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domingo, 7 de julho de 2019

Resistente antifascista recorda Movimento de Unidade Democrática


Publicado em Cultura por: Joao Corregedor da Fonseca (autor)

Um punhado de corajosos democratas enfrentou, há setenta e quatro  anos, o regime fascista ao requerer ao Governo Civil de Lisboa autorização para a realização de uma sessão pública no Centro Republicano Almirante Reis. Tratava-se de oposicionistas que, que apesar do rigor e da repressão da ditadura, envidaram esforços para darem inicio a uma nova movimentação política sempre proibidas em coerência com o tipo de actuação do governo que cerceava, com mão-de-ferro todas as liberdades cívicas como, é evidente, as de reunião de associação.
Salazar foi apanhado de surpresa, mas não pôde, na altura, opor-se porque teve necessidade de dar um ténue sinal exterior ao conceder uma pequena abertura à oposição democrática, com claro receio de que fosse aplicada uma das conclusões da conferência de "Potsdam", realizada em Maio de 1945 entre os lideres dos países aliados, que previa o derrube de ditaduras europeias, como a de Portugal, Grécia, Espanha e países do Leste Europeu.
O regime viu-se, então, na contingência de possibilitar a efectivação daquela reunião democrática que congregou cerca de três centenas de antifascistas e que culminaria na criação do MUD - Movimento de Unidade Democrática que teve uma enorme repercussão política durante o período em que se manteve.
No momento em que sentiu as costas quentes, ou seja, quando se apercebeu que, afinal, a Inglaterra, a França e os Estados Unidos o protegiam, em manifesto incumprimento do decidido em Potsdam - apenas a URSS se manteve fiel à sua palavra - Salazar imediatamente ordenou à PIDE que fizesse tombar, com mais severidade, o manto da repressão semeando sobre o País novas violências, perseguições, torturas e assassinatos perpetrados contra quem ousasse exprimir opiniões contrárias ao fascismo exigindo a implementação das liberdades cívicas.
Na história da luta antifascista o MUD ocupou e ocupará sempre um lugar de relevo pelo alto significado político que representou. Pelas suas características, eminentemente patrióticas, foi possível cimentar-se a unidade entre democratas das mais diversas tendências, de ateus ou crentes, que souberam suplantar naturais divergências com o único intuito de criar condições para se enriquecer ainda mais o combate que se travava e para, sem desânimo, não obstante os perigos que se corria, tentar derrubar um dos regimes ditatoriais mais disciplinados e violentos que existiam.
Vivia-se num tempo em que se mantinham cadeias sinistras como o Campo de Concentração do Tarrafal construído em 1936 à semelhança dos fundados na Europa pelos nazis. Nesse Campo de Morte como era conhecido, que se manteve até 1945, muitos cidadãos - mesmo jovens de 17 anos - sofreram as piores agruras em condições infra-humanas e onde morreram, sem assistência médica ou pura e simplesmente eliminados, trinta e seis tarrafalistas. Era este regime que as potências do chamado Ocidente democrático suportavam, com dinheiro e com armas e que, pouco depois do fim da guerra, não hesitariam em convidar para ser um dos países fundadores do bloco militar agressivo, a NATO! Anos mais tarde, apesar do fascismo que predominava, das Nações vencedoras da guerra apenas a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas se opôs à entrada de Portugal na ONU.
Recorde-se que o Tarrafal foi reaberto em 1962 com o objectivo de lá serem presos, até à Revolução do 25 de Abril de 1974, milhares de africanos que integravam legítimos Movimentos de Libertação em luta contra o colonialismo que ferozmente submetia aqueles Povos a uma dolorosa e injusta guerra que a oposição democrática em Portugal repudiava.
Foi realmente num quadro particularmente difícil, muito duro, em termos políticos e sociais para o Povo português confrontado com elevados índices de analfabetismo e com a desenfreada exploração do patronato sobre operários e camponeses, enfim, contra a generalidade da população trabalhadora, que se constituiu o MUD.
