No dia 25 de Janeiro de 1785, o príncipe-cardeal de Rohan recebe um deslumbrante colar de diamantes que ele destina à rainha Maria Antonieta. O escândalo iria desabar no colo da rainha da França e arruinar a sua reputação de mulher honesta. Alguns meses mais tarde eclodiria a Revolução.
O colar havia sido produzido cerca de 1773 pelos joalheiros parisienses Böhmer e Bassenge com 647 joias e um peso total de 2300 quilates.
Os joalheiros estavam certos de vendê-lo à condessa Du Barry, favorita do rei Luis XV, mas a morte do velho rei em 1774 não permitiu concretizar a venda.
Surge a ideia de vendê-lo à nova rainha, Maria Antonieta. Chegaram a apresentar a maravilha aos soberanos em 1778 e em 1781. O jovem rei Luís XVI não se deixa envolver e recua diante da enormidade do preço, 1,6 milhão de libras. A rainha também se mostra ponderada. Iria lembrar que era o preço de dois navios, dos quais a França tinha muito mais necessidade.
A jovem austríaca tinha chegado a Versalhes com 14 anos e foi definida como personagem frívola, cercada de jovens aristocratas despreocupados. O príncipe Louis de Rohan era um deles. Filho de ilustre e riquíssima família, parte para Viena como embaixador em 1772. É expulso dois anos mais tarde pela imperatriz que se escandaliza com a sua libertinagem. No entanto, é nomeado capelão na França, depois cardeal e por fim bispo de Estrasburgo.
O cardeal de Rohan tem suas ambições políticas e atribui à antipatia da rainha o fracasso dos seus projectos. Foi então que conheceu uma jovem mulher pouco recatada que descendia de um bastardo filho do rei Henrique II e utilizava o título fantasioso de condessa De La Motte-Valois. Ela mantinha vínculos com um libertino italiano, Giuseppe Balsamo, quem se apresentava como conde de Cagliostro.
A condessa Jeanne De La Motte-Valois fazia alarde de uma pretensa intimidade com Maria Antonieta a ponto de convencer o cardeal de poder ganhar as suas boas graças.
Em 11 de Março de 1784, uma entrevista discreta é organizada no Bosque de Vénus, perto do Petit Trianon, onde a rainha passava boa parte do seu tempo. A rainha aparece e entrega ao cardeal uma rosa e um bilhete fazendo um sinal para que se calasse. Na realidade, era uma modista parisiense, Nicole d'Oliva, quem desempenhava o papel de sósia da rainha. O cardeal julga ser a rainha e empresta-lhe 150 mil libras. Mais tarde, a sósia da rainha pede-lhe novos empréstimos e que sirva de intermediário entre ela e os joalheiros Boehmer e Bassenge na compra de um colar de diamantes no valor de 1,5 milhão de libras, que ela desejava ter mas, em segredo, para não alarmar o rei. Os joalheiros também são contactados com um pedido para que entreguem o colar a Jeanne para que esta o transmita à rainha. Rohan aceita servir de intermediário na transacção, chegando o colar às mãos da condessa de La Motte, que o vende em Londres com o auxílio do seu marido. Quando a factura dos joalheiros chega ao palácio real, tudo se vai., descobrir. O rei Luís XVI manda prender o cardeal Rohan, Cagliostro, a condessa e seus cúmplices: ao todo quinze pessoas.
Em 15 de Agosto de 1785, dia da Assunção, houve uma grande festa em Versalhes. O grande capelão da França celebraria um ofício solene na capela do palácio. Já havia vestido o seu hábito pontifical quando foi intimado a apresentar-se no gabinete real.
Luis XVI recebe-o em presença da rainha e do ministro da Casa Real, o barão de Breteuil. Mostram-lhe o compromisso firmado em favor dos joalheiros Böhmer e Bassenge. O cardeal, desconcertado, é obrigado a firmar a confissão cujos termos foram ditados pelo rei. “Que se prenda o cardeal!”, Exclama Breteuil, seu inimigo jurado. No mesmo dia, Rohan é encarcerado na Bastilha. No dia seguinte é a vez de Jeanne de la Motte.
O rei confia ao Parlamento o processo do cardeal. A instrução arrasta-se enquanto o alto-clero se insurge contra a afronta a um dos seus, vítima de burlões e apenas culpado de ingenuidade.
Em 22 de Maio de 1786, o processo tem início diante de 64 magistrados da Grande-Câmara. Dez dias depois o procurador-geral, Joly de Fleury, pronuncia uma acusação sombria. Uma parte da corte insurge-se enquanto milhares de manifestantes do lado de fora proclamam ruidosamente o seu apoio ao cardeal. O rei despoja o cardeal de todos os seus cargos e exila-o na Abadia da Chaise-Dieu.
A condessa De la Motte é condenada a ser açoitada em público, marcada com ferro em brasa e presa com prisão perpétua na Salpêtrière de onde foge pouco depois. Cagliostro é banido do reino.
A opinião pública acolhe o veredicto enquanto os pintores oficiais tentam reverter o julgamento popular, apresentando Maria Antonieta não mais como a rainha da elegância e sim como uma mãe afectuosa, cercada de crianças. Esta operação de comunicação não funcionou.
O caso do colar marcaria um novo apodo à rainha : “Madame Déficit”, a alimentar o ressentimento popular contra ela.
Tratado como mártir, o cardeal de Rohan seria eleito depois da Revolução para os Estados Gerais em 1789 pelo clero de Tonnerre, antes de emigrar para a Alemanha, onde morreria em 1803.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)
Maria Antonieta em 1783 -
O Cardeal Louis de Rohan
A Condessa de La Motte
Reconstituição do colar
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