Academia de Ciências vai sugerir o regresso de algumas consoantes mudas
Academia das Ciências de Lisboa (ACL) vai apresentar, ainda este ano, um estudo para aperfeiçoar o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90), sugerindo nomeadamente o regresso à utilização de algumas consoantes mudas.
Em declarações à Lusa, o presidente da ACL, Artur Anselmo, salientou que a instituição não tem qualquer tendência política e que o AO90 é "um problema científico e não político", que deveria de ser resolvido definitivamente, e que é utópico impor uma grafia igual em todos os países que falam português.
Ana Salgado, coordenadora do novo dicionário da Academia (que deve estar pronto em 2018), disse também que o acordo não estabelece uma ortografia única e inequívoca, o que permite várias interpretações e, por isso, causa instabilidade. O estudo da Academia pretende acabar com essa instabilidade. A responsável frisou à Lusa que a ACL não defende a revogação do AO90, mas sim o seu aperfeiçoamento, sendo que o que propõe são ajustes, como de resto a Academia brasileira já fez também.
A Academia vai, por exemplo, recomendar o emprego do hífen em algumas palavras (fará uma listagem) - ressalvando que o não emprego do hífen "não quer dizer que seja um erro".
Quanto às consoantes que não se pronunciam a ACL vai defender que elas só caiam nos casos em que há uma grafia única em Portugal e no Brasil (como na palavra 'ação'). No entanto, em casos como a palavra 'recepção' "a nossa leitura" (da ACL) é que a escrita com o 'p' é "legítima no espaço lusófono". Na palavra 'optica', a ACL defende também o uso do 'p'.
Professores de acordo... com limites
A presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Antunes Ferreira, reagiu a este anúncio afirmando que aceita uma "revisão ligeira" do AO90, "para não trazer tantos prejuízos, mas nunca anular o AO90".
"Temos de ver em que termos será feita essa revisão", advertiu.
Por exemplo, relativamente ao regresso de algumas consoantes mudas, Edviges Ferreira foi clara: "nós não concordamos; é muito mais simples escrever conforme falamos do que estarem a perceber ou a decorar, principalmente depois de ter abolido e estar a escrever de uma determinada forma, estar a voltar atrás".
"Temos que ver o que está bem e o que está mal", disse Edviges Antunes, que aconselhou "muito cuidado" numa eventual revisão.
Grupos querem é o fim do AO
Do lado das associações que se dedicam à luta contra o AO, a revisão não chega.
O Grupo em Acção Contra o Acordo Ortográfico (GACAO) demarca-se da ideia, ainda que estime que este "pode ser um primeiro passo para o fim" do acordo, como disse à Lusa Madalena Homem Cardoso.
Para a responsável do GACAO, que reúne 75.000 membros, "rever é talvez um primeiro passo para acabar com o disparate total", disse Madalena Homem Cardoso, referindo-se ao AO1990.
Já os defensores da simples revogação do AO90 consideram mesmo que as posições "revisionistas" do AO90 "são de rejeitar"
Ivo Miguel Barroso, que tem contestado o Acordo, não tem dúvidas: "O destino adequado para o AO90 é o caixote do lixo", disse à Lusa, alertando que "para ser revisto, é necessário que haja uma alteração do teor do Anexo I e II (Bases e Nota Explicativa)", do Acordo.
"Quem conhece o Direito dos Tratados sabe perfeitamente que, se o AO90 é para ser revisto, é necessário que haja uma alteração do teor do Anexo I e II (Bases e Nota Explicativa). Ou seja, tal implicaria um novo Tratado ou uma revisão do mesmo entre todos os Estados da CPLP, no sentido de alterar o Anexo I do AO90", afirmou.
"Ora, para que isso suceda, é necessário que todos os Governos dos Estados assinem; e que, depois, o novo Tratado seja ratificado internamente. Por outro lado, tal propósito de revisão significaria que pelo menos parte das normas do AO90 não seriam para cumprir", realçou Ivo Miguel Barroso.
www.dn.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário