Henrique Custódio
No nosso regime democrático houve quatro maiorias absolutas.
As duas primeiras foram as de Cavaco Silva (1987-1995). O «homem do leme» encavalitou-se no poder beneficiando dos dinheiros de Bruxelas, nesses tempos entrando a jorros, para que Cavaco desmantelasse as estruturas produtivas do País. E fê-lo, no tempo em que se gabava de ter Portugal «no pelotão da frente».
Os consulados de Cavaco foram um tempo de pesadelo: usando a fundo a discricionariedade das maiorias absolutas, o homem esbanjou dinheiro a pagar diligentemente o abate de barcos de pesca até a nossa frota pesqueira ficar reduzida à pré-indigência, a pagar a pequenos e médios agricultores para que não semeassem ou arrancassem vinhas, até a nossa agricultura deixar de abastecer 80% das necessidades do País para baixar aos 30%, a pagar e a promover a destruição da indústria pesada, ficando a resposta de Cavaco a um dirigente da CGTP a alertar para a gravidade da destruição da Siderurgia Nacional, que não precisávamos de produzir aço porque «havia muito aço e mais barato, para importar»…
A par disso, o dinheiro deu para promover uma quadrícula de estradas, frequentemente manhosas e mortais, mas que iam enchendo o olho aos autarcas, às autarquias e às populações beneficiadas, sem falar de múltiplas diligências legislativas, impostas pela maioria absoluta, para beneficiar os poderosos, exemplificadas com a famigerada Lei de Bases da Saúde, que escancarou este sector estratégico à gula dos privados.
Seguiu-se a maioria absoluta de José Sócrates (2005-2009), uma lotaria que lhe saiu graças à performance desastrosa do seu antecessor, o inenarrável Santana Lopes. Usando também a maioria absoluta a todo o pano, Sócrates, além das vastas tranquibérnias de que está acusado e a ser inquirido, iniciou o desmantelamento de várias conquistas de Abril, seja o Ensino democrático através de uma campanha acérrima contra a classe docente e a gestão democrática das escolas, seja os funcionários públicos a quem difamou como «privilegiados», seja o Serviço Nacional de Saúde destruindo vários subsistemas (incluindo o dos jornalistas) e aprofundando o depauperamento do SNS em meios técnicos e humanos, tudo desmandos a que Passos Coelho chamaria um figo.
Finalmente, chegou a maioria absoluta colorida entre Passos Coelho e Paulo Portas (2011-2015), a que mais avançou no objectivo de tentar destruir os alicerces do próprio regime democrático. O desemprego e a miséria lançados sobre o País será um dia case study da selvajaria da direita reaccionária em situação de maioria absoluta e o povo português está bem lembrado disso, valha-o deus.
Conclusão óbvia:nas mãos desta gente, maioria absoluta dá poder absoluto e poder absoluto
corrompe, absolutamente. Ho yé.
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