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sábado, 27 de julho de 2019

Almeida- A fortaleza é Aldeia Histórica de Portugal

www.portugalnotavel.com



Praça-forte de Almeida (Aldeia Histórica de Portugal) (***)
Sabia que…a fortaleza de Almeida é uma lição em pedra da arquitetura militar barroca é também um espaço de imensa evocação histórica e uma das 12 aldeias históricas de Portugal?


Esta fortaleza é uma das mais monumentais praças de armas abaluartadas. Outras praças-fortes notáveis de Portugal, na mesma tipologia são: Valença do Minho (**) e de Elvas (***), esta última património Mundial da humanidade.


Indico apenas alguns números impressivos, para que não cesse o seu desejo de aqui vir e testemunhar uma das mais pungentes e melhor conservadas relíquias militares da Península Ibérica. A profundidade do fosso alcança doze metros com a largura mínima de 10 m, e máxima de 62 m. A área total da Praça é de 650000 metros quadrados e o seu perímetro é de 2500 m.
A fortaleza de Almeida é uma magnífica obra-prima da Engenharia Militar barroca


A praça-forte de Almeida em vista área é uma estrela monumental com doze recortes (seis baluartes e seis revelins), não muito simétricos.
Como em todas as praças do tipo Vauban, o polígono é geometricamente recortado em reentrâncias e saliências angulares agudas, que obedeciam aos princípios estabelecidos de enfiamento e cruzamento de tiro de tática do século XVII e XVIII. Os taludes de terra assentam em muros aparelhados de granito, de leve inclinação.

fortaleza-de-almeida-aldeia-historica
Cada ângulo do polígono remete para o exterior, em forma de lança, o baluarte e que em Almeida são 6: São Pedro, Bandeira, do Trem, de Santa Bárbara, de São João de Deus e de São Francisco. Em face das cortinas e entre cada par de baluartes, erguem-se como pequenos fortins insulares, acessíveis pelo fosso, os revelins (da Cruz, da Brecha, de Santo António, do Paiol, Doble e dos Amores).


O acesso da Praça faz-se, por duas portas duplas (São Francisco e Santo António), colocadas em revelins, abertas em túnel, com abóbadas à prova de bomba e que ostentam as armas reais. Apesar de terem uma austeridade castrense não estão isentas de beleza.
Nos relvados delicados do fosso entre revelins e baluartes, pastam pequenos rebanhos e brincam os rapazitos da vila. A toda a volta o planalto indefinido, que a norte encontra a muralha quartzítica da Marofa (*). É uma paisagem tranquila e rica de encantos, principalmente na Primavera, quando as searas ondulam. Aquela serena amplidão verde, contrasta com as cruéis batalhas do passado que avassalaram Almeida.

Um pouco de história de Almeida

A colina de Almeida terá sido provavelmente um povoado proto-histórico romanizado com ocupação constante até aos nossos dias.
A povoação árabe chamava-se Talmeyda, que significava mesa, exprimindo bem a topografia da sua implantação, em constaste com a altaneira Marofa, ao fundo, que nessa mesma língua significava “guia”.
Fadada para sofrer guerras, passou várias vezes de mão sarracenas a cristãs, e vice-versa. E mesmo nas mãos de cristãos as compitas continuaram, desta vez entre leoneses e portugueses. O inevitável Dom Dinis assegurou a sua posse definitiva em 1297 pelo tratado de Alcanices.

Dom Manuel I ordenou novas ampliações na fortaleza e a remodelação do castelo manuelino, arrasado por uma explosão em 1810. As escavações arqueológicas, puseram em evidência as suas ruínas, com o seu enorme fosso. O castelo era belíssimo, como se pode constatar pelos desenhos de Duarte de Armas e esteve envolvido na sua reforma o genial arquiteto do Mosteiro da Batalha (*****), Mateus Fernandes.
Mas foi a partir da Guerra da Restauração que a praça foi sendo (re) construída até aos finais do século XVIII.

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A actual estrutura remonta ao século XVII, no contexto da Restauração da independência, quando, revalorizada a sua posição estratégica, foi transformada em uma poderosa Praça-forte. Iniciadas em 1641 pelo Governador das Armas da Província da Beira, as suas obras monumentais só estariam concluídas no final do século XVIII com o Conde de Lippe.

Estrutura chave durante os repetidos conflitos sucessórios no século XVIII, no contexto da Guerra Peninsular foi entregue por ordem governamental ao exército napoleónico sob o comando do General  Junot em fins de 1807. Devolvida ao domínio de Portugal, foi novamente cercada por tropas francesas, agora sob o comando do generalAndré Masséna (agosto de 1810). Poucos meses mais tarde, sofreria novo sítio, agora por tropas inglesas. Acuados, os defensores franceses conseguiram se retirar, explodindo a praça atrás de si.
Quem quiser conhecer uma praça fortaleza, tem tudo aqui e quase intacto: Baluartes, revelins, fossos, monumentais muralhas, hospital de sangue, canhoerias, plataformas, flancos de bastião, túneis abobadados, portas à prova de Bomba, quartéis, paióis, depósitos, forjas, oficinas, casamatas, edifícios de Estado-Maior…

A terrível explosão de Almeida em 26 de Agosto de 1810
Foi constante a participação da Praça-Forte de Almeida, nas campanhas da Restauração seiscentistas e nas guerras napoleónicas.

