Aviso prévio: Este post é bastante longo, mas gostava muito que o lessem e comentassem. O assunto é muito sério.
Todas as semanas leio notícias sobre empresas que estão a despedir funcionários e a substituí-los por robôs. Os japoneses seguem na liderança desta mudança estrutural no mundo do trabalho e na organização das sociedades
Que a Inteligência Artificial ia mudar o mundo e deixar as pessoas sem emprego, já eu sabia desde pequenino. Quem o dizia, transparecendo muita preocupação e com muita firmeza era a minha Avó, apaixonada por Charlie Chaplin e pelos "Tempos Modernos".
Pelo menos era o que a minha Mãe contava, pois eu não conheci a minha Avó. Eu ouvia a minha Mãe atentamente e perguntava-lhe se isso era assim tão mau, para a minha Avó ficar preocupada com a possibilidade de as máquinas fazerem o trabalho dos homens. E, invariavelmente, dava como exemplo as vindimas. Então não era bom que os homens vergados ao peso daqueles cestos cheios de uvas que carregavam às costas fossem substituídos por máquinas?
Também invariavelmente, a minha Mãe olhava para mim com cara de quem está a pensar "este miúdo não cresce", fazia-me uma festa na cabeça e ia à vida, deixando-me sem resposta.
Quanto a mim, começava a divagar por um mundo onde as máquinas obedeciam às minhas ordens. Fascinava-me, por exemplo, a ideia de poder dar ordens a uma máquina para me trazer o pequeno almoço à cama. Coisa de miúdo, obviamente, porque detesto tomar o pequeno almoço na cama.
Claro que me preocupava a ideia de o meu pai ficar sem trabalho, porque se ele não tivesse emprego, quem me comprava os carrinhos da Dinky Toys? Mas, na verdade, desejava que em sendo adulto o mundo já estivesse equipado com robôs em número suficiente para me substituírem nas tarefas laborais, deixando-me tempo para poder viajar pelo mundo.
(Naquela idade ainda pensava que para viajar não era preciso ter dinheiro. Bastava meter-me ao caminho e deixar as coisas acontecer. Já adolescente, a caminhar para adulto, saí de Espanha com 5 amigos e 500 pesetas no bolso. Andámos 4 ou 5 meses pela Europa e Norte de África, numa carrinha pão de forma e descobri que não andava muito longe da verdade. Bastava que a sociedade se organizasse como nós nos organizámos durante a viagem. Tinha aprendido nesse ano, com António Sérgio, as virtudes da cooperação. E tornei-me um cooperativista convicto e praticante. Até perceber que a engrenagem triturava as boas ideias e que o "Elogio da Preguiça", última esperança numa vida de ócio, era uma quimera. Mas adiante...)
Bem, voltemos então ao que pretendia comunicar com este post. Que aliás é muito simples e se resume em poucas palavras:
Nunca imaginei viver num tempo em que as pessoas casassem com máquinas!
A verdade, porém, é que já vivemos nesse tempo. Descobri quando li o artigo da Clara Soares na Visão.
Eu já tinha percebido há tempos ( depois de ler um estudo muito bem feito sobre a geração dos "millenials") que os homens estão a perder interesse em sexo, mas daí a passar-me pela cabeça que há pessoas que desenham o seu parceiro/a ideal, imprimem-no/a em 3D e ficam à espera de legislação que legalize a sua união com "a coisa", nem em sonhos! Há uns anos, um livro de David Levy, perito em IA, fez-me esboçar alguns sorrisos, nada mais.
No entanto, os especialistas em Inteligência Artificial garantem que a legalização de casamentos entre humanos e máquinas / andróides acontecerá até 2050.
Já estou a imaginar a próxima causa fracturante do BE: exigir a legalização do casamento entre homens/mulheres e máquinas.
Não é caso para rir, nem para fazer graçolas. O assunto é mesmo sério e merece reflexão profunda.
Para que tipo de sociedade estamos a caminhar?
Já nem digo que é para o triunfo do nihilismo, pois isso já aconteceu há muito, desde que as redes sociais tornaram as pessoas em receptores de mensagens, às quais reagem em função do estímulo. Pensa-se cada vez menos, reage-se em vez de agir. Anda toda a gente muito preocupada com a eleição de Trump, mas se as pessoas tivessem ido votar em peso, em vez de ficarem em casa a comer pipocas e a beber Coca Cola, porque não vale a pena votar, hoje Trump não estaria na Casa Branca e na Europa ninguém andaria preocupado com a Marine Le Pen e outros abortos similares que por aí pululam.
A sociedade que filhos e netos estão a construir é a do triunfo do individualismo, da glorificação do que é mais cómodo, rápido e de fácil apreensão. Reflectir para amadurecer ideias será tarefa para um reduzido número de...marginais.
Para quê, no futuro, incomodarem-se com relações e afectos, se podem partilhar a vida com uma figura de um romance, de uma BD, ou de um filme, "construído" para não nos questionar e estar sempre às nossa ordens, pronta para satisfazer os nossos desejos?
