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sábado, 27 de julho de 2019

NO ANTANHO E HOJE





Manuel Grego Leitão Iin facebook

NO ANTANHO E HOJE
Antão não era pastor. Analfabeto, era órfão e mais do tipo mental especial. Por isso, foi convidado para pastor dum grande proprietário de ovelhas duma das aldeias por onde vagueava a pedir esmola. O seu patrão, cristão dos quatro costados, com lugar reservado na primeira fila da igreja da terra, era um homem generoso. Todos os domingos lhe metia nas mãos meia broa de milho, um valente naco de presunto e uma garrafa de litro de jeropiga, que, bem poupadinhos, lhe davam para se aguentar a semana inteira. Com o bornal às costas, lá partia, então, Antão, para a montanha onde, nas clareiras dos verdes prados, fazia engordar os bichos e a fortuna do seu rico patrãozinho. A ACT por aquelas bandas não parava – compreende-se, ficava muito à desamão e o seu pessoal, já escasso para o trabalho da cidade mais próxima onde estava instalado, não tinha grande apetite por aventuras ecológicas e pelos ares saudáveis da serra…
Uma tarde, estava Antão de pau erguido - pois o cão, que sempre o acompanhava, parecia ter pressentido lobo nas proximidades -, chegaram num "jeeep", ao monte, dois senhores que simpaticamente se lhe dirigiram, tratando-o pelo nome. Não os conhecendo, perguntou-lhes humildemente quem eram, ao que responderam serem familiares do seu patrão e que vinham ver se estava tudo bem. Ofereceram-lhe um maço de cigarros e um isqueiro, como prova de apreço pelo bom trabalho que desempenhava, dádiva que Antão ciosamente guardou para posterior deleite. Disseram-lhe os senhores que, por ordem do patrãozinho, ao cair da tarde deveria incendiar umas árvores que estavam à volta do prado para aumentar a área de pasto das ovelhinhas, para o que lhe deixavam um garrafão de petróleo. Respeitosamente, pediu Antão instruções mais detalhadas, não fora com a sua falta de prática fazer asneira ao tratar do serviço que lhe era ordenado, tendo os dois senhores, pacientemente, explicado, tim-tim por tim-tim, o “modus faciendi”.
Dois dias depois, quando os bombeiros voluntários começaram a fazer o rescaldo dos dois mil hectares ardidos, houve uma surpresa: uma ovelha tinha sobrevivido. A ronhosa.

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