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(Anselmo Crespo, in Diário de Notícias, 06/06/2019)
A crise do centro direita não é nem um mito nem um prognóstico. É uma realidade que nasceu muito lá atrás e que, não tendo ainda atingido o seu epílogo, pode estar muito próximo dele. Há quatro anos, António Costa não se limitou a “roubar” o poder ao PSD e o CDS. Roubou-lhes também a agenda e desatou a correr em direção à esquerda, enquanto o centro direita ficou a esvair-se em sangue. Até hoje.
Passos Coelho, que resistiu até às autárquicas com o discurso do diabo, acabou mesmo por chocar de frente com ele. Não foi para o inferno, mas acabou por ser atirado para uma espécie de purgatório político, de onde muitos – incluindo, quem sabe, o próprio – ainda esperam que, um dia, consiga sair.
Se Santana Lopes representava uma espécie de evolução na continuidade, Rui Rio era uma velha novidade que acabou por tornar-se na única esperança do PSD para recuperar um eleitorado que Passos Coelho e a troika tinham deitado borda fora, mas que o Partido Socialista, apesar de tudo, não tinha conseguido aproveitar até às legislativas de 2015. Mão de ferro, limpezas profundas, recentramento do partido, uma política para a classe média, sem nunca perder o foco no rigor das contas públicas, Rui Rio prometia ser tudo isto e, ao mesmo tempo, um político de carne e osso, que diz o que pensa e pensa tudo o que diz.
O teste não será muito difícil de fazer. Basta encomendar um estudo de opinião e perguntar às pessoas: qual é a principal mensagem do PSD hoje em dia? O que distingue, neste momento, o PSD do PS? As conclusões, estou em crer, não serão muito animadoras para a liderança de Rui Rio.
Não por acaso, esta semana, na TSF, Manuela Ferreira Leite sentiu necessidade de sugerir ao centro direita uma nova abordagem de oposição ao Governo: o défice das contas públicas, que antes nos afetava por excesso e que agora, segundo a ex-ministra das finanças, nos afeta por defeito.
Do lado do CDS, a crise é proporcional à dimensão e às características do partido. Menos óbvia e sempre com o efeito de arrastamento do PSD, que é historicamente o motor do centro de direita em Portugal. Assunção Cristas confundiu ambição com realismo. Oposição com guerrilha. No processo, esqueceu-se que o eleitorado, apreciando um bom soundbyte de vez em quando, não é estúpido. E que a política também se faz de propostas concretas – prova disso é a mudança óbvia de estratégia depois do desaire das Europeias -, de bandeiras que as pessoas compreendam e, sobretudo, de coerência.
E este é outro dos fatores que ajuda a explicar a crise do centro direita.
Aos olhos do eleitorado, o PSD e o CDS perderam legitimidade para criticar a elevada carga fiscal, a falta de investimento público, as cativações ou a obsessão pelo défice. Porque fizeram igual ou pior. Porque, enquanto houver um Novo Banco para pagar, dificilmente alguém se esquecerá de quem tomou a decisão. Não que esta leitura seja totalmente justa, porque não o é. Com todos os erros que foram cometidos – muitos deles assentes em preconceitos ideológicos -, PSD e CDS governaram num período de crise e de assistência financeira. Dito de outra forma, governaram um país falido. O problema é que a memória humana, às vezes, é curta. Outras vezes, é muito seletiva.
Quatro anos depois, o centro direita em Portugal não só continua amarrado a um dos períodos mais negros da vida do país – mesmo havendo outros responsáveis -, como não teve a capacidade de se reinventar, no conteúdo e na forma. É por isso que Marcelo Rebelo de Sousa tem razão quando antecipa uma crise, ainda que o tenha feito com uma ligeireza pouco própria de um Presidente da República.
O eleitorado do centro direita não desapareceu, só decidiu não comparecer. Está distante, confuso e, claramente, à espera que o PSD, o CDS ou outro partido qualquer lhe ofereçam uma visão para o país. Para já, o PS continua virado para a esquerda. Mas, um dia, talvez mais cedo que tarde, António Costa regressará para tentar reconquistar o centro de que abdicou nos últimos quatro anos. Porque é aí que pode estar a chave para a maioria absoluta.
A crise do centro direita não é nem um mito nem um prognóstico. É uma realidade que nasceu muito lá atrás e que, não tendo ainda atingido o seu epílogo, pode estar muito próximo dele. Há quatro anos, António Costa não se limitou a “roubar” o poder ao PSD e o CDS. Roubou-lhes também a agenda e desatou a correr em direção à esquerda, enquanto o centro direita ficou a esvair-se em sangue. Até hoje.
