Média e poderes: venha o diabo e escolha…
Volto ao tema das relações entre o jornalismo e os poderes.
Apesar de os média estarem invariavelmente relacionados com o poder económico e o poder político dada a sua capacidade potencial para influenciar os detentores de poderes e os cidadãos, a história mostra que tentativas de controlo pelo poder político raramente tiveram sucesso.
Para referir apenas alguns casos conhecidos, nos EUA o poder político não foi capaz de impedir a oposição à guerra do Vietnam e o papel da imprensa no caso Watergate. Em Espanha, o governo de Aznar foi acusado de controlar a informação na sequência dos atentados de 11 de Março e perdeu as eleições.
Em Portugal, o Governo Barroso viu-se confrontado com uma investigação da SIC sobre um alegado favorecimento na admissão à universidade da filha de um ministro e apesar de tentativas para abafar o caso o ministro foi obrigado a demitir-se. Nos governos Sócrates, a acusação ao primeiro-ministro e aos seus assessores de tentativa de condicionamento dos jornalistas do jornal Público que investigavam o processo de obtenção do seu grau de licenciatura não impediu a publicação de várias notícias muito negativas sobre esse assunto. As declarações de Sócrates e de outros dirigentes socialistas sobre o Jornal Nacional de Sexta não impediram a TVI de, durante meses a fio, emitir centenas de peças de crítica sistemática a José Sócrates. E na última campanha presidencial o caso BPN ”perseguiu” o Presidente, apesar das manifestações indignadas de figuras influentes na vida política nacional.
Relativamente ao poder económico, as coisas fiam mais fino. E quando o poder económico se cruza com o poder político, as coisas ficam ainda mais difíceis para a independência dos média.
O chamado “caso Marcelo/TVI”, ocorrido em Novembro de 2004, configura um dos exemplos mais flagrantes de interferência do poder político-económico na liberdade de imprensa. Para a generalidade dos analistas de então o poder político pressionou o presidente de uma estação de televisão para que “calasse” um comentador incómodo para o Governo, tendo aquele cedido em nome da obtenção de facilidades para os seus negócios, à revelia do director de informação da estação, que se encontrava fora do País.
Um exemplo paradigmático da pressão da publicidade sobre o conteúdo da informação ocorreu em 2004/2005 com o jornal Expresso.O caso foi provocado por um artigo de opinião do editor de economia, que foi considerado pelo Grupo Espírito Santo (GES) como “deturpando factos”. Apesar das explicações da direcção e da administração do jornal de que se tratava de um texto de opinião, o GES, invocando “liberdade de investir, sem condicionantes, respeitando as leis de mercado, e de adequação da mensagem publicitária que pretendam transmitir”, reduziu de forma muito considerável as suas inserções publicitárias nos órgãos de comunicação social do grupo Impresa. O conflito entre o GES e a Impresa continuou, em virtude de informações publicadas pelo Expresso sobre o pretenso envolvimento do Banco Espírito Santo/GES no “mensalão” do Brasil, que o GES sempre negou. Segundo a imprensa da altura, o corte de publicidade do GES na Impresa saldou-se num prejuízo de três milhões de euros, tendo o então director do Expresso afirmado que o semanário já sofrera pressões noutras circunstâncias.
Apesar de os média estarem invariavelmente relacionados com o poder económico e o poder político dada a sua capacidade potencial para influenciar os detentores de poderes e os cidadãos, a história mostra que tentativas de controlo pelo poder político raramente tiveram sucesso.
Para referir apenas alguns casos conhecidos, nos EUA o poder político não foi capaz de impedir a oposição à guerra do Vietnam e o papel da imprensa no caso Watergate. Em Espanha, o governo de Aznar foi acusado de controlar a informação na sequência dos atentados de 11 de Março e perdeu as eleições.
