Quem é pressionado?
Em doze anos, a taxa de desemprego no nosso país triplicou, passando de cerca de 4% para mais de 12%. Nesse período tivemos várias reformas liberais do código do trabalho, que apenas fragilizaram a posição dos trabalhadores, alastrando a precariedade. A legislação laboral tem impactos sobretudo distributivos – poder, rendimentos e outros recursos. A criação de emprego, por sua vez, depende primeiramente da evolução da procura efectiva. E é por causa da sua compressão, obra da austeridade permanente, que teremos a continuação da destruição de emprego, que poderá bem ultrapassar os cem mil postos de trabalho nos próximos dois anos, a previsão do Banco de Portugal, uma instituição especializada em aplicar a lógica da batata ao trabalho. O governo, em linha com o plano da troika, pretende usar o crescente desemprego como instrumento para fragilizar legalmente ainda mais a posição do mundo do trabalho, para instituir em definitivo uma economia sem pressão laboral e salarial, uma economia cada vez mais desigual e medíocre, através, por exemplo, da facilitação do despedimento. A criação de emprego não passa por aqui, claro, mas sim pela reforma da arquitectura do euro, que tem sido a grande responsável pela nossa desgraçada situação, por forma a permitir uma política de estímulo à procura e a sua reorientação para sectores ricos em emprego.
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