Para os mesmos de sempre, a receita do costume
Ainda mal se sentou na sua nova cadeira de Primeiro-Ministro e Passos Coelho já mostrou ao que vem. Como a execução orçamental não apresenta os resultados desejados, pese embora todas as artimanhas de que o Governo PS se socorreu, Passos Coelho mostra que afinal toda a criatividade de que falava em campanha eleitoral era bluff, os mesmos de sempre - os trabalhadores - vão 28 anos depois ver novamente cortado uma parte significativa do seu subsídio de natal.
Há dois meses atrás, numa visita a uma Escola do concelho de Vila Franca de Xira, Passos Coelho interpelado por uma jovem que lhe dizia que a sua mãe estava preocupada com a possibilidade de que se o PSD ganhasse as eleições cortaria parte do subsídio de natal, respondeu-lhe com um ar muito sério que o PSD nunca faria isso. Mal se sentou na cadeira do poder, foi o que se viu. Que pensará esta mesma jovem hoje ou rever na televisão o que Passos Coelho então disse e o que agora fez? Que pensarão centenas de milhares de portugueses que levados pela falinha mansa destes senhores, uma vez mais cairam no engodo e agora vão sofrer na pele o resultado do voto que exprimiram?
O que ontem aconteceu na Assembleia da República foi na verdade gravíssimo, mas como muita gente de esquerda tem vindo a reafirmar a procissão ainda vai no adro.
Como o programa de governo bem mostra e como as várias intervenções que os membros desse mesmo governo têm feito ontem e hoje na Assembleia da República, estamos perante o governo mais liberal e mais conservador eleito depois do 25 de Abril.
A proposta inserida no seu programa de emergência social de assegurar aos portugueses mais pobres o fornecimento de medicamentos, roupa e alimentação, mostra bem o retrocesso civilizacional que este governo representa. Temos que recuar quase 100 anos e ao governo do ditador Sidónio Pais para encontrarmos iniciativa de carácter similar. Quem não se lembra entre os trabalhadores portugueses de ouvir falar aos seus familiares mais idosos, da tão célebre " sopa do Sidónio" e que mais não eram do que espaços em que eram fornecidas "sopas" aos portugueses mais pobres. Quase cem anos depois o que este "jovem" governo de direita liberal nos tem para oferecer é juntar à sopa, roupa e medicamentos.
Ao mesmo tempo que assistimos a tudo isto, do lado do PS responsável pelo regresso desta direita ao poder, verifica-se um completo eclipse. Nada disto os preocupa, antes estão preocupados com as lutas intestinas e com a forma como hão-de aparecer aos portugueses daqui a uns meses com uma imagem tão transfigurada quanto possível, prontos a mostrarem a sua faceta defensora do Estado Social, a qual hibernou durante os 6 longos anos em que foram poder.
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