Já lá vão setenta e quatro  anos, é certo, mas relembrar aquela época nas páginas da Seara Nova pode revelar-se de interesse para os leitores. A memória histórica não pode ser olvidada. Recordar, analisar, valorizar acontecimentos políticos relevantes ocorridos na luta antifascista deve, por certo, contribuir para se esclarecer, na medida do possível, os cidadãos, nomeadamente as gerações mais novas, tanto mais que são parcos os programas de ensino dedicados ao estudo do fascismo. Ressalvando naturais e honrosas excepções de académicos e de historiadores sérios.













Por esse motivo, inserimos na anterior edição da revista um dossier relacionado com o Movimento de Unidade Democrática. Entendemos contudo que, apesar das excelentes colaborações publicadas, nos devíamos pôr em campo para tentar descortinar se ainda existiam resistentes antifascistas que tivessem acompanhado o MUD, naqueles já longínquos anos. Acabamos por encontrar um desses portugueses que, com coragem, com determinação, enfrentaram o regime. Trata-se de Marcos Rolo Antunes. A sua idade ultrapassou já os 90 anos. Os fascistas bem o conheceram. Perseguiram-no, atiraram com ele seis vezes para as masmorras da PIDE das quais foi libertado dois dias depois do 25 de Abril.
E lá fomos ao seu encontro para uma longa conversa, de horas, na sua casa onde reside, há dezenas de anos, na Cova da Piedade. Esta é uma localidade situada na margem sul do Tejo, a seguir a Almada, na qual prevalecia uma grande comunidade operária proveniente de indústrias fortes cujo principal expoente era a Lisnave. Hoje aquela zona que teve tanta relevância económica para o País é uma sombra do que foi. Já pouco se nota do ruidoso convívio havido entre milhares de trabalhadores. Com a entrega aos Mellos daquela unidade industrial, acompanhada de choruda indemnização, reconhecida mundialmente como das mais competentes e lucrativas, logo os seus proprietários trataram de a encerrar. Foram para outras paragens no estrangeiro. O governo, presidido por António Guterres, não acautelou os interesses nacionais facilitando, assim, com a lamentável privatização da Lisnave a sua rápida destruição. Num ápice muitos milhares de postos de trabalho desapareceram, a economia portuguesa sofreu um pesado golpe.
Marcos Antunes é, ainda hoje, uma figura muito popular na Cova da Piedade. Isso mesmo se comprovou quando centenas de piedenses celebraram festivamente, há cerca de dois anos, o seu 90º aniversário. Não esquecem o contributo deste cidadão na defesa intransigente dos interesses das massas trabalhadoras e a sua consequente e sacrificada actividade contra o regime.
Recebeu-nos com toda a tranquilidade. É um homem de porte mediano, magro, de voz muito baixa. Aparenta ser calmo. O seu semblante respira seriedade, mas quando se recorda de alguns momentos políticos mais complicados, quando evoca injustiças, os seus olhos revelam dureza. Por exemplo, Marcos Antunes quando se refere à actualidade politica, a Passos Coelho e Portas, ou ao comportamento de Cavaco Silva o seu olhar fica mais frio, mais penetrante. Compreende-se. Marcos, que dedicou toda a sua vida de adulto à luta pela implantação das liberdades cívicas não aceita, em circunstância alguma, e com razão, os que não respeitam a Constituição, a Democracia.
Em sua casa Marcos está rodeado de livros, jornais, documentação variada, espalhados pelos quatro cantos das salas. Tudo amontoado, mas ele surpreendeu-nos ao procurar, sem se perder, naquela confusão aparente um determinado documento, umas notas, um recorte de Imprensa por mais antigos que fossem. Durante algum tempo sua filha, Ana, acompanhou-nos ouvindo, em silêncio, as recordações de seu pai. Nunca foi preciso ajudá-lo a relembrar qualquer data. Não foi preciso porque o Marcos Antunes, com aquela idade, apesar dos pesados anos de chumbo que viveu sob o fascismo, não perdeu capacidade alguma. Tem uma memória de ferro. Recorda, sem esforço, datas e, até, horas em que se registou um ou outro episódio. E, assim, foi decorrendo, com gosto, a nossa conversação, ainda por cima bem disposta porque o nosso interlocutor tem graça e ri-se sem dificuldade quando se refere a algumas situações que, não deixando de ser dramáticas, só podem ser classificadas como verdadeiramente caricatas.
