"Se fosse comigo, não teria dúvidas em afastar-me se me visse envolvido numa situação destas". Isto era Nuno Melo em 2009, a falar de Dias Loureiro, ex-administrador da SLN (que detinha o BPN) e então conselheiro de Estado do presidente Cavaco. Declarações nas quais o deputado centrista era acompanhado pelo então cabeça de lista do PSD às europeias, Paulo Rangel, e pelo - hoje ministro - Pedro Mota Soares, que, quando a demissão ocorreu, afirmou: "O doutor Dias Loureiro fez finalmente aquilo que já devia ter feito e que o CDS já tinha pedido."
Então, como hoje, o presidente do CDS era Paulo Portas (também agora ministro), que não se ensaiou em aconselhar Loureiro a "evidentemente sair e facilitar a vida ao Chefe do Estado". O motivo, para Portas, era claríssimo: "O que aconteceu no BPN é de tal maneira grave que é preciso tirar consequências. O BPN é de tal maneira uma organização criminosa que abusou da confiança dos outros que é preciso cortar as maçãs podres."
Menos vigorosos na vituperação, vários dirigentes do PSD, incluindo Rui Rio e António Capucho, aplaudiram a demissão do correligionário; até Luís Filipe Menezes (que abandonara a direção do PSD em 2008) tinha já apelado a ela. E Passos Coelho, então candidato derrotado à liderança do PSD e líder da oposição interna, não se eximiu de dizer (em novembro de 2008) de sua justiça: "Há um conjunto de polémicas que apontam para que alguém não está a falar verdade e isso é, de facto, um incómodo para a Presidência." Atacando a orientação da então líder Manuela Ferreira Leite, defendeu que o partido deveria "ter tomado a iniciativa de viabilizar uma comissão de inquérito". Para, viperino, prosseguir: "Ao não fazê-lo pode dar a ideia errada que protege alguma informação."
Dias Loureiro, frise-se, não fora ainda, à altura da demissão, constituído arguido no caso BPN - e até hoje de nada foi acusado formalmente. Alegou aliás ter-se limitado a assinar as contas da SLN que lhe punham à frente, "confiando" em Oliveira Costa. E jura que correu a informar o Banco de Portugal mal lhe surgiram suspeitas sobre o funciona- mento do banco (o BdP nega). Não se lembrou, o pobre, de alegar que soubera das irregularidades e até assinara as contas sabendo disso - às tantas achou que tal seria confessar um crime -, mas "por prudência" esperara que alguém as denunciasse em vez dele e (o que é contraditório) que tinha enviado uma carta ao BdP a denunciar a marosca. Se calhar achou que teria de mostrar a carta ou assim - que parvo. Tivesse sido essa a sua defesa e, tudo leva a crer, em vez de apontado por Passos como proverbial mentiroso e por Portas como maçã podre e membro de uma organização criminosa, seria por eles convidado a fazer parte do mesmo governo.
Poderia até sonhar ouvir, na mesma assembleia onde foi questionado como membro de quadrilha, um pungente ministro descrevê-lo como vítima de "linchamento político".
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