Rebekah Brooks: a jornalista de quem todos falam
15.07.2011
É uma das protagonistas no centro do furacão das escutas telefónicas e subornos à polícia do News of the World (NoW), que está a abalar o Reino Unido. Aos 43 anos, Rebekah Brooks é também uma das mais misteriosas figuras nesta história que diariamente mostra novas peças num puzzle com extensões imprevisíveis. Brooks é directora executiva da News International Corporation (NI), a filial britânica do barão dos media australiano Rupert Murdoch.
Rupert Murdoch e Rebekah Brooks (Foto: Olivia Harris/Reuters)
Quando Murdoch chegou a Londres no domingo, dia em que a última edição do NoW, o mais bem sucedido semanário britânico, foi para as bancas, deixou uma mensagem bem clara aos que têm defendido a queda de Brooks: veio dos Estados Unidos, onde vive, "por ela".
A lealdade de Murdoch a Brooks não deixa de ser admirável. E tem, por isso, provocado especulação. Muitos têm dito que ela é mais do que uma funcionária da empresa - há quem veja a relação entre os dois como pai e filha. Afinal, comenta-se, Murdoch preferiu fechar o jornal que o tornou conhecido internacionalmente, o primeiro que comprou em 1968, a despedi-la.
Certo, Murdoch, de 80 anos, viu-a crescer profissionalmente: desde os 19 anos que Brooks trabalha nas suas empresas. Mas como ler esta relação? "Eles são visivelmente muito próximos", diz numa curta resposta por e-mail ao P2 Alastair Campbell, director de comunicação do antigo primeiro-ministro Tony Blair, que esteve no casamento de Brooks em 2009 - e que foi um dos espiados por detectives a trabalharem para a NI, segundo o Guardian. "O extraordinário é que Murdoch parece prescindir de quase toda a gente, inclusivamente família, se isso servir os seus interesses, mas, apesar de todos os danos, não prescinde de Rebekah Brooks. Proximidade não é suficiente para explicar a dimensão disto - por exemplo, ele a dizer que, apesar de tudo o que se está a passar, tratar dela é a sua prioridade. Está a começar a fazer as pessoas pensar que os Murdoch não a vêem apenas como parte da família, mas talvez como a última linha de defesa - se ela cai, a pessoa seguinte a ser engolida é James (filho de Murdoch e presidente da News Corporation) e, a seguir a ele, o próprio Murdoch."
O escândalo fez com que Murdoch tivesse desistido da compra da totalidade da televisão BSkyB, depois de o líder da oposição Ed Miliband ter questionado a legitimidade do negócio, seguido por todas as bancadas parlamentares e pelo próprio primeiro-ministro David Cameron. Ontem, o Huffington Post dizia que se especulava que Murdoch estava a pensar vender a News International. Nos Estados Unidos, onde Murdoch tem os poderosos Fox News e Wall Street Journal, pede-se um inquérito às práticas nas suas empresas.
A mais jovem directora
Brooks não é apenas directora de uma das mais poderosas empresas de media no Reino Unido - a News International controla cerca de 40 por cento da imprensa britânica, entre eles o mais vendido diário, The Sun (estimativas: três milhões de exemplares vendidos por dia e sete milhões de leitores) e o agora extinto semanário NoW (leitores estimados: 7,5 milhões). Foi a mais jovem directora de um jornal nacional britânico quando assumiu as rédeas do NoW em 2000. Foi a primeira mulher a dirigir o The Sun, em 2003. Entre o cargo de secretária no NoW aos 19 anos, antes de se tornar jornalista no Sun, e a direcção da NI, em 2009, foram 20 anos - alguns vêem a sua progressão como meteórica.
As escutas telefónicas a celebridades não são novidade no Reino Unido, mas na semana passada o Guardian revelou que o NoW teria escutado e apagado mensagens do voice mail de Milly Dowler, uma criança desaparecida, fazendo os pais acreditar que ela ainda estava viva. Brooks disse ser "inconcebível" saber do caso.
