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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O euro/UE em lume brando



Até ao fim do ano o BCE vai reduzir as sua compras de títulos de dívida, ou seja, vai arrefecer a bolha da valorização artificial das acções que se formou com o chamado QE (Quantitative Easing). Este programa de compras foi feito para dar dinheiro (criado electronicamente) às empresas e bancos que detinham essas acções, no pressuposto de que esse dinheiro seria aplicado na economia, produzindo crescimento e emprego.


De facto, no geral, a zona euro foi crescendo e o desemprego baixou, mas muito devagar porque a política orçamental não existe. Os Tratados proíbem os défices deliberados para estimular a economia, mesmo com grande desemprego, porque os Estados estão obrigados a financiar-se nos mercados. Por isso, ocorreu um crescimento muito pouco saudável porque o dinheiro foi reinvestido em actividades que não geram melhoria da produtividade nem subida de salários, apenas geram lucro fácil: bolhas do imobiliário, especulação nos mercados financeiros globais (agora em turbulência porque as cotações não podem subir sempre) e estagnação da procura interna.


Mesmo com o fraco dinamismo do consumo das famílias e o continuado endividamento geral, o BCE teme a explosão das bolhas e diz que vai fazer subir gradualmente a taxa de juro, em coordenação com a Reserva Federal dos EUA. Mas está indeciso porque também há sinais de arrefecimento na procura. Por outro lado, terá que decidir o que vai fazer ao dinheiro dos títulos que comprou, à medida que eles vão sendo reembolsados no fim do prazo.


Aqui entra a Itália. O comportamento do BCE no mercado dos títulos de dívida decidirá o caminho que as taxas de juro da dívida italiana vai tomar nas próximas semanas. O discurso de Draghi será, como sempre, ambíguo. Se quiser colaborar abertamente com a Comissão para obrigar a Itália a ajoelhar - os bancos italianos só sobrevivem com juros baixos - a estratégia de aplicação do dinheiro do BCE fará subir os juros para a Itália e teremos uma escalada no confronto com o governo italiano. Mas também pode adoptar uma estratégia mais neutra, até porque a Comissão também receia o abandono do euro pela Itália. Esticam a corda mas têm medo que ela parta.

Havendo escalada nos juros de Itália, Portugal sofrerá o contágio, como seria de esperar. Aliás, ele já começou (ver figura) e só aguarda novos desenvolvimentos. De facto, mesmo com um saldo orçamental positivo, Portugal, Espanha e Grécia não podem fugir a seu destino: são a periferia da zona euro que não tem economia para aguentar uma moeda que torna tudo o que é importado demasiado barato. Os sacrifícios, em nome da credibilidade nos mercados financeiros, são inúteis.

Os mercados sabem o que significa, no contexto de uma união monetária, ter uma moeda demasiado forte e não poder desvalorizá-la. Chamam-lhe risco de "redenominação" (saída do euro e declaração de que a dívida nacional será reembolsada em nova moeda - convenção "lex moneta"). No caso da Itália, esse risco é crescente, sobretudo com o actual governo. No caso de Portugal, não há esse risco imediato mas a escalada dos juros significará (depois de gastos os depósitos em reserva) o regresso à austeridade pura e dura. Ora os especuladores sabem que o nosso masoquismo europeísta um dia acabará.

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