Mais de 300 crianças morreram em Jonestown sob as ordens de
Jim Jones, o líder de uma seita que defendia
Há 40 anos, a 18 de novembro de 1978, 909 pessoas - incluindo cerca de 300 bebés e crianças - ingeriram uma bebida famosa na altura: Fla-Vor-Aid. O refresco tinha cianeto. Foi o suicídio em massa dos membros da seita conhecida por Templo do Povo, mortes ordenadas pelo reverendo Jim Jones. Só 12 sobreviveram. O massacre aconteceu na selva de Guiana - a seita mudara-se para o país no norte da América do Sul. Antes do 11 de setembro de 2001, era a tragédia em que mais civis tinham morrido intencionalmente na história dos EUA. O líder da seita foi encontrado morto com um tiro na cabeça - aparentemente terá cometido suicídio.
Não era a primeira vez que Jim Jones, que criara um "paraíso " na selva de Guiana a que chamou "Jonestown", obrigava os membros da seita a ingerir uma bebida supostamente envenenada. Nas chamadas "noites brancas", os que sobreviveram ao massacre recordam como a meio da noite, através dos altifalantes, ouviam a voz do líder a ordenar que saíssem de casa. Eram treinos para o que aconteceu há 40 anos. Mas, na altura, ninguém sabia se esse seria o dia em que teriam de morrer. Não havia como fugir: Jim Jones tinha homens armados à volta do local, prontos a disparar contra quem não seguisse as ordens de um líder poderoso.
A influência de Jones - que desde os cinco anos era um fanático por religião - explica-se também pelo contexto social e político das décadas de 1960 e 1970. Oriundo de uma família pobre, nasceu e cresceu no Indiana e começou a ficar conhecido por ser um acérrimo defensor da igualdade racial: a maioria dos membros do Templo do Povo era afro-americana. Aceitava todos na comunidade, sem os julgar: toxicodependentes e idosos, sem olhar a raças.
Da Califórnia para a selva de Guiana
Laura Johnson já tinha um passado como ativista quando se juntou ao Templo do Povo na Califórnia, onde começou a seita. Tinha 22 anos. À BBC conta como foi seduzida pelos ideais de Jim Jones, que falava de um iminente apocalipse nuclear e que após esse apocalipse a comunidade que estava a criar poderia viver de acordo com as suas próprias regras. Por enquanto, era preciso sair da Califórnia.
Escolheu Guiana, um sítio "extraordinariamente remoto", descreve o artigo da BBC, para formar o Projeto Agrícola do Templo do Povo - informalmente conhecido como Jonestown, em homenagem ao nome do seu líder. Os membros viviam em casas partilhadas e subsistiam com o que cultivavam. Mas o lugar não estava projetado para tantos habitantes - na altura eram mil - e começaram a passar fome.
Laura Johnson era um dos membros mais comprometidos com a seita. Jim Jones pediu-lhe para se mudar para Georgetown - a capital da Guiana, a 24 horas de barco - para trabalhar na sede da igreja. Não estava em Jonestown no dia do massacre e só foi por isso que sobreviveu.
Na sua opinião, o líder sabia o que fazia: familiares de membros da seita estavam a pressionar altos dirigentes políticos para investigar a seita e estava marcada uma visita do congressista californiano Leo Ryan. A sobrevivente só poderia falar bem do templo do Povo: adorava-o.
Apesar disso, a mulher revela que o "estado mental de Jim Jones estava a deteriorar-se e a experiência de Jonestown estava a começar a a falhar. "As pessoas acusavam-no de sequestrar os seus filhos, e os seus secretários fugiram com informações escandalosas sobre o que estava a acontecer". Jones vivia cada vez mais dependente de drogas e estava cada vez mais paranoico.
Visita de congressista acelerou suicídio em massa
Quando o congressista californiano Leo Ryan chegou a Jonestown, a 17 de novembro de 1978, tudo parecia correr bem. Mas alguns membros da seita passaram bilhetes aos jornalistas pedindo ajuda para fugir. A 18, dia do massacre, a delegação política - onde estavam 12 membros que tinham pedido para se irem embora de Guiana - estava na pista do aeroporto para embarcar quando homens armados, sob as ordens de Jones, dispararam contra Ryan e o resto da comitiva. O líder do Templo do Povo sabia que o fim se aproximava e que a verdade sobre a seita iria ser descoberta.
Em Jonestown, a "noite branca" acabou por acontecer durante o dia: os 909 membros fizeram fila para ingerirem os copos de sumo com cianeto. As crianças - mais de 300 - foram envenenadas primeiro: o seu choro pode ser ouvido na gravação que estava a ser feita e que foi depois recuperada pelo FBI. Só 12 pessoas, que tinham fugido para a selva, incluindo uma idosa que estava a dormir durante o suicídio em massa - sobreviveram.
Laura Johnson recorda o dia. Contaram-lhe que tinham recebido instruções para se matarem. 'Todos em Jonestown estão a morrer ou a ser mortos. Precisamos todos de cometer um suicídio revolucionário", era a mensagem. Dois filhos de Jones recusaram-se a fazê-lo e dissuadiram quem não estava na comunidade a seguir as instruções.
"Se eu estivesse em Jonestown e visse 900 pessoas que eu amava a fazer essa escolha, não posso imaginar querer sobreviver a isso", admite Laura Johnson.
Morreram, no total, 918 pessoas, incluindo as pessoas assassinadas na pista do aeroporto e o próprio mentor do Templo do Povo.
Um dos jornalistas que sobreviveu à emboscada no aeroporto contou que até os cães e o chimpanzé de estimação de Jonestown morreram ao lado dos moradores. "Percebi que Jones não pretendia deixar nada vivo, nem mesmo os animais, para testemunhar o horror final. Não haveria sobreviventes", escreveu no Washington Post, pouco depois da tragédia.
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