Logo depois, revelava-se ainda que familiares de soldados mortos no Iraque e Afeganistão também tinham sido escutados pelo NoW. Na segunda-feira, o ex-primeiro ministro trabalhista Gordon Brown revelou que tinha também sido alvo do Sun em 2006, quando Brooks dirigia o jornal. Brown confirmou que Brooks lhe telefonou na altura a dizer que o Sun tinha tido acesso ao registo médico do filho, então com meses, e descoberto que ele tinha fibrose quística - e que ia publicar a história. Na altura, o título da notícia era um simples: "Bebé de Brown com fibrose quística". Ontem, a edição trazia um estridente: "Brown errado" (o Sun nega ter comprado os registos médicos como Brown defende). O escândalo das escutas do NoW rebentou em 2006, quando Clive Goodman, o editor da secção dedicada à família real, foi preso por obter informação ilegalmente, era Andy Coulson director - Brooks dirigia o Sun. Em 2009, o Guardian revelava que a empresa tinha pago um milhão de libras por informação. Mas antes, em 2003, Rebekah foi chamada ao Parlamento, onde admitiu, com uma calma admirável (pode ver-se no YouTube) que tinha pago a informação à polícia - mais tarde a empresa emitiu um comunicado em que disse que essa não era uma prática nos seus jornais. As declarações de Brooks, incriminatórias para a empresa, não afectaram a sua posição.
Um par descontraído
Quase tudo à volta da relação entre Brooks e Murdoch - e à volta do facto de ele não a ter deixado cair - tem que ser especulação, avisa Brian Cathcart, professor de Jornalismo na Kingston University e colunista da revista New Statesman. Mas não há dúvida de que parecem próximos. Murdoch tem um pequeno círculo de pessoas em quem confia - Rebekah é uma delas. "Ela é uma pessoa dos jornais e Murdoch adora jornais, são as pessoas de jornais que ele percebe melhor."
A questão, considera, é saber por que é que não a despede "quando isso está ter tantos custos para ele". "Pode ser porque está velho e fora de si, porque não está a saber responder a este tipo de pressão ou porque está preocupado com as implicações para o seu filho James - se ela cai, James também tem que cair."
Philip Stephens, principal comentador político do Financial Times, confirma ao P2 a opinião dominante de que se trata mais de uma relação "pai-filha" do que uma normal relação profissional - seria a quinta filha de Murdoch. "Isso explica o seu desejo de a proteger até à custa dos esforços da News International em escapar à actual crise", diz por e-mail.
"Tem-se que admirá-la pelo que conseguiu", diz John Whittingdale, deputado conservador presidente da Comissão de Cultura, Desporto e Media da Casa dos Comuns, que se cruzou várias vezes com Brooks profissionalmente. "Tem sido extremamente bem sucedida, primeiro por ser mulher, depois por ser tão nova."
Mas o deputado recusa-se a entrar em detalhes e jornalistas que trabalharam com ela também não querem falar. Alguém nos diz que Murdoch tem advogados ferozes, sugerindo que qualquer passo em falso nas declarações aos media pode ter consequências indesejáveis.
Mary Dejevsky, jornalista no Independent que escreveu um comentário dizendo que o poder de Murdoch não será tão grande como alguns o pintam, vê a ascensão de Rebekah como "extraordinária", "quase única". "Parece-me que ela deve ser muito boa em coisas que não são necessariamente jornalismo, como organização e apresentação."
No New York Times, Phil Hall, ex-director do NoW, contava que Brooks era muito influente na empresa pela forma como conseguia os contactos políticos que Murdoch queria. "Se ele queria um fim-de-semana em Chequers com o primeiro-ministro, então ela organizava-o."
