Baile de Máscaras à escala global
O caso da carne de cavalo encontrada nos produtos da empresa sueca Findus, ilustra de forma clara como a globalização, em vez de servir os interesses dos consumidores, é um belo pretexto para ocultar vigarices.
Para se perceber melhor o que se passa explique-se o que aconteceu:
Uma empresa sueca encomenda as suas refeições ultracongeladas a uma empresa francesa, que pede a uma empresa cipriota que lhe forneça a carne. Esta, por sua vez, subcontrata uma empresa holandesa, que adquire o produto na Roménia.
Consumidores de todo o mundo compram o produto que, seguindo as regras da União Europeia, informa os consumidores, na rotulagem, que está a comprar um produto com genuína carne de vaca.
Numa demonstração de pieguice ( como se desconfiasse que aquilo fosse carne), um laboratório do Reino Unido descobre que o produto adquirido pelos consumidores não contém carne de vaca, mas sim de cavalo.
Começam a procurar-se os culpados, aplicando as regras da rastreabilidade, que permite seguir o rasto dos produtos alimentares e seus componentes, até à origem.
Conclusão: os romenos são os culpados, porque foram eles que venderam a carne. Ninguém se espanta, porque os gajos são ciganos e "todos sabem que essa gente é vigarista". De qualquer modo, os consumidores podem estar descansados, porque a carne de cavalo não faz mal à saúde, avisam as autoridades alimentares da União Europeia.
Os consumidores tranquilizam-se com a explicação e ficam felizes porque foram encontrados os culpados. MENTIRA!
Mesmo partindo do princípio que a carne de cavalo foi adquirida na Roménia, houve negligência na fiscalização dos intermediários: cipriotas,holandeses,franceses e também suecos são de igual modo responsáveis, pois não respeitaram as regras da União Europeia que impõe a obrigatoriedade de fiscalização do produto. Claro que culpar os romenos é mais fácil, porque a Roménia é o elo mais fraco nesta cadeia. Os suecos e holandeses calvinistas estão acima de qualquer suspeita, até porque são loiros e ricos. Com os franceses é melhor não criar problemas e, se for preciso arranjar outro culpado para acalmar a opinião pública, os cipriotas estão mesmo a jeito...
EM PORTUGAL tudo seria mais fácil. Detectada a fraude, logo um ministro viria desvalorizar a questão dizendo que estando nós a viver em época carnavalesca, afinal se tratava de vacas mascaradas de cavalos, pelo que não há razão para alarme. E siga o baile... de máscaras!
Crónicas do rochedo
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