Há uns anos escrevi um post, aqui no CR, onde dizia que as relações entre as pessoas estavam a diluir-se e a ficar reduzidas a uma mera função utilitária, porque estávamos a tornar-nos cada vez mais narcísicos, individualistas e com dificuldade em ineteragir. Fui bastante criticado, mas ao ler o artigo da "Visão" constato que não andava longe da realidade. A psicóloga americana Sherry Turckle, do MIT, concluiu que "a empatia entre estudantes universitários caiu 40% em apenas duas décadas" daí resultando um maior isolamento das pessoas e uma nova gama de necessidades, consubstanciadas " no consumo de dispositivos programáveis à medida dos nossos desejos infantis"
Ao fim e ao cabo esta transformação é o resultado da nossa relação dependente e quase cega com as tecnologias.
No entanto, se em termos de relações afectivas caminhamos inapelavelmente para a "autosatisfação" que culminará, a breve prazo, na legalização do casamento entre humanos e andróides, sem que as pessoas se preocupem muito com isso, tenhamos esperança nos movimentos que recentemente começaram a nascer no norte da Europa ( especialmente em Inglaterra e na Suécia).
Preocupados com a concorrência que os robôs sexuais fazem aos trabalhadores e trabalhadoras do sexo, estes movimentos prometem lutar contra a intromissão destas máquinas de prazer que providenciam relações conjugais estáveis.
Li, algures, que 60% dos primatas estão ameaçados de extinção. Não é ainda o caso do Homem mas, por este caminho, não faltará muito.
Bem, voltemos então ao que pretendia comunicar com este post. Que aliás é muito simples e se resume em poucas palavras:
Nunca imaginei viver num tempo em que as pessoas casassem com máquinas!
A verdade, porém, é que já vivemos nesse tempo. Descobri quando li o artigo da Clara Soares na Visão.
Eu já tinha percebido há tempos ( depois de ler um estudo muito bem feito sobre a geração dos "millenials") que os homens estão a perder interesse em sexo, mas daí a passar-me pela cabeça que há pessoas que desenham o seu parceiro/a ideal, imprimem-no/a em 3D e ficam à espera de legislação que legalize a sua união com "a coisa", nem em sonhos! Há uns anos, um livro de David Levy, perito em IA, fez-me esboçar alguns sorrisos, nada mais.
No entanto, os especialistas em Inteligência Artificial garantem que a legalização de casamentos entre humanos e máquinas / andróides acontecerá até 2050.
Já estou a imaginar a próxima causa fracturante do BE: exigir a legalização do casamento entre homens/mulheres e máquinas.
Não é caso para rir, nem para fazer graçolas. O assunto é mesmo sério e merece reflexão profunda.
Para que tipo de sociedade estamos a caminhar?
Já nem digo que é para o triunfo do nihilismo, pois isso já aconteceu há muito, desde que as redes sociais tornaram as pessoas em receptores de mensagens, às quais reagem em função do estímulo. Pensa-se cada vez menos, reage-se em vez de agir. Anda toda a gente muito preocupada com a eleição de Trump, mas se as pessoas tivessem ido votar em peso, em vez de ficarem em casa a comer pipocas e a beber Coca Cola, porque não vale a pena votar, hoje Trump não estaria na Casa Branca e na Europa ninguém andaria preocupado com a Marine Le Pen e outros abortos similares que por aí pululam.
A sociedade que filhos e netos estão a construir é a do triunfo do individualismo, da glorificação do que é mais cómodo, rápido e de fácil apreensão. Reflectir para amadurecer ideias será tarefa para um reduzido número de...marginais.
Para quê, no futuro, incomodarem-se com relações e afectos, se podem partilhar a vida com uma figura de um romance, de uma BD, ou de um filme, "construído" para não nos questionar e estar sempre às nossa ordens, pronta para satisfazer os nossos desejos?
Há uns anos escrevi um post, aqui no CR, onde dizia que as relações entre as pessoas estavam a diluir-se e a ficar reduzidas a uma mera função utilitária, porque estávamos a tornar-nos cada vez mais narcísicos, individualistas e com dificuldade em ineteragir. Fui bastante criticado, mas ao ler o artigo da "Visão" constato que não andava longe da realidade. A psicóloga americana Sherry Turckle, do MIT, concluiu que "a empatia entre estudantes universitários caiu 40% em apenas duas décadas" daí resultando um maior isolamento das pessoas e uma nova gama de necessidades, consubstanciadas " no consumo de dispositivos programáveis à medida dos nossos desejos infantis"
Ao fim e ao cabo esta transformação é o resultado da nossa relação dependente e quase cega com as tecnologias.
No entanto, se em termos de relações afectivas caminhamos inapelavelmente para a "autosatisfação" que culminará, a breve prazo, na legalização do casamento entre humanos e andróides, sem que as pessoas se preocupem muito com isso, tenhamos esperança nos movimentos que recentemente começaram a nascer no norte da Europa ( especialmente em Inglaterra e na Suécia).
Preocupados com a concorrência que os robôs sexuais fazem aos trabalhadores e trabalhadoras do sexo, estes movimentos prometem lutar contra a intromissão destas máquinas de prazer que providenciam relações conjugais estáveis.
Li, algures, que 60% dos primatas estão ameaçados de extinção. Não é ainda o caso do Homem mas, por este caminho, não faltará muito.
cronicasdorochedo.blogspot.pt
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