CARTA AOS FASCISTAS BRASILEIROS
João Vilela
Na noite em que os vossos foguetes estralam no ar celebrando a vitória nas urnas, a resposta que temos a dar-vos é uma, e é clara: nós estamos aqui. Depois do Tarrafal e da Operação Band, depois das valas comuns da guerra de Espanha, depois do Cointelpro e do Pinochet, depois dos GAL e depois da guerra suja da Argélia, depois do napalm do Vietname, depois dos nazis de Kiev. Vocês já nos torturaram. Vocês já nos prenderam. Vocês já mataram muitos dos melhores de nós. Já fizeram com que muitos rachassem, enlouquecessem, desistissem, se bandeassem para o vosso lado. E contudo, nós estamos aqui. Não houve Hitler que daqui nos tirasse, nem DeGaulle que nos fizesse curvar, nem Pinochet que nos dizimasse de vez, nem será um merdas de um Bolsonaro a tratar do que não tem tratamento, a resolver o que não tem solução, a impedir que a história decorra, e que nós vivamos, com a imortalidade da única classe que pode destruir todas as formas de exploração e opressão, para marcharmos sobre as vossas cabeças mais cedo que tarde.
Quem somos nós? Nós somos os vossos coveiros. Somos o vosso inexorável destino de erradicação como classe, como escória vil, como abutres a nutrir-se da nossa carne. Somos o povo que levanta com as mãos as cidades para os outros, aqueles que a troco do minguado e chorado salário que vocês nos pagam fazem andar a roda que sustenta a vida. Somos quem vos alimenta. Somos quem vos dá abrigo. Somos as mãos que empunham a pá e o tijolo, e que levantaram à altura do ombro a espingarda para disparar sobre vocês. Em Cuba, como bem se lembram. Na China, como vocês não esquecem. No Vietname, que ainda vos faz tremer. Em Angola, em Moçambique, nas selvas do Araguaia. As mãos diligentes da classe que vos odeia – sim, que vos odeia com cada uma das fibras do seu ser. As mãos transformadoras de um povo que não perdeu a valentia e a sanha de vos esganar.
Que entre nós possa haver quem se abata hoje é previsível. Que entre nós possa haver quem esmoreça é a vossa tarefa. Conhecedores dos vossos truques e das vossas manhas, sabemos onde a vida passa e que amanhã a bandeira vermelha do combate decisivo será hasteada no alto de qualquer Reichstag que vocês construam para nos oprimir. Persigam, se quiserem. Prendam. Cravem suásticas na carne dos nossos irmãos. Nenhuma dessas crueldades pode adiar por um só dia a certeza inevitável da vossa liquidação histórica. Estamos em todo o mundo. Somos obreiros desse mundo, do seu presente, do seu futuro. E como se cantava nas trincheiras de Estalinegrado, «deixamos a nossa nobre raiva fervilhar como as ondas. Porque esta é a guerra popular, uma guerra santa».
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