As bandeiras do Benfica
E foi com boa disposição que começou por nos dizer:
"Eu era muito jovenzito, um putinho, não conhecia, nem percebia nada de política, a não ser ter tido um tio preso nas greves de 1943. Foi levado para a Mitra. Mas comecei a ganhar consciência política em 1945 quando, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, fui apanhado por uma grande manifestação de regozijo pelo termo da II Guerra Mundial. Ainda hoje me lembro da alegria do Povo, das canções entoadas, das miríades de bandeiras do Benfica."
Do Benfica? Perguntamos. Por resposta ouvimos algo de surpreendente:
"Sim, eram do Benfica porque fora proibida a bandeira da URSS, País a quem se deve, antes de mais, a vitória sobre o nazismo. - neste momento Marcos Antunes dá uma gargalhada - Ora, como a bandeira do Benfica era, e é, vermelha as pessoas usavam-na simbolicamente, como se fosse a bandeira comunista..."
Já agora, depois de ouvir esta referência à bandeira vermelha, é bom lembrar, principalmente aos mais novos uma situação criada a propósito de cores também ela caricata. A censura à Imprensa filtrava tudo e, na dúvida, usava o lápis azul arbitrariamente. Por isso, proibiu que nos jornais ou nas emissoras de radio se escrevesse ou se referissem palavras como vermelho, socialismo, popular, soviético ou oriental. Assim, o vermelho foi substituído por encarnado; União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ou
República Popular da China passaram a ser obrigatoriamente referidas como Rússia e China. Nada de soviético nem de popular. Ao regime fascista nada escapava e chegava a esses absurdos e medíocres pormenores.
Voltemos a Marcos Antunes:
"Recordo que alguns dos manifestantes recolhiam assinaturas que, como mais tarde me explicaram, seriam de apoio à constituição do MUD, movimento que se pretendia legalizar. Infelizmente várias dessas folhas foram parar à PIDE. Também assinei. A partir de então não mais deixei de me envolver em actividades contra o regime particularmente no MUD Juvenil que surgiria mais tarde. Entrei em diversas acções contra o fascismo promovidas normalmente em circunstâncias bem difíceis e que levavam à repressão, à prisão dos que se lhe opunham.
Sem experiência política cumpria todas as missões de que me encarregavam. Era um trabalho de apoio, ainda não podia entrar nos meandros organizativos. A pouco e pouco, porém, fui-me integrando na acção colectiva, acompanhando as difíceis lutas dos trabalhadores por melhores condições de vida.
E assisti, oh! se assisti, a situações dramáticas em que viviam famílias inteiras, à exploração de quem trabalhava arduamente, a tomar conhecimento das constantes perseguições e maus tratos da PIDE, da prisão daquele amigo, da prisão de outros tantos. Também me lembro que, dois anos antes, alguém morrera às mãos da polícia política como o operário Alexandre Dinis, o Alex, assassinado em 1945 na estrada de Bucelas. Em Cacilhas há uma Praça com o seu nome. Os fascistas não lhe perdoaram o exemplar papel por ele desempenhado como um dos inspiradores de greves, como as de Agosto de 1943, que juntou mais de 50 mil trabalhadores. E isto, meu menino, há setenta e tal anos quando a repressão apertava. As pessoas, hoje, não fazem a mais pequena ideia do sofrimento da população trabalhadora.
Vivi num tempo em que se sofria em Portugal as consequências da Guerra Civil em Espanha. Faltavam géneros de primeira necessidade, assisti a episódios muito tristes que se iriam repetir aquando da guerra movida pela Alemanha nazi. Observei as grandes greves ocorridas nas Tabaqueiras, em 1936, que foram duramente reprimidas. A PIDE mantinha atenta vigilância, assim como a GNR que era implacável nas perseguições aos trabalhadores agrícolas. Basta recordar o assassínio de Catarina Eufémia, grávida, abatida a tiro em Baleizão."
Actividade associativa
Marcos continuava o seu relato. Agora sobre o ambiente associativo na zona onde residia.
