Reflexões
Quem me conhece bem e de perto, sabe da minha alergia a partidos políticos, militantismos, dogmatismos, fanatismos e muitas outras asfixias da mesma ordem.
A Europa está de novo a atravessar um período sombrio, contaminada por diversas crises onde a crise de valores, a questão ética, me parece ser a pior de todas, por conseguinte, a mais letal.
Para o arqueólogo, cuja visão da História da Humanidade não escapa a noções temporais verticalmente vastas, contabilizadas em eras, milénios ou séculos, esta crise seria apenas mais uma crise. Não obstante, como dizia um ilustre professor meu, “nunca escapamos ao tempo e ao espaço no qual vivemos.” A arqueóloga (neste caso) não deixará de ser apenas mais um membro dos tais 99%.
Tenho perfeita consciência de uma realidade que parece estar condenada a acompanhar o Humano, até que o último homem ou mulher desapareça do planeta: a nossa parte obscura, suja e deprimente.
Assistimos ao ressurgimento de forças tenebrosas que nos remetem para as piores passagens do nosso percurso humano. O que de mais horrível mora no fundo de nós, reaparece por toda a parte no mundo ocidental, por vezes disfarçado atrás de máscaras reformistas que pregam a insustentabilidade do estado social e que cada dia mais golpeiam as maiores e mais justas conquistas jamais efectuadas para garantir a dignidade de cada um de nós.
Noutros casos, e cada vez mais, sem máscara, multiplicam-se os ataques xenófobos. Ressuscitam-se e reabilitam-se ditadores; dignifica-se o que nunca poderá humanamente ser digno. Uma onda de revisionismo escorre pela Europa, onda essa, feita de nostalgias e de falhas de memória, perpetuada pelas abastadas gerações pós 2a Guerra Mundial que traem os ideais e a memória dos milhões de homens e mulheres que morreram para que eu hoje possa usufruir ( não sei por quanto tempo...) de um dos maiores direitos jamais conquistados: a liberdade de expressão.
Que as forças do mal dancem à volta da fogueira, não me surpreende. O que de pior aconteceu no passado, pode repetir-se, e pior ainda, caricaturar-se. Nada de novo a esse nível. Nunca deixámos de reproduzir os piores horrores numa espiral, sempre vertiginosamente descensional, alimentada pelo progresso tecnológico, e que nos puxa para o abismo. Descriminações, racismo, escravatura, explorações sob todas as formas, nunca deixaram de existir. Num ou noutro ponto do planeta, sempre continuaram, silenciosas ou não. Milhões de pessoas morreram a tentar combater tais pragas.
O que mais me aflige estes dias é sobretudo o silêncio dos outros, daqueles que me ensinaram a chamar “justos.”
Por onde andam? Onde se escondem? A que estão reduzidos? O que mais tem de acontecer para acordarmos.
Lili Carrascalão Contreiras
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