56. Meu querido mês de Agosto
As raízes que ele tinha com a terra foram criadas no mês de Agosto. Os pais, ainda novos, emigraram para a Alemanha fugindo à fome e à miséria que grassava pelos confins do Alentejo nos tempos em que Salazar apregoava a paz e a prosperidade do seu país. E foi na Alemanha que nasceu e cresceu. Quando fez dez anos de idade, já com o antigo regime deposto, veio pela primeira vez a Portugal. Estavamos no mês de Agosto.
A dificuldade na aprendizagem da língua e não qualquer outro sentimento de preservação cultural da identidade, coitados nem sabiam o que isso era, fez com que em casa só se falasse português. É assim que Mikael Romão, nascido e criado em Dortmund, mas de cor tigenada e olhos castanhos, aparece na aldeia a falar um português, não perfeito como não poderia deixar de ser, mas com o sotaque das suas gentes, com o carregado do Baixo Alentejo, com algumas das expressões idiomáticas e tudo isso apurado por cada mês de Agosto que aqui passava, na modesta casa de telha lusa e tetos de caniço da sua avó paterna. E se não fosse por outra coisa, as moças de ar trigueiro e face rosada, que ”ballhavam” ao som da concertina, em frente à Casa do Povo, todos os anos pela festa da aldeia, obrigavam-no a contar os meses e os dias para cada regresso às berças.
Carlota tinha crescido, desde a primeira vez que o seu coração tinha palpitado por ela. Ele não se lembra se foi aos treze ou se foi aos catorze anos que reparou nela pela primeira vez. Carlota vivia na aldeia, era filha de pais remediados que tinham qualquer coisa de seu, umas rendas de umas casitas que os avós lhe deixaram. De uma máquina ceifeira debulhadora, que comprara com a ajuda dos pais e de um fundo agrícola, e que ela manobrava tão bem como qualquer homem, fez o seu ganha pão diário, trabalhando sol a sol para os fazendeiros. Isso tudo junto permitiu a Carlota, agora na casa dos vinte e um anos, nunca sair da aldeia. E como Carlota bailava bem! Um dia, mais afoito, com o seu grande amigo Zé Simão, enquanto no palco os Tubarões do Ritmo ensaiavam uma moda brejeira de Artur Gonçalves e Carlota dançava com Januária, aproximaram-se das duas e, com olhar matreiro, ele perguntou-lhes, as meninas apartam? Estavamos em pleno mês de Agosto.
PS. De hoje em diante, o autor assina os textos e as fotos com o seu próprio nome. Quem se acostumou a chamar-me Constantino (e os mais antigos Pre) pode continuar, obviamente, a fazê-lo.
PS. De hoje em diante, o autor assina os textos e as fotos com o seu próprio nome. Quem se acostumou a chamar-me Constantino (e os mais antigos Pre) pode continuar, obviamente, a fazê-lo.
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