar, para evitar qualquer possibilidade de protesto e oposição ao desapossamento de terras e territórios, evitar a organização sindical ou popular para impedir os processos de sobreexploração.
E muito significativo que seja impulsionado um deslocamento de população que dizima cidades como Ciudad Juárez ou deixa desertos povoados e territórios, como em Tamaulipas e, paradoxalmente, depois de os habitantes terem sido expulsos e terem arrematado as suas habitações e terrenos, nessas zonas terem sido encontrados novos poços petrolíferos ou zonas mineiras.
As organizações populares sofrem tal terrorismo de Estado, como o sofrem as expressões classistas dos trabalhadores da educação, a Federación de Estudiantes Campesinos Socialista de México (à qual pertencem os 43 estudantes desaparecidos de Ayotzinapa) e evidentemente o PCM, já que cinco camaradas, entre os quais Raymundo Velázquez que era o Secretario Político nessa região, foram assassinados em Guerrero por se oporem à presença de mineiras canadianas, ou o camarada Enrique López, membro do nosso Comité Central, actualmente desaparecido em Tamaulipas; além de vários presos, bem como camaradas sujeitos a processos judiciais. Queremos esclarecer que consideramos isto como consequência de ter uma posição específica na luta de classes, ou seja de lutar pela Revolução, porque só aqueles que não fazem nada estão fora da possibilidade de sofrer golpes.
É verdade que o centro imperialista norte-americano tem grandes interesses, e que foi quem promoveu desde finais dos anos 70 as operações do narco no México, em concertação com grupos colombianos, para financiar a luta contra a insurgência em Nicarágua e outros países da América Central, isso não é segredo, mas também há que sublinhar a presença de capitais chineses, que se apropriaram do importante porto de Lázaro Cárdenas Michoacán, onde é conhecido que intercambiam aço por químicos necessários para o processamento da matéria-prima em droga.
Queremos deter-nos nesta questão que é teórica e prática: no México, e poderíamos assegurar que em quase toda a América Latina, identifica-se o imperialismo com o imperialismo norte-americano, o que gera graves problemas estratégicos e erros políticos constantes. No PCM fazemos a avaliação de que o imperialismo é a fase actual do capitalismo e que se caracteriza por ser um capitalismo dos monopólios, o que significa que para nós o imperialismo não é apenas algo exterior, mas também interior. Fala-se do imperialismo norte-americano e esquece-se o combate contra o centro imperialista da UE, ou contra o acordo inter-imperialista que Rússia e China articulam, e chega-se a ver com simpatia outros acordos inter-estatais entre economias capitalistas, como o MERCOSUR. Para nós a luta anti-imperialista não é anti norte americanismo, mas antimonopolismo, e passa por confrontar os monopólios do nosso país e qualquer centro imperialista, não há imperialismo menos mau, todos significam exploração, rapina, saque, guerra, morte.

ICP: Há milhões de cidadãos do México e descendentes de Mexicanos nos Estados unidos, a sua imensa maioria é parte da classe trabalhadora do referido país. Os Estados Unidos nunca foram um exemplo de integração e aceitação mas nos últimos anos a xenofobia aumenta de forma importante nos Estados Unidos, e os Mexicanos como maior grupo imigrante dos Estados Unidos encontram-se sob uma forte repressão. Que opinião têm acerca da presença e papel dos trabalhadores Mexicanos na luta da classe operária nos EUA e do carácter de classe da xenofobia nos EUA?
PB: Há cerca de 20 milhões de trabalhadores mexicanos ou de origem mexicana nos EUA, e aumentam dia após dia e ano após ano; é nosso dever contribuir para a sua consciencialização e organização; durante o processo da Revolução democrático-burguesa do século anterior os trabalhadores mexicanos nos EUA foram um bastião da luta anti ditatorial que apoiava política e financeiramente as forças revolucionárias do nosso país; o fenómeno migratório disparou com a Segunda Guerra Mundial e, conforme a necessidade de mão de obra, a fronteira norte-americana e os mecanismos anti-imigrantes flexibilizam-se ou endurecem; de tempos a tempos recrudesce a xenofobia, o racismo, não só contra os trabalhadores de origem mexicana, mas contra os de todas as nacionalidades que por razões económicas arriscam a sua vida para aí procurar trabalho.
É um dever do PCM, que estamos a cumprir, lutar por organizar os trabalhadores mexicanos para apoiar o processo revolucionário no nosso país e também para intervir na luta de classes, pelos seus direitos e reivindicações juntamente com os trabalhadores norte-americanos e de outras nacionalidades que são explorados nos EUA. Isso passa por contar com estrutura partidária nas fronteiras, o que vamos avançando, e por começar a ter células do PCM entre os trabalhadores mexicanos nos EUA.
É claro que o carácter de classe do racismo é um dos pilares ideológicos da dominação imperialista, que ataca todos os trabalhadores.