"A certa altura, na zona oriental de Lisboa, deu-se um acontecimento que reputo de muito importante. No bairro do Beato conheci um homem que viera do Tarrafal onde esteve preso, Manuel Rodrigues da Silva que viria a ser, na clandestinidade, dirigente do PCP e que morreria em Moscovo. Conhecido por Manolito, teve a ideia de juntar os três clubes que por lá havia e que, como é evidente, sobreviviam com naturais dificuldades.
Propôs que, em lugar de concorrerem uns contra os outros, se unissem, se fortalecessem. Eram o Chelas, O Fósforos e o Marvilense - este, na sua categoria, fora campeão distrital de Lisboa. Nesses clubes havia comunistas como José Campino que chegou a presidente do Clube de Campismo, ou o Xico Louro. Tinham uma preparação ideológica firme e influenciavam positivamente os associados.
Surgiu, então, em Agosto de 1946, o Clube Oriental de Lisboa que chegou a disputar a I Divisão do Campeonato de Futebol e que actualmente participa na II Divisão. Este clube ganhou muita popularidade em todo o País. Viria a ter uma longa actividade não só desportiva como social e cultural. A direcção, onde havia muitos oposicionistas ao regime, decidiu convidar o MUD para realizar um comício, que foi autorizado. Na altura, a Salazar não convinha proibir esse tipo de actividades políticas. O fascismo abanou um pouco, é verdade, mas não desarmou.
Foi uma festa! Todo o Poço do Bispo, onde havia muito operariado, veio para a rua a cantar. Os carros eléctricos foram obrigados a parar e a polícia acabou por prender alguns jovens.
No comício, muito concorrido, intervieram Maria Isabel Aboim Inglês, Mário de Azevedo Gomes, Bento de Jesus Caraça, Óscar Reis e a jovem Fernanda Silva, entre outros. O Coro da Academia dos Amadores de Música, dirigido por Lopes Graça, também participou. Como se vê, havia uma ligação estreita entre o movimento associativo e a oposição democrática.
Mas deixa-me falar um pouco mais do Oriental. Fizémos no clube uma quantidade de coisas. Tínhamos escolas de jogadores de várias modalidades, mas também uma Comissão Cultural, comissão esta que não gostava de futebol e que logo organizou um certame intitulado 10 Dias de Arte, que teve grande aceitação popular. E criou-se um grupo cénico. Simultaneamente as mulheres decidiram promover um curso de corte e costura. Juntámos nesses cursos centenas de raparigas que, assim, passaram a ficar ocupadas. Muitas delas aprenderam a ler nas instalações do clube. Eram filhas, mulheres, irmãs, amigas de muitos operários nomeadamente da Fábrica de Material de Guerra de Braço de Prata. Não era por acaso que o regime, através da PIDE, mantinha o Oriental sob mira, cujos corpos gerentes integrei.
Portanto, a luta desenvolvia-se em várias frentes nomeadamente no âmbito das colectividades."
Racionamento e alimentos para os nazis
A voz do Marcos continuava velada, calma. Obrigava-nos a estar bem atentos. O desfiar das suas recordações de muitas décadas leva-nos a imaginar como era terrível a realidade que o Povo era forçado a viver. Ao caracterizar a situação que se abatia sobre as famílias, sobre os trabalhadores, sublinhou com profunda tristeza:
"Havia tanta fome, tanto desemprego, tanta doença, tanta criança descalça... Ainda por cima vivíamos com senhas de racionamento para aquisição de bens essenciais. Estive muitas vezes em bichas para o carvão ou para o petróleo."
E com vigor, com indignação, acentuou:
"Ao mesmo tempo que o povo enfrentava imensas dificuldades víamos passar comboios e mais comboios carregados na Manutenção Militar de mantimentos e de medicamentos transportados, primeiro, para a Espanha e, depois, para a Alemanha. Salazar não enganava: apoiava declaradamente Franco e Hitler, assim como admirava o fascista Mussolini.
