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terça-feira, 30 de julho de 2019

O Homem chegou à Austrália 18.000 anos antes do que se pensava

Arqueólogos encontraram artefactos no parque nacional de Kakadude, que comprovam que os povos aborígenes estiveram na Austrália há 65.000 anos.

Foi o povo de Mirarr que conduziu esta investigação, já que a escavação aconteceu em terras das quais eles são proprietários. No fim, todos os objetos descobertos serão devolvidos à comunidade Mirarr

A descoberta de aproximadamente 11.000 artefactos no parque nacional de Kakadu, no norte da Austrália, mostrou que o Homem chegou àquele continente 18.000 anos antes do que se pensava até agora. Assim os povos aborígenes terão habitado as terras australianas há, pelo menos, 65.000 anos.
O estudo foi publicado esta quinta-feira na revista Nature. Os artefactos, que chegam a ter 80.000 anos, vieram desfazer a ideia de que o Homem teria habitado aquele continente há 47.000 a 60.000 anos.
Área de Madjedbebe, onde o estudo foi realizado. // Fonte: Revista Nature
O sucesso deste projeto deve-se ao acordo entre os investigadores e o povo Mirarr, que controlou totalmente a escavação e os artefactos que foram encontrados.
A área de Madjedbebe foi escavada duas vezes pela equipa de Clarkson, que tinha realizado um acordo com a Gundjeihmi Aboriginal Corporation, em parceria com os atuais arrendatários, a Energy Resources of Australia.
Os Mirarr têm controlo total em relação à extensão da escavação e têm, em simultâneo, poder de veto. Todas as descobertas devem ser relatadas e todos os objetos têm de ser devolvidos àquele povo, no fim da investigação.
Eles têm de trazer tudo de volta, aquilo pertence a este lugar. Nós confiamos neles. Queremos ficar aqui para sempre, também estamos enterrados aqui.”, disse May Nango, o proprietário dos Mirarr, citado pelo The Guardian.
Nango disse que o país tinha de ser protegido para as gerações futuras.
Foram membros do povo Mirarr que guiaram as escavações.

Como é que isto altera a História?

Acredita-se que os povos aborígenes australianos sejam a civilização mais antiga do mundo. Porém, têm estado no centro do debate dos cientistas devido às dúvidas em relação à data em que chegaram à Austrália.
O povo chegou à Austrália através de viagens marítimas, numa altura em que os níveis de água eram muito mais baixos.
O autor principal da pesquisa, o Professor Chris Clarkson, da Universidade de Queensland, afirmou que se “conseguiu estabelecer uma nova descoberta sobre a primeira ocupação da Austrália, que aconteceu 18.000 anos antes do que estava anteriormente estabelecido“, disse, citado pela BBC.
Isto tem enormes implicações em tudo, desde a história fora de África até à extensão da megafauna e ao conhecimento dos próprios povos aborígenes e do tempo que eles passaram fora do país”, acrescentou.
Clarson afirmou que o Madjedbebe, local onde os artefactos foram encontrados, já tinha sido escavado quatro vezes desde a década de 70 do século passado.
Estas escavações trouxeram contributos importantes para a história.
As investigações permitiram descobrir que as viagens marítimas eram mais fáceis naquela época, já que os níveis do oceano eram mais baixos e o sul da Ásia era mais frio e húmido do que é atualmente.
Isto também vem comprovar que os seres humanos chegaram à Austrália antes da extinção da megafauna, convivendo com iguanas carnívoras gigantes e wombats enormes.

Mas que artefactos foram realmente descobertos?

Os cerca de 11 artefactos estavam enterrados a 2,6 metros do solo, em areia e sedimentos, na margem ocidental do planalto de Arnhem Land.
As descobertas incluem substâncias de tinta ocre e reflexiva,antigos eixos de pedra de calçada, os mais antigos do mundo, que têm cerca de 20.000 anos, bem como ferramentas de moagem de sementes.
Artefactos descobertos em Madjedbebe // Fonte: Revista Nature
Nos níveis mais profundos de sedimentos, estima-se que as descobertas cheguem a ter 80.000 anos. Pelo menos 95% delas terão 70.000 anos, segundo o relatório.
Porém, isto não indicava que a população tivesse vivido lá nessa altura, já que havia a hipótese de que os objetos se tivessem deslocado com o movimento da Terra. No entanto, não foram encontradas evidências de que a Terra tivesse mudado o suficiente em 65.000 anos.
O que encontrámos não é apenas mais um tipo de cabeça de machado, mas sim quatro ou cinco tipos bastante diferentes”, disse o professor Richard Fullagar, da Universidade de Wolllongongcitado pelo The Guardian.

Como é que os artefactos foram analisados?

As peças foram tratadas utilizando luminescência opticamente estimulada , uma técnica através da qual é possível medir quando é que um grão de areia foi exposto pela última vez à luz solar.
Isto significa que as amostras tiveram de ser extraídas sob completa escuridão, com luzes vermelhas.
Os artefactos foram analisados em câmara escura.
Segundo o Professor Zenobia Jacobs, da Universidade de Wollongong, o trabalho foi feito em “câmara escura”, já que assim que os objetos fossem “expostos à luz solar, eles iriam redefinir esse sinal em segundos”.
Os dados foram confirmados por investigadores da Universidade de Adelaide e pela Universidade de Waikato, na Nova Zelândia.

A companhia dos Humanos: os animais gigantes

Um outro resultado do estudo é que, até agora, se achava que tinham sido os Homens a levar à extinção dos animais de grande porte daquele região, como resultado da caça.
Mas “agora é possível confirmar que as pessoas chegaram antes dessa extinção e não foram a principal causa da morte da megafauna“, afirma Ben Marwick, um antropólogo da Universidade de Washingtoncitado pelo ABC.
Alterar a ideia de que os humanos destruíram a paisagem e mataram a megafauna, por coexistirem com essas espécies, é uma visão completamente diferente daquilo que conta a evolução humana”, diz Marwick.
A visão comum é de que os humanos se deslocaram para Ásia há 80.000 anos, mas migraram para a Austrália 15.000 anos depois desse primeiro movimento, o que significa que esses ancestrais coexistiram com outros humanos na Ásia, os homo florensiensis. O que também significa que os australianos precederam os primeiros europeus, que se acreditavam que entraram naquele continente há 45.000 anos.
O que ainda não está claro é se deixaram a África num determinado momento e a população começou a espalhar-se pela Ásia, Europa e Austrália ou se houve várias ondas de migração.

observador.pt

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