A forma tranquila e até "distanciada" com que ela tem aparecido surpreende Dejevsky. "Esperava que ela parecesse mais preocupada e nervosa." De facto, uma das particularidades da relação entre Murdoch e Brooks é o à-vontade entre os dois, algo que se nota na linguagem corporal, e que está longe de ser o que se espera entre hierarquias, nota. "Quando estão juntos, parecem extremamente descontraídos."Alguém tão próxima do poder e que consegue ser amiga de pessoas que se detestam - os Blair e os Brown (ex-primeiros-ministros trabalhistas) e ainda os Cameron (actual primeiro-ministro conservador) - tem que ter "um dom", considera Cathcart. Como Cathcart, vários perfis têm sublinhado a habilidade de Brooks em estabelecer relações - tão hábil que consegue ficar amiga de "vítimas" que o seu jornal escutou ou de quem divulgou detalhes da vida privada, escrevia o Guardian. Piers Morgan, actualmente na CNN e director do NoW quando ela foi promovida a jornalista de features, diz nas suas memórias - The Insider - que "ela era soberba em fazer as celebridades pensar que uma história terrível era na verdade boa para elas".
Quão fortes serão essas relações, resta saber. Cameron tem-se progressivamente afastado do seu ex-director de comunicação Andy Coulson, suspeito de pagar subornos à polícia por informações. Directamente sobre Brooks, com quem se diz que vai a corridas de cavalos e passa o Natal, ainda não se ouviu o primeiro-ministro falar.
Violência doméstica
Pela própria voz, pouco se sabe da mulher que pôs tanta gente na mira. A maior parte dos perfis são fruto de observação ou de episódios contados por terceiros.
Da sua vida privada regista-se um momento embaraçoso: a acusação de violência doméstica ao então marido Ross Kemp - actor da popular série britânica East Enders - de quem nunca tomou o nome, ao contrário do actual Charlie Brooks.
A então Rebekah Wade foi detida em 2005 durante oito horas e mais tarde libertada sem acusação formada, num incidente que a própria descreveu no Sun como "uma discussão que saiu fora de controlo". Diz o Telegraph que se conta que ela apareceu no jornal vinda directamente da prisão, como se nada se tivesse passado, a perguntar: "Muita coisa de novo?" A história apareceu na edição do Sun do dia seguinte. Murdoch ter-lhe-á enviado para a prisão roupa de modelo exclusivo para que ela saísse no seu melhor.
Como directora de jornais, o episódio mais lembrado é a campanha contra a pedofilia no NoW, depois de uma criança, Sarah Payne, ter sido assassinada - segundo o Observer, o NoW divulgava nomes de supostos pedófilos (os arquivos do jornal já não estão online). E fontes disseram ao Guardian que, como directora, era temida. O anúncio há precisamente uma semana do fecho do NoW provocou, naturalmente, indignação e raiva entre os jornalistas: "Não merecíamos isto", disse o actual director, Colin Myer, no sábado, já depois da edição final fechada.
Do seu percurso no terreno, Piers Morgan conta nas suas memórias o episódio em que Brooks se disfarçou de empregada de limpeza do Sunday Times para agarrar a edição em que eles divulgavam o exclusivo de uma biografia do príncipe Carlos - e "roubar" a notícia.
Ainda uma incógnita
As suas marcas no jornalismo, dizem alguns, não ficarão para a história. Como colocá-la no contexto dos media britânico, então? "Representa uma geração de jornalistas de tablóides dos anos 1990 que cresceram numa cultura de celebridades. Ganhou a respeitabilidade inglesa através do seu casamento com Charlie Brooks" - treinador de cavalos de corrida e bem relacionado socialmente, diz Philip Stephens. "De certa forma, tem um percurso jornalístico tradicional", analisa Charlie Beckett, director do Polis, um think tank de media da London School of Economics. "Toda a gente diz que ela é implacável, directa e tem um grande instinto para histórias populares."
Durante a sua direcção, e desde há "cinco-dez anos", que o Sun mudou, nota, tendo-se tornando menos agressivo, mais centrado em celebridades e lifestyle. Nos tempos de Kelvin MacKenzie (que dirigiu o Sun desde os anos 1980 até 1994), havia mais "futebol, era mais agressivo politicamente e bastante racista". "Em parte, porque o público também mudou, tornou-se menos agressivo, embora continuando a fazer histórias de tablóide. Ela participou dessa mudança." Mas se Brooks é alguém com "enorme energia", que percebe a lógica do jornalismo tablóide, já como mulher de negócios, executiva, Beckett não tem certeza da sua competência. Duvida de que ela tenha "percebido o seu papel", alguém que tem necessariamente mais responsabilidades e deveria ter lidado com o caso das escutas no contexto do grupo NI. O seu futuro nesta história continua uma incógnita. Na semana passada disse que mais revelações explosivas estavam para vir, que só daqui a um ano se iria perceber por que o NoW fechou e que ela teria algum protagonismo nessa história. Estaria Rebekah Brooks a tentar dizer que a sua cabeça está a ser guardada para o sacrifício final antes de o império ruir? A charada continua.
