Em vésperas de S.João, Marcelo Rebelo de Sousa - na verdade sem muito para dizer - elogiou as contas orçamentais do primeiro trimestre. Entre dois croquetes, foi alinhando palavras, meio envenenadas:
Foi "uma política muito rigorosa do ponto de vista orçamental, uma grande contenção do ponto de vista orçamental e a preocupação, não apenas de cumprir a meta dos 0%, mas, porventura, até de ir mais longe" [leia-se: foi "além da troica", como o PS acusara em 2011 o PSD e o CDS].
Que isso"significa, portanto, que, durante meio ano, a execução orçamental foi feita sem necessidade de decreto de execução orçamental, o que revela uma subtileza e uma inteligência de gestão financeira grandes que se traduzem nos números" [leia-se: "
Assim também eu, para isso não se aprovavam novos orçamentos e vivíamos de duodécimos]. "O Governo preferiu prevenir a remediar, preferiu prevenir de uma forma muito intensa [leia-se: "austeritária"], com uma contenção muito intensa para poder ter sucesso, aconteça o que acontecer, lá fora, na Europa ou no mundo.
" [leia-se: "o ministro está a trabalhar para si, lá para o Eurogrupo, para os mercados", outra acusação ao Governo PSD/CDS de 2011]. "Segurou-se para não correr riscos", e, por isso, "há um preço: atirou para um bocadinho mais tarde, porventura, o abrir os cordões à bolsa". [leia-se: está a fazer um eleitoralismo invertido: poupa em vez de gastar em tempo de campanha e, depois de ganhar as eleições, gasta mais...!].
Mas "vamos ver os custos que isso teve, num ou noutro caso, em termos de funcionamento de serviços públicos ou despesas sociais" [leia-se: poupa-se, mas entretanto o Estado rebenta e o Governo não faz nada, argumento que a direita embandeira, embora sem dizer como o faria sem criticar o Tratado].Ou seja, Marcelo ficou perdido no mesmo pântano do PSD e CDS.
O presidente que já se assumiu como podendo ser no futuro o mais eficaz contrapelo da direita, viu-se esvaziado de discurso quando o PS aplica a sua receita orçamental "de uma forma muita intensa", indo mesmo além das regras e das lógicas subjacentes ao Tratado Orçamental, que foram criadas para conduzir ao desinvestimento público e, com ele, à degradação dos serviços públicos e da importância do Estado na sociedade e na economia.
Mas no meio desta confusão na direita, ninguém pergunta a Marcelo: "Acha que seria preferível menos superávite e mais défice, mas com melhores serviços públicos?"
Talvez os jornalistas não a façam porque já se antecipam a sua fuga clássica, quando está nervoso e sem pensamento: "O Presidente não é um comentador...", o que faz as maravilhas dos humoristas quando apanhado em contradição.
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