Em Portugal, o Governo Barroso viu-se confrontado com uma investigação da SIC sobre um alegado favorecimento na admissão à universidade da filha de um ministro e apesar de tentativas para abafar o caso o ministro foi obrigado a demitir-se. Nos governos Sócrates, a acusação ao primeiro-ministro e aos seus assessores de tentativa de condicionamento dos jornalistas do jornal Público que investigavam o processo de obtenção do seu grau de licenciatura não impediu a publicação de várias notícias muito negativas sobre esse assunto. As declarações de Sócrates e de outros dirigentes socialistas sobre o Jornal Nacional de Sexta não impediram a TVI de, durante meses a fio, emitir centenas de peças de crítica sistemática a José Sócrates. E na última campanha presidencial o caso BPN ”perseguiu” o Presidente, apesar das manifestações indignadas de figuras influentes na vida política nacional.
Relativamente ao poder económico, as coisas fiam mais fino. E quando o poder económico se cruza com o poder político, as coisas ficam ainda mais difíceis para a independência dos média.
O chamado “caso Marcelo/TVI”, ocorrido em Novembro de 2004, configura um dos exemplos mais flagrantes de interferência do poder político-económico na liberdade de imprensa. Para a generalidade dos analistas de então o poder político pressionou o presidente de uma estação de televisão para que “calasse” um comentador incómodo para o Governo, tendo aquele cedido em nome da obtenção de facilidades para os seus negócios, à revelia do director de informação da estação, que se encontrava fora do País.
Um exemplo paradigmático da pressão da publicidade sobre o conteúdo da informação ocorreu em 2004/2005 com o jornal Expresso.O caso foi provocado por um artigo de opinião do editor de economia, que foi considerado pelo Grupo Espírito Santo (GES) como “deturpando factos”. Apesar das explicações da direcção e da administração do jornal de que se tratava de um texto de opinião, o GES, invocando “liberdade de investir, sem condicionantes, respeitando as leis de mercado, e de adequação da mensagem publicitária que pretendam transmitir”, reduziu de forma muito considerável as suas inserções publicitárias nos órgãos de comunicação social do grupo Impresa. O conflito entre o GES e a Impresa continuou, em virtude de informações publicadas pelo Expresso sobre o pretenso envolvimento do Banco Espírito Santo/GES no “mensalão” do Brasil, que o GES sempre negou. Segundo a imprensa da altura, o corte de publicidade do GES na Impresa saldou-se num prejuízo de três milhões de euros, tendo o então director do Expresso afirmado que o semanário já sofrera pressões noutras circunstâncias.
Estes são apenas dois casos envolvendo protagonistas que pelo seu prestígio e poder – Marcelo Rebelo de Sousa e o Grupo Impresa – resistiram às pressões e “sobreviveram”. Marcelo regressou à TVI e a publicidade do grupo Espírito Santo regressou à Impresa.
Hoje, o poder económico é mais “discreto” e subtil na maneira como se relaciona com os média.
E quanto ao “novo” poder político, ensaia ainda a sua estratégia comunicacional. Contudo, a crer no episódio “Bernardo Bairrão”, se até agora o que tínhamos era o poder político e o poder económico a tentarem influenciar os média (leia-se os jornalistas) agora temos o inverso, isto é, jornalistas (leia-se jornalistas com ligações ao poder económico) a tentarem, com êxito (ao que se leu) influenciar o poder político.
É caso para dizer, venha o diabo e escolha.
Hoje, o poder económico é mais “discreto” e subtil na maneira como se relaciona com os média.
E quanto ao “novo” poder político, ensaia ainda a sua estratégia comunicacional. Contudo, a crer no episódio “Bernardo Bairrão”, se até agora o que tínhamos era o poder político e o poder económico a tentarem influenciar os média (leia-se os jornalistas) agora temos o inverso, isto é, jornalistas (leia-se jornalistas com ligações ao poder económico) a tentarem, com êxito (ao que se leu) influenciar o poder político.
É caso para dizer, venha o diabo e escolha.
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