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terça-feira, 29 de novembro de 2016

Laços?



Em entrevista ontem ao Público, Fernando Medina defendeu o reforço dos laços entre PS, PCP e BE a nível nacional. O actual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa não esclarece o que tem em mente, mas não me parece que as suas recentes intervenções favoreçam enlaces pela esquerda. E nem sequer estou a pensar na política local sobre a qual versa a entrevista. Estou mais a pensar, entre outras, na sua intervenção na Conferência do Negócios da semana passada sobre questões europeias – uma conferência onde obviamente comunistas e bloquistas não entraram, mas já um salazarista (Jaime Nogueira Pinto) teve naturalmente palco, em conjunto com outras elites seleccionadas para um bloco central desejado.

No Verão, um número da The Economist já tinha dito “adeus à esquerda versus direita”, dado que “o conflito que importa é entre abertura e fechamento”. Medina seguiu exactamente esta linha. Dada a sua tentativa de enquadrar a questão europeia, não pode espantar que se tenha colocado explicitamente ao lado de Merkel, ou seja, atrás da liderança imperial da chanceler, tal como o fazem sempre todos os euro-liberais mais ou menos aflitos.

Num discurso aparentemente consistente, defendeu também que Portugal tem de estar na linha da frente de todo o aprofundamento europeu, ou seja, tem de aceitar o que não poderá deixar de ser o reforço do controlo estrangeiro da nossa economia, sociedade e política. Desde Cavaco e Maastricht, passando por Guterres e euro, nenhuma lição se aprende sobre as armadilhas do pelotão da frente. Nem depois de quase duas décadas de estagnação sem precedentes. Às vezes parece que o espírito bourbónico na economia política, bem denunciado pelo insuspeito Wolfgang Munchau, parece vivo também em amplos sectores da esquerda. Paciência, esse mundo está a ruir, embora, por exemplo, os muros do dinheiro à volta de Lisboa, os tais que impedem cada vez mais pessoas de viver na capital, e de que quase ninguém fala, pareçam sólidos.

A hegemonia é a capacidade de enquadrar, de colocar as questões: abertura e fechamento do quê, para quê e para quem? Parece-me melhor. Portugal precisa de reestruturar a dívida externa, nacionalizar a finança e deixar de depender da maldição da poupança externa, o que pressupõe instrumentos de política nacional para gerir a balança corrente sem ser através da oscilação entre crise e estagnação. No domínio comercial, Portugal precisa de contornar as regras liberais do mercado único, numa combinação de proteccionismo selectivo e política industrial em modo Estado empreendedor, o que não depende das ficções dos Paddy Cosgrave desta vida. Mais fechamento, portanto, para reconquistar espaço para uma nova versão dos 3 D. Em relação a pessoas ou ideias, Portugal pode e deve ter uma atitude relativamente aberta, o que não quer dizer necessariamente oferecer as chaves da capital a outras figuras nada recomendáveis, como o actual ditador egípcio, o que obedece ao liberal FMI, enquanto manda prender e matar milhares de opositores.

Enfim, é preciso distingir entre várias formas de abertura e de fechamento. Soa familiar? É um programa dito keynesiano. Parece ainda radical, mas em tempos que serão, esta é a aposta, de maior desglobalização vai parecer bem sensato. Talvez o laço social e político se tenha de reforçar por aqui, mesmo que esse reforço seja externamente sobredeterminado...

ladroesdebicicletas.blogspot.pt

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