A lealdade de Murdoch a Brooks não deixa de ser admirável. E tem, por isso, provocado especulação. Muitos têm dito que ela é mais do que uma funcionária da empresa - há quem veja a relação entre os dois como pai e filha. Afinal, comenta-se, Murdoch preferiu fechar o jornal que o tornou conhecido internacionalmente, o primeiro que comprou em 1968, a despedi-la.
Certo, Murdoch, de 80 anos, viu-a crescer profissionalmente: desde os 19 anos que Brooks trabalha nas suas empresas. Mas como ler esta relação? "Eles são visivelmente muito próximos", diz numa curta resposta por e-mail ao P2 Alastair Campbell, director de comunicação do antigo primeiro-ministro Tony Blair, que esteve no casamento de Brooks em 2009 - e que foi um dos espiados por detectives a trabalharem para a NI, segundo o Guardian. "O extraordinário é que Murdoch parece prescindir de quase toda a gente, inclusivamente família, se isso servir os seus interesses, mas, apesar de todos os danos, não prescinde de Rebekah Brooks. Proximidade não é suficiente para explicar a dimensão disto - por exemplo, ele a dizer que, apesar de tudo o que se está a passar, tratar dela é a sua prioridade. Está a começar a fazer as pessoas pensar que os Murdoch não a vêem apenas como parte da família, mas talvez como a última linha de defesa - se ela cai, a pessoa seguinte a ser engolida é James (filho de Murdoch e presidente da News Corporation) e, a seguir a ele, o próprio Murdoch."
O escândalo fez com que Murdoch tivesse desistido da compra da totalidade da televisão BSkyB, depois de o líder da oposição Ed Miliband ter questionado a legitimidade do negócio, seguido por todas as bancadas parlamentares e pelo próprio primeiro-ministro David Cameron. Ontem, o Huffington Post dizia que se especulava que Murdoch estava a pensar vender a News International. Nos Estados Unidos, onde Murdoch tem os poderosos Fox News e Wall Street Journal, pede-se um inquérito às práticas nas suas empresas.
A mais jovem directora
Brooks não é apenas directora de uma das mais poderosas empresas de media no Reino Unido - a News International controla cerca de 40 por cento da imprensa britânica, entre eles o mais vendido diário, The Sun (estimativas: três milhões de exemplares vendidos por dia e sete milhões de leitores) e o agora extinto semanário NoW (leitores estimados: 7,5 milhões). Foi a mais jovem directora de um jornal nacional britânico quando assumiu as rédeas do NoW em 2000. Foi a primeira mulher a dirigir o The Sun, em 2003. Entre o cargo de secretária no NoW aos 19 anos, antes de se tornar jornalista no Sun, e a direcção da NI, em 2009, foram 20 anos - alguns vêem a sua progressão como meteórica.
As escutas telefónicas a celebridades não são novidade no Reino Unido, mas na semana passada o Guardian revelou que o NoW teria escutado e apagado mensagens do voice mail de Milly Dowler, uma criança desaparecida, fazendo os pais acreditar que ela ainda estava viva. Brooks disse ser "inconcebível" saber do caso.
