A famosa Taxa Social Única está no centro de uma polémica entre o Governo PS e partidos à sua esquerda. Esta não é sequer a primeira vez que tal acontece: o imposto deu azo a uma manifestação histórica em 2012 e provocou até uma crise governamental.
A sigla TSU marca os últimos anos da política em Portugal. Usada como mecanismo de compensação em vários acordos de concertação social, a Taxa Social Única tem sido mais 'simpática' para os patrões, numa tendência que não agrada aos trabalhadores e sindicatos.
No dia em que o Parlamento discute e vota as apreciações parlamentares, de Bloco de Esquerda e PCP para revogar o diploma do Governo que baixa a Taxa Social Única (TSU) para as empresas, o que será viabilizado com apoio do PSD, o Economia ao Minuto e a Agência Lusa recordam os pontos chave da TSU e como se chegou ao impasse atual, lembrando ainda como esta mesma taxa já foi gatilho para uma manifestação, em 2012, e até para uma crise governamental.
O que é a TSU?
A Taxa Social Única (TSU) é a contribuição que empresas e trabalhadores descontam todos os meses para que a Segurança Social possa pagar as reformas, segundo o que ganha o funcionário.
Quanto descontam atualmente trabalhadores e empresas?
A TSU sobre o trabalhador é de 11% e sobre as empresas com base no salário do trabalhador é 23,75%.
As empresas têm, até final de janeiro deste ano, um desconto de 0,75 pontos percentuais sobre a taxa de 23,75%, aplicável a quem receba o salário mínimo nacional.
O que reabriu a polémica com a TSU?
Em resultado de um acordo em concertação social, no final de 2016, que não teve a assinatura da CGTP, o Governo decidiu a descida da TSU para os empregadores em 1,25 pontos percentuais para quem pague o Salário Mínimo Nacional (SMN), a partir de fevereiro de 2017, ficando em 22,5%, e um aumento do SMN de 530 para 557 euros.
O Governo estima que esta medida terá um impacto de 40 milhões de euros.
Os três partidos que apoiam o Governo no parlamento, PCP, BE e Verdes, são contra esta medida e na quarta-feira vão ser debatidas e votadas na Assembleia da República apreciações parlamentares do PCP e do BE que pedem a eliminação desta descida.
O PSD, liderado por Pedro Passos Coelho, já anunciou que votará ao lado da esquerda contra esta descida. A mudança de posição valeu aos sociais-democratas a acusação de incoerência por parte do PS -- "uma cambalhota", acusou o PS no debate quinzenal da semana passada.
A TSU já esteve na origem de uma crise governamental?
Sim, já. Há quatro anos, a taxa que serve para financiar a Segurança Social abriu aquela que foi a primeira crise política no interior da coligação PSD/CDS-PP no Governo (2011-2015), com o então primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, a recuar na medida ao fim de duas semanas.
A redução da TSU em 5,75 pontos percentuais, passando de 23,75% para 18%, foi anunciada por Passos Coelho a 7 de setembro de 2012, numa comunicação ao país.
Em contrapartida, o Governo pretendia aumentar a contribuição dos trabalhadores para a Segurança Social para 18%, ou seja, uma subida de sete pontos percentuais. A medida deveria ser aplicada quer aos trabalhadores do setor privado, quer aos funcionários públicos.
Depois de Passos ter dito que o CDS concordara com a medida, Paulo Portas, líder do CDS e ministro dos Negócios Estrangeiros, admitiu ter discordado, explicando que não bloqueou a decisão para evitar uma crise nas negociações com a 'troika' e uma "crise de Governo".
A medida da TSU acabou por ser mais um argumento para a manifestação contra a troika e a austeridade que reuniu milhares de pessoas e que decorreu em Lisboa, Porto, Coimbra e outras localidades do país.
E o Governo PSD/CDS-PP recuou?
Sim. A 21 de setembro de 2012, reuniu-se o Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da República, Cavaco Silva, que ouviu os parceiros sociais sobre o assunto.
Com milhares de pessoas a manifestarem-se em frente ao Palácio de Belém, em Lisboa, os conselheiros de Estado estiveram reunidos durante oito horas.
No final, através de comunicado, foi anunciado que o Governo tinha informado o órgão político de consulta do chefe de Estado de que estava disponível para, no quadro da concertação social, "estudar alternativas" à alteração da TSU, que resultaram num "enorme aumento de impostos" anunciado pelo então ministro das Finanças, Vítor Gaspar.
Algumas das medidas foram a redução do número de escalões de IRS de 8 para 5, aumentando assim a taxa efetiva de IRS, e a introdução de uma sobretaxa de 4 pontos percentuais sobre os rendimentos auferidos em 2013.
Que posição tomaram PS, PCP e BE em 2012?
O PS era, em 2012, liderado por António José Seguro, que considerou a medida "inaceitável e imoral". Seguro chegou a ameaçar com uma moção de censura do PS se o executivo PSD/CDS persistisse "em aplicar uma proposta que transfere rendimentos dos trabalhadores para as entidades patronais".
Os três partidos que agora apoiam, no parlamento, o executivo de António Costa (BE, PCP e PEV), eram, em 2012, frontalmente contra esta medida.
O que defende hoje o PS?
Estava previsto no quadro macroeconómico, apresentado pelo PS antes das legislativas de 2015, uma redução progressiva e temporária da TSU para trabalhadores e empresas. As medidas abriram divisões no PS, em especial com os setores ligados aos sindicatos, à UGT e aos reformados.
O PS sugeria uma redução de forma gradual até 2018 para salários abaixo de 600 euros, passando a TSU dos atuais 11% para os 9,5% em 2016, os 8% em 2017 e os 7% em 2018.
No programa de Governo, o Executivo prometia reduzir a TSU paga pelos trabalhadores com salários até 600 euros. A medida é apresentada como temporária e a partir de 2019 "haverá uma diminuição dessa redução, que se processará em oito anos".
A medida pode violar o acordo de Governo com os parceiros à esquerda?
O Partido Ecologista Os Verdes foi o único a dizer que sim, mas o primeiro-ministro disse que não.
Num debate em dezembro, antes ainda do acordo na concertação, a deputada Heloísa Apolónia considerou que a proposta para uma descida da TSU estará em violação com o teor das declarações conjuntas assinadas entre PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV para a formação do atual executivo.
O primeiro-ministro rejeitou, respondendo: "Não é assim, porque está no programa do Governo que iríamos propor à concertação social, anualmente, uma trajetória de convergência para o salário mínimo. É isso que estamos a fazer."
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