O trovador é uma figura em desuso nos dias atuais. A era moderníssima, dos supercomputadores interligados em tempo real, com comunicação on line, entre pessoas próximas ou distantes (fisicamente ou não), certamente, não nos permite imaginar um trovador romântico, a percorrer ruas enluaradas, a enaltecer o amor ou a lamentar a ausência dele.
Hoje se comemora o dia do trovadorismo, que já foi popular em Portugal, espalhou-se pela Europa e influenciou artistas em diversos países, o Brasil inclusive. Catulo da Paixão cearense era um menestrel convicto, capaz de transformar em versos qualquer paixão vivida, ou até mesmo os desamores sentidos.
Evaldo Gouveia e Jair Amorim encarnaram o espírito do artista trovador. Chegaram a compor uma marcha-rancho com o nome de Trovador, que reproduzo abaixo na bela voz de Altemar Dutra – outro que ajuda a perpetuar esse espírito trovadoresco. E como falei de Catulo, tem Rolando Boldrin a declamar a história do Lenhador (ontem foi dia de preservação das Florestas).
O trovador, na verdade, está na nossa alma, no sangue que herdamos dos portugueses. Camões foi um grande trovador, a cantar os feitos e as conquistas de seu povo por mares nunca dantes navegados.
No Brasil de hoje, existem associações que procuram preservar a figura do trovador. Algumas delas são propostas interessantes, que merecem respeito e precisam ter apoio do poder público e da iniciativa privada.
Valorizar nossas raízes culturais e não deixar que elas desapareçam é uma boa política. A frase de Jorge Amado sobre o a importância da trova e do trovador é simplesmente definitiva:
"Não pode haver criação literária mais popular e que mais fale diretamente ao coração do povo do que a Trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e por isto mesmo a Trova e o Trovador são imortais".
Eu, cá com meus botões, fiz algumas quadras em forma de Trova - apenas para ajudar nesse esforço de preservação da nossa cultura.
Trovador
José Carlos Camapum Barroso
Trovador faz poesia
Pra exaltar o amor.
Transforma noite em dia,
Põe riso no lugar da dor...
Retira do fundo da alma
Tristeza que ainda restou,
Paixão que nunca acalma
A vida do sonhador.
Pelas ruas enaltece:
Paixão que não lhe é dada,
Amor que não ousa ter,
Dor que traz emprestada.
Abre a voz na madrugada
E declama apaixonado,
Numa noite enluarada,
Sonhos nunca sonhados.
Dedilha, violão em riste,
Acordes em tom menor...
Menestrel de voz triste,
Uma dor que sabe de cor
Antes do dia amanhecer,
Põe-se firme a cantar,
Pois sente que o anoitecer
Chega antes do sol raiar.
Trovador é um poeta
Que na rua não há mais...
Hoje, um navegador,
Amante de redes sociais.
Pobres casais de agora...
De alma triste a soluçar,
Coração apenas chora,
Sem trovador a trovar.
A vida segue vazia...
Em noite fria, sem luar,
Poeta era quem dizia
O tempo do verbo amar.
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