Arqueólogos encontraram artefactos no parque nacional de Kakadude, que comprovam que os povos aborígenes estiveram na Austrália há 65.000 anos.
A descoberta de aproximadamente 11.000 artefactos no parque nacional de Kakadu, no norte da Austrália, mostrou que o Homem chegou àquele continente 18.000 anos antes do que se pensava até agora. Assim os povos aborígenes terão habitado as terras australianas há, pelo menos, 65.000 anos.
O estudo foi publicado esta quinta-feira na revista Nature. Os artefactos, que chegam a ter 80.000 anos, vieram desfazer a ideia de que o Homem teria habitado aquele continente há 47.000 a 60.000 anos.
O sucesso deste projeto deve-se ao acordo entre os investigadores e o povo Mirarr, que controlou totalmente a escavação e os artefactos que foram encontrados.
A área de Madjedbebe foi escavada duas vezes pela equipa de Clarkson, que tinha realizado um acordo com a Gundjeihmi Aboriginal Corporation, em parceria com os atuais arrendatários, a Energy Resources of Australia.
Os Mirarr têm controlo total em relação à extensão da escavação e têm, em simultâneo, poder de veto. Todas as descobertas devem ser relatadas e todos os objetos têm de ser devolvidos àquele povo, no fim da investigação.
Eles têm de trazer tudo de volta, aquilo pertence a este lugar. Nós confiamos neles. Queremos ficar aqui para sempre, também estamos enterrados aqui.”, disse May Nango, o proprietário dos Mirarr, citado pelo The Guardian.
Nango disse que o país tinha de ser protegido para as gerações futuras.
Como é que isto altera a História?
Acredita-se que os povos aborígenes australianos sejam a civilização mais antiga do mundo. Porém, têm estado no centro do debate dos cientistas devido às dúvidas em relação à data em que chegaram à Austrália.
O povo chegou à Austrália através de viagens marítimas, numa altura em que os níveis de água eram muito mais baixos.
O autor principal da pesquisa, o Professor Chris Clarkson, da Universidade de Queensland, afirmou que se “conseguiu estabelecer uma nova descoberta sobre a primeira ocupação da Austrália, que aconteceu 18.000 anos antes do que estava anteriormente estabelecido“, disse, citado pela BBC.
Isto tem enormes implicações em tudo, desde a história fora de África até à extensão da megafauna e ao conhecimento dos próprios povos aborígenes e do tempo que eles passaram fora do país”, acrescentou.
Clarson afirmou que o Madjedbebe, local onde os artefactos foram encontrados, já tinha sido escavado quatro vezes desde a década de 70 do século passado.
As investigações permitiram descobrir que as viagens marítimas eram mais fáceis naquela época, já que os níveis do oceano eram mais baixos e o sul da Ásia era mais frio e húmido do que é atualmente.
Isto também vem comprovar que os seres humanos chegaram à Austrália antes da extinção da megafauna, convivendo com iguanas carnívoras gigantes e wombats enormes.
Mas que artefactos foram realmente descobertos?
Os cerca de 11 artefactos estavam enterrados a 2,6 metros do solo, em areia e sedimentos, na margem ocidental do planalto de Arnhem Land.
As descobertas incluem substâncias de tinta ocre e reflexiva,antigos eixos de pedra de calçada, os mais antigos do mundo, que têm cerca de 20.000 anos, bem como ferramentas de moagem de sementes.
Nos níveis mais profundos de sedimentos, estima-se que as descobertas cheguem a ter 80.000 anos. Pelo menos 95% delas terão 70.000 anos, segundo o relatório.
Porém, isto não indicava que a população tivesse vivido lá nessa altura, já que havia a hipótese de que os objetos se tivessem deslocado com o movimento da Terra. No entanto, não foram encontradas evidências de que a Terra tivesse mudado o suficiente em 65.000 anos.
O que encontrámos não é apenas mais um tipo de cabeça de machado, mas sim quatro ou cinco tipos bastante diferentes”, disse o professor Richard Fullagar, da Universidade de Wolllongong, citado pelo The Guardian.
Como é que os artefactos foram analisados?
As peças foram tratadas utilizando luminescência opticamente estimulada , uma técnica através da qual é possível medir quando é que um grão de areia foi exposto pela última vez à luz solar.
Isto significa que as amostras tiveram de ser extraídas sob completa escuridão, com luzes vermelhas.
Segundo o Professor Zenobia Jacobs, da Universidade de Wollongong, o trabalho foi feito em “câmara escura”, já que assim que os objetos fossem “expostos à luz solar, eles iriam redefinir esse sinal em segundos”.
Os dados foram confirmados por investigadores da Universidade de Adelaide e pela Universidade de Waikato, na Nova Zelândia.
A companhia dos Humanos: os animais gigantes
Um outro resultado do estudo é que, até agora, se achava que tinham sido os Homens a levar à extinção dos animais de grande porte daquele região, como resultado da caça.
Mas “agora é possível confirmar que as pessoas chegaram antes dessa extinção e não foram a principal causa da morte da megafauna“, afirma Ben Marwick, um antropólogo da Universidade de Washington, citado pelo ABC.
Alterar a ideia de que os humanos destruíram a paisagem e mataram a megafauna, por coexistirem com essas espécies, é uma visão completamente diferente daquilo que conta a evolução humana”, diz Marwick.
A visão comum é de que os humanos se deslocaram para Ásia há 80.000 anos, mas migraram para a Austrália 15.000 anos depois desse primeiro movimento, o que significa que esses ancestrais coexistiram com outros humanos na Ásia, os homo florensiensis. O que também significa que os australianos precederam os primeiros europeus, que se acreditavam que entraram naquele continente há 45.000 anos.
O que ainda não está claro é se deixaram a África num determinado momento e a população começou a espalhar-se pela Ásia, Europa e Austrália ou se houve várias ondas de migração.
observador.pt
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