adivinhando chuva
acordei neste sábado ao som da flauta do amola-tesouras
adivinha chuva, dizem
e geralmente é em dias assim, escuros, como o de hoje, que aparece
deve ser das poucas alturas em que tem trabalho
ali está, em frente aos cabeleireiros glória, na rua vasco da gama
aquele homem, ainda jovem, magro, com ar de mau passadio
na sua bicicleta, amolando as tesouras da glória
pergunto-me como pode sobreviver esta pessoa, amolando tesouras, facas...mas quem é que amola facas, ou amanha guarda-chuvas, se os chineses os vendem por meio tostão?!
deve ter família
andando por aí, de terra em terra
um tendeiro, "uma espécie de cigano", dizia-se lá no alentejo com um misto de temor
ou inveja
sinónimo de gente que, sem ser marginal, vivia, por sua livre escolha, à margem da sociedade
a sua profissão é um perfeito anacronismo histórico neste tempo digital
eu não desejo mal ao tendeiro
mas gostava que hoje o sol brilhasse
enquanto o sol não chega, vou preparar-me para a manifestação
Só planície. RC.
Só planície. RC.
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