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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, TECNOLOGIAS E IMPACTOS


Quarta revolução industrial, tecnologias e impactos
Segundo os mais ricos e poderosos do planeta, a quarta revolução industrial já está a caminho e é o resultado da convergência da robótica, nanotecnologia, biotecnologia, tecnologias de informação e comunicação, inteligência artificial e outras. O Foro Económico Mundial, que reúne anualmente em Davos as maiores empresas do planeta, publicou, em 2016, um relatório onde afirma que, com o “temporal perfeito” de mudanças tecnológicas a que se juntam os asseticamente denominados “fatores socioeconómicos, até 2020 perder-se-ão 5 milhões de empregos, mesmo tendo em conta os novos que se criarão pelas mesmas razões.

Se eles falam da perda de 5 milhões de empregos, certamente serão muitos mais. E é só um dos impactos desta revolução tecnológica, que não se define por cada uma destas tecnologias isoladamente, mas pela convergência e sinergia entre elas. Enumeram, entre as dez tecnologias chave – e mais disruptivas –, a engenharia de sistemas metabólicos para produzir substâncias industriais (leia-se biologia sintética para substituir combustíveis, plásticos, odorantes, saboreantes, princípios ativos farmacêuticos derivados de conhecimentos indígenas); a internet das nano-coisas (além de usar internet para produção industrial, agrícola, etc., também nano-sensores implantados em seres vivos, inclusive nos nossos corpos, para captar e receber estímulos e administração de drogas e fármacos); ecossistemas abertos de inteligência artificial (integrar máquinas com inteligência artificial à internet das coisas, às redes sociais e à programação aberta, com capacidade de modificar radicalmente as nossas relações com as máquinas e também entre elas) e várias outras, como novos materiais para armazenar energia, nano-materiais “bidimensionais”, veículos autónomos e não tripulados (drones de todo o tipo com maior autonomia), optogenética (células vivas manipuladas geneticamente que respondem a ondas de luz) e produção de órgãos humanos em chips eletrónicos.

No ano 2000, o Grupo ETC denominou esta convergência de BANG (Bits, Átomos, Neurociências, Genes), uma espécie de Big Bang tecno-sócio-económico, melhor dizendo “Little Bang” porque as tecnologias à nano-escala (aplicadas a seres vivos e materiais) são a plataforma de desenvolvimento de todas as outras.

Supúnhamos, então, que este “little Bang” estava formando um tsunami tecnológico que teria impactos negativos de grandes dimensões no meio ambiente, saúde, trabalho, na produção de novas armas para a guerra, vigilância e controlo social de todas e todos, entre outras. Tudo num contexto da maior concentração corporativa da era industrial, oligopólios com cada vez menos empresas que controlam imensos setores de produção e tecnologias.

Assim está sucedendo, mas para cada um de nós, separadamente, é difícil percebê-lo na totalidade e nas dimensões dos seus impactos que se complementam. Os governos maioritariamente controlados por interesses corporativos e com o mito de que os avanços tecnológicos são benéficos em si, deixam que quase todas estas tecnologias prossigam, se usem, vendam, estando a disseminar-se no ambiente e nos nossos corpos, sem a mínima avaliação dos seus possíveis impactos negativos e sem regulações, muito menos com a aplicação do princípio precaucioso. Um exemplo claro é a indústria nanotecnológica que, com mais de 2000 linhas de produção nos mercados, muitos presentes na nossa vida cotidiana (alimentos, cosméticos, produtos de higiene, farmacêuticos), não está regulamentada em nenhuma parte do mundo, embora aumentem os estudos científicos que mostram toxidade no ambiente e saúde, especialmente para os trabalhadores expostos na produção e uso de materiais com nanopartículas.

Mas o Foro de Davos sim, elabora anualmente um amplo relatório sobre os riscos globais, porque esses riscos afetam os seus capitais e inversões. Na edição de 2015, afirmam que “O estabelecimento de novas capacidades fundamentais que está ocorrendo, por exemplo, com a biologia sintética e a inteligência artificial, está particularmente associado a riscos que não se podem avaliar completamente em laboratório. Uma vez que o génio tenha saído da garrafa, existe a possibilidade de aplicações indesejadas ou da produção de efeitos que não se possam antecipar ao momento da sua invenção. Alguns desses riscos podem ser existenciais, ou seja poderão pôr em perigo o futuro da vida humana”. A revelação de partes, atenua a falta de provas. Mas ainda que reconheçam, não tomam nenhuma medida que coarte os seus lucros.

Neste contexto, desde há alguns anos, estamos trabalhando em conjunto com outras organizações, movimentos sociais e associações de científicos críticos, na construção de uma rede de avaliação social e ação sobre tecnologias (Red TECLA), para encontrar, por um lado, informação e, por outro, tentar compreender o horizonte tecnológico, suas conexões, impactos e implicações vistas de muitas perspetivas (ambiente, saúde, ciência, género, trabalho, consumo), fortalecendo-nos para atuar sobre elas

Para avançar nestas ideias e no questionamento da tecnologia ao serviço do lucro, com experiências concretas de vários países latino-americanos, realizar-se-á, na Cidade Universitária do México o seminário internacional “Ciência, tecnologia e poder: Olhar crítico.” Convocado pela Red TECLA, a União dos Cientistas Comprometidos com a Sociedade e o Grupo ETC.


Silvia Ribeiro, é investigadora do Grupo ETC
Tradução CS/LA

Via: as palavras são armas http://bit.ly/2jOnyHT

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