O MUD na minha opinião constituiu o alargamento, digamos assim, do MUNAF - Movimento de Unidade Antifascista - que surgira ilegalmente em 1943 e que perdurou, salvo erro, até 1947. O MUNAF para cuja fundação em muito concorreu Bento de Jesus Caraça reuniu o PCP, Republicanos, elementos que viriam a constituir a União Socialista, gente do antigo Partido Socialista, o Grupo Seara Nova e muitos outros.
Eu acompanhava o MUD, embora me envolvesse fortemente no MUD Juvenil. O MUD, como grande movimento de massas, organizou comícios na Voz do Operário, em Lisboa, e noutras cidades, exigindo eleições livres, liberdade de associação e de manifestação e recenseamento geral e universal. Tudo servia para a oposição fazer ouvir a sua voz como aconteceu nos convívios na Quinta de S. Vicente, nos célebres jantares no Restaurante Castanheira de Moura, ali para os lados do Lumiar, creio eu, em concentrações junto do Monumento a António José de Almeida, ou em Romagens no Cemitério do Alto de S. João (anteriormente chamado Cemitério Oriental) promovidas nos dias 31 de Janeiro e 5 de Outubro.
Falar, hoje, do MUD pode parecer estranho", disse o nosso entrevistado para, logo a seguir, acentuar: "Mas importa reflectir que naqueles anos negros passados sob a pata fascista, aquela organização teve um papel extremamente significativo desempenhado em circunstâncias bem complicadas, bem difíceis. Lembro-me de alguns elementos mais responsáveis do MUD como José Magalhães Godinho, homem sério, Alexandre Castanheira, da Margem Sul, ainda hoje vive como eu, Manuel Mendes, escritor que também falou em iniciativas do Oriental e outros, muitos outros.
Ah!, já me ia passando, também andava por lá um rapaz da Juventude Comunista que pertencia ao MUD Juvenil. Era o Mário Soares."
Bento de Jesus Caraça
"E não posso esquecer a figura do grande sábio matemático Bento de Jesus Caraça que foi um dos motores da criação do Movimento. Soube da sua morte, em 1948, quando participava com um grupo, num fim de semana campista, de carácter político, na Quinta do Dr. Elvas, em Almada. Aproveitavam-se todas as oportunidades para nos reunirmos. Logo se decidiu que dois campistas, um em representação de Almada e outro, em representação do Clube Oriental de Lisboa iriam ao funeral que constituiu uma espantosa manifestação de pesar.
A morte de Bento de Jesus Caraça constituiu um rude golpe. Toda a gente o respeitava e admirava. A sua acção no MUD era fundamental para não se quebrar a unidade. O seu desaparecimento provocou muita apreensão, pois nessa altura ocorreu o lançamento da candidatura do General Norton de Matos às eleições presidenciais."
Marcos recordou, então, alguns episódios relacionados com a campanha daquele acto eleitoral.
"A candidatura até corria bem. Entre outras iniciativas, relembro que, na manhã do dia 31 de Janeiro de 1949, em pleno final de campanha, participei, com dezenas de pessoas, numa grande acção de colagem que partiu do Poço do Bispo para Cabo Ruivo. Um esquadrão da GNR interrompeu-nos, levou-nos para o Quartel, mas acabámos por ser libertados. Mas, à tarde, com muito mais gente, retomámos a nossa actividade. Porém, quando partíamos do Beato, ao cimo da Calçada do Grilo, ao voltar-se para a Azinhaga, fomos assaltados por uns pides matulões que nos roubaram os cartazes, o balde da cola, a escada e, antes de irem embora, descarregaram sobre nós uma grande carga de porrada. Sentíamos que, na realidade, a situação estava a piorar."
A terminar a nossa conversa referiu-se, ainda, às eleições presidenciais:
"Quanto à continuidade, ou não, da participação de Norton de Matos, nas vésperas das eleições houve uma reunião em casa do candidato - cercada pela PIDE - onde foi decidido rejeitar e denunciar a burla eleitoral que estava em marcha por parte dos fascistas.
Como não estavam reunidas as condições mínimas para um acto eleitoral sério a grande maioria dos participantes resolveu que o General Norton de Matos devia desistir, ao que ele anuiu.
Por essa altura, o MUD foi ilegalizado"

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