ICP: Donald Trump já é oficialmente o candidato republicano às eleições presidenciais, é conhecido pela sua retórica anti imigração, anti operária e muito claramente racista, em particular em relação aos Mexicanos. O que é que espera os trabalhadores Mexicanos nos EUA se Donald Trump é eleito, e a mesma pergunta também para a classe operária nativa no México? 


PB: Ganhe a senhora Clinton, ou ganhe Trump, perdem os trabalhadores norte-americanos e os de outras nacionalidades que integram a mão de obra imigrante. Trump parece um espantalho que está destinado a expressar: “vote pelo mal menor, vote pelos democratas”; o que consideramos uma posição muito perigosa; democratas ou republicanos, os partidos burgueses dos EUA praticam uma política que é funcional para o imperialismo. Já vimos derrubar-se o mito de que era um sistema só para brancos, e a administração Obama revelou-se tão belicista, tão agressiva, que não tem nada a invejar ao seu predecessor Bush; estamos seguros que veremos derrubar-se o mito de que com uma mulher à frente dos EUA o mundo iria melhor: ilusões, puras ilusões.
Nem a Clinton, nem Trump, e lamentamos a equivocada política do PC dos EUA, que navega com a bandeira oportunista de escolher o mal menor. Qualquer que ganhe será um inimigo jurado dos trabalhadores dos EUA e dos povos do Mundo.

ICP: A violência e a repressão aumentam, mas também vemos que a resistência das forças progressistas e dos comunistas crescem igualmente em números e em força no México e que há um visível potencial revolucionário na realidade Mexicana. Quais são os desafios, as oportunidades e o potencial da política revolucionária no México?


PB: Assim é, a luta de classes intensifica-se, e o conflito socio classista está presente, é evidente. O antagonismo capital/trabalho marca os ritmos, sobretudo com as chamadas reformas estruturais que o Estado mexicano aplicou, consistindo em medidas para desvalorizar o trabalho e procurar a estabilidade do sistema a meio da crise económica.
Nós consideramos maduras as condições para um processo revolucionário, que segundo as nossas apreciações terá uma natureza anticapitalista, antimonopolista e pelo socialismo-comunismo. Consideramos que é de momento um grande obstáculo o desencontro entre as bases objectivas, os limites do capitalismo e as condições subjectivas que estão em atraso; por isso desde o V Congresso do PCM estamos a trabalhar em duas direcções para resolver esta questão: construir um forte movimento operário e sindical classista e o próprio desenvolvimento partidário nas principais zonas estratégicas da economia.
Estamos conscientes de que sem um partido comunista forte nenhum processo revolucionário terá possibilidades de triunfar.
Há outras forças revolucionárias ou anticapitalistas em México, mas nenhuma coloca o centro da sua actividade no proletariado; no PCM insistimos em que será a classe operária o epicentro da transformação revolucionaria, é essa a nossa vantagem.
Umas palavras sobre um ingrediente necessário dos processos revolucionários: a unidade. Nós não a vemos como a simples soma de organizações, mas como unidade de classe; para isso trabalhamos, lutando cada dia em cada local de trabalho.


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