Passos Coelho, que resistiu até às autárquicas com o discurso do diabo, acabou mesmo por chocar de frente com ele. Não foi para o inferno, mas acabou por ser atirado para uma espécie de purgatório político, de onde muitos – incluindo, quem sabe, o próprio – ainda esperam que, um dia, consiga sair.
Se Santana Lopes representava uma espécie de evolução na continuidade, Rui Rio era uma velha novidade que acabou por tornar-se na única esperança do PSD para recuperar um eleitorado que Passos Coelho e a troika tinham deitado borda fora, mas que o Partido Socialista, apesar de tudo, não tinha conseguido aproveitar até às legislativas de 2015. Mão de ferro, limpezas profundas, recentramento do partido, uma política para a classe média, sem nunca perder o foco no rigor das contas públicas, Rui Rio prometia ser tudo isto e, ao mesmo tempo, um político de carne e osso, que diz o que pensa e pensa tudo o que diz.
Há quatro anos, António Costa não se limitou a “roubar” o poder ao PSD e o CDS. Roubou-lhes também a agendaUm ano e meio depois, o que sobra deste PSD? Para quem fala o partido? Que alternativa tem para o país? Quem é o eleitorado deste PSD? Entre crises internas, discussões estéreis e uma estratégia de oposição ziguezagueante e permanentemente equívoca, Rui Rio perdeu-se na tradução dos objetivos que delineou para o partido e para si próprio. Para lá de dois acordos que assinou com o governo – sobre fundos comunitários e descentralização -, todos os temas que tentou impor na agenda política nacional acabaram por implodir nas contradições internas, nos protagonistas que lhe deram voz ou no amadorismo da comunicação. Não sendo o único responsável pela situação do partido – longe disso – é, neste momento o principal. Por ser o presidente do PSD em funções, mas, sobretudo, porque Rio insiste em seguir em contramão achando que todos os que estão a vir contra ele é que estão errados e ele é que está certo.
O teste não será muito difícil de fazer. Basta encomendar um estudo de opinião e perguntar às pessoas: qual é a principal mensagem do PSD hoje em dia? O que distingue, neste momento, o PSD do PS? As conclusões, estou em crer, não serão muito animadoras para a liderança de Rui Rio.
Não por acaso, esta semana, na TSF, Manuela Ferreira Leite sentiu necessidade de sugerir ao centro direita uma nova abordagem de oposição ao Governo: o défice das contas públicas, que antes nos afetava por excesso e que agora, segundo a ex-ministra das finanças, nos afeta por defeito.
Um ano e meio depois, o que sobra deste PSD? Para quem fala o partido? Que alternativa tem para o país? Quem é o eleitorado deste PSD?
Do lado do CDS, a crise é proporcional à dimensão e às características do partido. Menos óbvia e sempre com o efeito de arrastamento do PSD, que é historicamente o motor do centro de direita em Portugal. Assunção Cristas confundiu ambição com realismo. Oposição com guerrilha. No processo, esqueceu-se que o eleitorado, apreciando um bom soundbyte de vez em quando, não é estúpido. E que a política também se faz de propostas concretas – prova disso é a mudança óbvia de estratégia depois do desaire das Europeias -, de bandeiras que as pessoas compreendam e, sobretudo, de coerência.
E este é outro dos fatores que ajuda a explicar a crise do centro direita.
Aos olhos do eleitorado, o PSD e o CDS perderam legitimidade para criticar a elevada carga fiscal, a falta de investimento público, as cativações ou a obsessão pelo défice. Porque fizeram igual ou pior. Porque, enquanto houver um Novo Banco para pagar, dificilmente alguém se esquecerá de quem tomou a decisão. Não que esta leitura seja totalmente justa, porque não o é. Com todos os erros que foram cometidos – muitos deles assentes em preconceitos ideológicos -, PSD e CDS governaram num período de crise e de assistência financeira. Dito de outra forma, governaram um país falido. O problema é que a memória humana, às vezes, é curta. Outras vezes, é muito seletiva.
Quatro anos depois, o centro direita em Portugal não só continua amarrado a um dos períodos mais negros da vida do país – mesmo havendo outros responsáveis -, como não teve a capacidade de se reinventar, no conteúdo e na forma. É por isso que Marcelo Rebelo de Sousa tem razão quando antecipa uma crise, ainda que o tenha feito com uma ligeireza pouco própria de um Presidente da República.
O eleitorado do centro direita não desapareceu, só decidiu não comparecer. Está distante, confuso e, claramente, à espera que o PSD, o CDS ou outro partido qualquer lhe ofereçam uma visão para o país. Para já, o PS continua virado para a esquerda. Mas, um dia, talvez mais cedo que tarde, António Costa regressará para tentar reconquistar o centro de que abdicou nos últimos quatro anos. Porque é aí que pode estar a chave para a maioria absoluta.
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