Domingos Andrade* | Jornal de Notícias | opinião
O fecho e funcionamento no verão em regime de rotatividade das urgências externas de 13 maternidades no Norte do país e em Beja, Portimão e Lisboa, por falta de especialistas em ginecologia e obstetrícia, não ultrapassa apenas "os limites do aceitável", como sublinhou o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.
É sim um claro sinal de ausência de prioridades políticas e do estado de degradação a que chegaram os serviços públicos, em remendo de investimento desde os anos negros da troika e sem qualquer inversão nos anos dourados da política de devolução de rendimentos.
A carta de apelo dos 13 diretores de serviço à ministra da Saúde alertando para os graves problemas que se vivem espelha também, de um modo mais lato, os efeitos práticos do garrote das Finanças na falta de capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde.
No caso particular das maternidades, é o pior sinal de insegurança que se pode dar às famílias, num país onde o número de nascimentos mal supera o dos óbitos, havendo regiões deprimidas em que as crianças são há muito um milagre do acaso, e em que os sucessivos governos enchem a boca com o verbo dos incentivos à natalidade.
Pior, quando Governo, partidos que apoiam o Governo no Parlamento, e Oposição se entretêm a discutir a nova Lei de Bases da Saúde ou o fim das taxas moderadoras nos centros de saúde, uma medida de aplaudir se não parecesse feita a olhar as eleições que se aproximam. Mas sabendo nós que, afinal, os 180 milhões de receitas que representam são mesmo necessários e que, afinal também, a redução será faseada e já não para o ano.
O que andam, então, a fazer o PSD de Rio, que teve na saúde uma das suas primeiras ações como líder do partido, ou o CDS de Cristas, que quis há meses seguir o mesmo caminho, ou o PCP e o Bloco, tão diligentes no passado a saírem em protesto? Mas sobretudo que país queremos nós, ou os serviços públicos servem só para alimentar a máquina do Estado?
*Diretor
paginaglobal.blogspot.com
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