Rui Sá* | Jornal de Notícias | opinião
À medida que se aproxima o fim da legislatura e, principalmente, a data das próximas eleições legislativas, tornam-se mais evidentes as contradições dentro do PS.
Que são entre diferentes tendências existentes no seu interior mas, principalmente, entre aquilo que é a sua matriz ideológica, predominantemente de direita, e aquilo que teve de fazer nesta legislatura, por força da correlação de forças e por imposição das forças à sua esquerda.
Veja-se o que se passa ao nível da saúde. Na negociação do texto da nova lei de bases, o PS apontava para o fim das parcerias público-privadas, para o primado da gestão pública do Sistema Nacional de Saúde. Como era evidente (basta ver a proposta elaborada pelo grupo chefiado pela ex-candidata presidencial do PS Maria de Belém Roseira), este caminho estava a causar muitos engulhos dentro do PS. Marcelo Rebelo de Sousa dava uma ajuda às tendências direitistas, ameaçando vetar a lei (que, sendo aprovada novamente, teria de "engolir"). Eis que surge também o BE com um inadmissível erro em que, imaturamente, se quis colocar em bicos de pé para ficar com os louros do "fim das parcerias público-privadas", tornando pública uma negociação privada antes de a mesma ser irreversível. Erro que serviu para que, no interior do PS, aqueles que defendem as parcerias público-privadas tocassem a rebate, ganhando novas forças.
Resultado: hoje, temos o PS a negociar a lei com o PSD - mérito de Rui Rio, que sabe distinguir o essencial do acessório, não lhe custando nada negociar para salvaguardar os interesses económicos daqueles que representa (mas, quando o ouço a falar no critério da eficiência económica dos privados, lembro-me logo da forma como, no Porto, entregou a privados a recolha de resíduos, causando um prejuízo de muitos milhões de euros ao erário público - tantos que até Rui Moreira, que Rio apoiou para o substituir, desistiu desse negócio, resgatando-o para a esfera pública...). António Costa, nesta matéria, também não se importou de renegar as promessas que fez ao pai do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut, durante o seu funeral, comprometendo-se a cumprir a célebre frase deste "Ó Costa, aguenta lá o SNS!", que, todos o sabemos, passava pelo reforço da sua componente pública......
Entretanto, vão sendo conhecidos diversos exemplos de má gestão dos hospitais em regime de parcerias público-privadas (Braga, Cascais...), com alteração de rácios que, não se importando de colocar em causa a saúde dos utentes, maximizam a transferência de dinheiros públicos para os privados...
Ao mesmo tempo que vemos o Governo a anunciar que não vai cumprir legislação aprovada na Assembleia da República em matéria de eliminação das taxas moderadoras no acesso a serviços de saúde!
*Engenheiro
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