Logo depois, revelava-se ainda que familiares de soldados mortos no Iraque e Afeganistão também tinham sido escutados pelo NoW. Na segunda-feira, o ex-primeiro ministro trabalhista Gordon Brown revelou que tinha também sido alvo do Sun em 2006, quando Brooks dirigia o jornal. Brown confirmou que Brooks lhe telefonou na altura a dizer que o Sun tinha tido acesso ao registo médico do filho, então com meses, e descoberto que ele tinha fibrose quística - e que ia publicar a história. Na altura, o título da notícia era um simples: "Bebé de Brown com fibrose quística". Ontem, a edição trazia um estridente: "Brown errado" (o Sun nega ter comprado os registos médicos como Brown defende). O escândalo das escutas do NoW rebentou em 2006, quando Clive Goodman, o editor da secção dedicada à família real, foi preso por obter informação ilegalmente, era Andy Coulson director - Brooks dirigia o Sun. Em 2009, o Guardian revelava que a empresa tinha pago um milhão de libras por informação. Mas antes, em 2003, Rebekah foi chamada ao Parlamento, onde admitiu, com uma calma admirável (pode ver-se no YouTube) que tinha pago a informação à polícia - mais tarde a empresa emitiu um comunicado em que disse que essa não era uma prática nos seus jornais. As declarações de Brooks, incriminatórias para a empresa, não afectaram a sua posição.
Um par descontraído
Quase tudo à volta da relação entre Brooks e Murdoch - e à volta do facto de ele não a ter deixado cair - tem que ser especulação, avisa Brian Cathcart, professor de Jornalismo na Kingston University e colunista da revista New Statesman. Mas não há dúvida de que parecem próximos. Murdoch tem um pequeno círculo de pessoas em quem confia - Rebekah é uma delas. "Ela é uma pessoa dos jornais e Murdoch adora jornais, são as pessoas de jornais que ele percebe melhor."
A questão, considera, é saber por que é que não a despede "quando isso está ter tantos custos para ele". "Pode ser porque está velho e fora de si, porque não está a saber responder a este tipo de pressão ou porque está preocupado com as implicações para o seu filho James - se ela cai, James também tem que cair."
Philip Stephens, principal comentador político do Financial Times, confirma ao P2 a opinião dominante de que se trata mais de uma relação "pai-filha" do que uma normal relação profissional - seria a quinta filha de Murdoch. "Isso explica o seu desejo de a proteger até à custa dos esforços da News International em escapar à actual crise", diz por e-mail.
"Tem-se que admirá-la pelo que conseguiu", diz John Whittingdale, deputado conservador presidente da Comissão de Cultura, Desporto e Media da Casa dos Comuns, que se cruzou várias vezes com Brooks profissionalmente. "Tem sido extremamente bem sucedida, primeiro por ser mulher, depois por ser tão nova."
Mas o deputado recusa-se a entrar em detalhes e jornalistas que trabalharam com ela também não querem falar. Alguém nos diz que Murdoch tem advogados ferozes, sugerindo que qualquer passo em falso nas declarações aos media pode ter consequências indesejáveis.
Mary Dejevsky, jornalista no Independent que escreveu um comentário dizendo que o poder de Murdoch não será tão grande como alguns o pintam, vê a ascensão de Rebekah como "extraordinária", "quase única". "Parece-me que ela deve ser muito boa em coisas que não são necessariamente jornalismo, como organização e apresentação."
No New York Times, Phil Hall, ex-director do NoW, contava que Brooks era muito influente na empresa pela forma como conseguia os contactos políticos que Murdoch queria. "Se ele queria um fim-de-semana em Chequers com o primeiro-ministro, então ela organizava-o."
A forma tranquila e até "distanciada" com que ela tem aparecido surpreende Dejevsky. "Esperava que ela parecesse mais preocupada e nervosa." De facto, uma das particularidades da relação entre Murdoch e Brooks é o à-vontade entre os dois, algo que se nota na linguagem corporal, e que está longe de ser o que se espera entre hierarquias, nota. "Quando estão juntos, parecem extremamente descontraídos."Alguém tão próxima do poder e que consegue ser amiga de pessoas que se detestam - os Blair e os Brown (ex-primeiros-ministros trabalhistas) e ainda os Cameron (actual primeiro-ministro conservador) - tem que ter "um dom", considera Cathcart. Como Cathcart, vários perfis têm sublinhado a habilidade de Brooks em estabelecer relações - tão hábil que consegue ficar amiga de "vítimas" que o seu jornal escutou ou de quem divulgou detalhes da vida privada, escrevia o Guardian. Piers Morgan, actualmente na CNN e director do NoW quando ela foi promovida a jornalista de features, diz nas suas memórias - The Insider - que "ela era soberba em fazer as celebridades pensar que uma história terrível era na verdade boa para elas".
