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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Quando o dinheiro supera a genética: Jovens menos dotados mas com pais ricos formam-se mais depressa na faculdade



Um novo estudo conduzido por uma equipa de investigadores concluiu que duas pessoas com o mesmo potencial genético podem ter maior ou menor dificuldade e licenciar-se, dependendo dos rendimentos da família

Jovens menos talentosos com pais ricos acabam as licenciaturas mais depressa do que aqueles mais dotados mas com pais com rendimentos mais baixos.


Esta é a conclusão de um novo estudo, por investigadores da universidades de Duke e de Massachusetts, e publicado pelo National Bureau of Economic Research, dos EUA, que afirma que os atributos genéticos são distribuídos de forma quase igual entre as crianças de famílias com rendimentos altos e baixos, ao contrário do sucesso, que tem a ver com dinheiro. Para chegar a isto, os economistas utilizaram uma nova medida baseada no genoma.


Os pesquisadores associaram o desempenho escolar com um índice genético (considerando pessoas cujo genoma está marcado no quartil superior desse índice) e descobriram que apenas 24% das pessoas que nascem com pais que têm rendimentos mais baixos no grupo de alto potencial se formam na faculdade. Pelo contrário, 63% das pessoas com atributos genéticos semelhantes e pais mais ricos conseguem licenciar-se.


Outra conclusão do estudo deu conta de que cerca de 27% dos que se apresentam no último nível do índice genético mas nascem com pais ricos acabam os cursos na faculdade, ou seja, estes jovens têm, pelo menos, a mesma probabilidade de se formarem que os alunos com pais menos ricos mas mais dotados geneticamente.


Esta análise baseia-se nas conclusões de um grande estudo publicado em julho por uma equipa de investigadores na revista científica Nature Genetics. A equipa analisou milhões de pares de bases de ADN em mais de um milhão de genomas individuais, com o objetivo de procurar evidências de correlação entre os genes e os anos de escolaridade concluídos. Os resultados foram resumidos numa única pontuação onde se podem prever as conquistas educacionais com base em fatores genéticos.




Esta pontuação foi calculada num grupo com cerca de 20 mil pessoas entrevistadas, nascidas entre 1905 e 1964, que forneceram o seu ADN juntamente com algumas respostas, o que permitiu, posteriormente, aos dois economistas associar os genomas com as conquistas académicas e financeiras individuais dos participantes.


Ao The Washington Post, Kevin Thom, economista da Universidade de Nova Iorque e autor de um trabalho relacionado e publicado pelo mesmo organismo, diz que estes resultados vão contra a ideia de que "existem diferenças genéticas substanciais entre as pessoas que nascem em famílias ricas e as que nascem menos abastadas".


"Se a família não tiver muitos recursos, até as crianças brilhantes, que são naturalmente dotadas, vão ter que enfrentar batalhas difíceis", continua.


Já Nicholas Papageorge, co-autor desse outro estudo, afirma que isto representa um desperdício do potencial destas crianças. "Não é bom para eles, mas também não é bom para a economia", diz. "Todas aquelas pessoas que não foram para a faculdade com altas pontuações genéticas poderiam ter encontrado a cura para o cancro?".


O economista diz ainda que duas pessoas geneticamente semelhantes podem ter pontuações "surpreendentemente" diferentes nos testes de QI e isto acontece porque os pais "mais ricos investiram mais nos seus filhos".




visao.sapo.pt

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