Aqui está uma pequena história como exemplo. Massena quis iniciar a 4ª invasão francesa com vitória prestigiosa e veio assaltar Almeida. Estabeleceu cerco e na madrugada de 26 de Agosto de 1810 abriu fogo. Ao fim da tarde, dois projéteis caíram no velho Castelo sobre pólvora deixada no chão, que serviu de rastilho. A terrível explosão arrasou parte da vila, a igreja matriz e o Castelo medieval e matou cerca de 500 pessoas e abriu várias brechas na muralha. Ainda prosseguiria a resistência até à tarde do dia seguinte, mas por fim a praça capitulou.

Poucos meses mais tarde, sofreria novo sítio, agora por tropas inglesas. Acuados, os defensores franceses conseguiram se retirar, explodindo a praça atrás de si.
No século XIX, durante o período das lutas liberais (1832-1834), mais uma vez a localidade é palco de confrontos pela posse desta Praça. Esta transitou entre Absolutistas e Liberais, servindo as Casamatas de prisão para 1500 presos políticos. Só em 1927 a fortaleza deixou definitivamente de ter funções militares.
Já não se ouvem agora rufares de tambores, ritmos de marchas de parada, gritos feéricos ou o ribombar dos canhões, mas os baluartes de Almeida são ainda um bastião da nossa nacionalidade, que nos deve recordar de sobremaneira para aquilo que não podemos perder – o orgulho de sermos portugueses…E “Alma até Almeida”.

Almeida é uma das doze Aldeias Históricas de Portugal e pretende candidatar-se a Património Mundial da Humanidade, numa candidatura transfronteiriça conjuntamente com outras praças-forte do tipo Vauban. A candidatura simboliza a recente fraternidade entre os dois povos e faria acrescer o fluxo turístico.
Candidatura das Aldeias Históricas de Portugal (região centro) a Património Mundial da Humanidade
Uma outra hipótese que me ocorre, será candidatar todo o conjunto das doze Aldeias Históricas beirãs, incluindo Almeida, a Património Mundial da UNESCO, e relacioná-las com uma das mais antigas fronteiras entre nações da humanidade. Seria uma enorme mais-valia para todo o interior de Portugal; a candidatura teria à força de um todo nacional. O turismo é uma das tábuas de salvação de toda esta belíssima região.

fortaleza-de-almeida-aldeia-historica-1A Vila de Almeida

O conjunto inserido dentro do sistema de fortificações, é uma estrutura ordenada e mesmo regular de ruas direitas e largos bem abertos e definidos. É um vasto conjunto harmónico de edifícios do século XIX com influência castrense, na sua rígida geometria de formas e que tem sido muito bem restaurado ao abrigo do programa das Aldeias Históricas. Entre os edifícios intramuros destaco: o Quartel das Esquadras, os alicerces do antigo castelo manuelino, a Pousada, a Casa da Roda, o Picadeiro de El´Rei e os edifícios dos Paços do Concelho (Antigo Quartel da Artilharia). Nas casamatas foi inaugurado recentemente um Museu Histórico-Militar.


A literatura e Almeida

Entre os muitos romances relacionados com Almeida aconselho dois: Lillias Fraser de Hélia Correia (Prémio de Ficção do Pen Club). Refira-se que esta autora ganhou em 2015 o Prémio Pessoa. As aventuras de Sharpe no quinto volume, “SHARPE E O OURO. A Destruição de Almeida.1810”, são uma boa diversão de literatura ligeira num romance de Bernard Cornwell.

Antes de terminar, quero dizer aos leitores que já elegi o meu lugar para meditar em Almeida, e no meu caderno de viajante, tirei alguns apontamentos que me serão úteis nestas humildes “entradas”.

É no baluarte de Santa Bárbara, também conhecido como Praça Alta; pequena plataforma lajeada de uma bateria com algumas árvores que me fazem sombra. Escuto algumas aves, a primavera está próxima. Medito sobre a condição humana e diálogo com o falecido John Beresford nas batalhas napoleónicas de 1812.
– Como explicas caro tenente, que toda a arquitetura militar, exerça sobre mim, o mais pacífico e pacifista cidadão, tão estranho fascínio?

Respondes-me por intermédio de Lord Byron, teu conterrâneo- “Depois do sofrimento e horror, que culminou na minha morte, a beleza renasceu e envolveu-nos”.
Créditos fotográficos: Um agradecimento especial ao amigo José Luís Mendes por me ter cedido a fotografia a preto e branco.

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