Quão fortes serão essas relações, resta saber. Cameron tem-se progressivamente afastado do seu ex-director de comunicação Andy Coulson, suspeito de pagar subornos à polícia por informações. Directamente sobre Brooks, com quem se diz que vai a corridas de cavalos e passa o Natal, ainda não se ouviu o primeiro-ministro falar.
Violência doméstica
Pela própria voz, pouco se sabe da mulher que pôs tanta gente na mira. A maior parte dos perfis são fruto de observação ou de episódios contados por terceiros.
Da sua vida privada regista-se um momento embaraçoso: a acusação de violência doméstica ao então marido Ross Kemp - actor da popular série britânica East Enders - de quem nunca tomou o nome, ao contrário do actual Charlie Brooks.
A então Rebekah Wade foi detida em 2005 durante oito horas e mais tarde libertada sem acusação formada, num incidente que a própria descreveu no Sun como "uma discussão que saiu fora de controlo". Diz o Telegraph que se conta que ela apareceu no jornal vinda directamente da prisão, como se nada se tivesse passado, a perguntar: "Muita coisa de novo?" A história apareceu na edição do Sun do dia seguinte. Murdoch ter-lhe-á enviado para a prisão roupa de modelo exclusivo para que ela saísse no seu melhor.
Como directora de jornais, o episódio mais lembrado é a campanha contra a pedofilia no NoW, depois de uma criança, Sarah Payne, ter sido assassinada - segundo o Observer, o NoW divulgava nomes de supostos pedófilos (os arquivos do jornal já não estão online). E fontes disseram ao Guardian que, como directora, era temida. O anúncio há precisamente uma semana do fecho do NoW provocou, naturalmente, indignação e raiva entre os jornalistas: "Não merecíamos isto", disse o actual director, Colin Myer, no sábado, já depois da edição final fechada.
Do seu percurso no terreno, Piers Morgan conta nas suas memórias o episódio em que Brooks se disfarçou de empregada de limpeza do Sunday Times para agarrar a edição em que eles divulgavam o exclusivo de uma biografia do príncipe Carlos - e "roubar" a notícia.
Ainda uma incógnita
As suas marcas no jornalismo, dizem alguns, não ficarão para a história. Como colocá-la no contexto dos media britânico, então? "Representa uma geração de jornalistas de tablóides dos anos 1990 que cresceram numa cultura de celebridades. Ganhou a respeitabilidade inglesa através do seu casamento com Charlie Brooks" - treinador de cavalos de corrida e bem relacionado socialmente, diz Philip Stephens. "De certa forma, tem um percurso jornalístico tradicional", analisa Charlie Beckett, director do Polis, um think tank de media da London School of Economics. "Toda a gente diz que ela é implacável, directa e tem um grande instinto para histórias populares."
Durante a sua direcção, e desde há "cinco-dez anos", que o Sun mudou, nota, tendo-se tornando menos agressivo, mais centrado em celebridades e lifestyle. Nos tempos de Kelvin MacKenzie (que dirigiu o Sun desde os anos 1980 até 1994), havia mais "futebol, era mais agressivo politicamente e bastante racista". "Em parte, porque o público também mudou, tornou-se menos agressivo, embora continuando a fazer histórias de tablóide. Ela participou dessa mudança." Mas se Brooks é alguém com "enorme energia", que percebe a lógica do jornalismo tablóide, já como mulher de negócios, executiva, Beckett não tem certeza da sua competência. Duvida de que ela tenha "percebido o seu papel", alguém que tem necessariamente mais responsabilidades e deveria ter lidado com o caso das escutas no contexto do grupo NI. O seu futuro nesta história continua uma incógnita. Na semana passada disse que mais revelações explosivas estavam para vir, que só daqui a um ano se iria perceber por que o NoW fechou e que ela teria algum protagonismo nessa história. Estaria Rebekah Brooks a tentar dizer que a sua cabeça está a ser guardada para o sacrifício final antes de o império ruir? A charada continua.
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