Triste insígnia
Discutir uma nova lei de bases da saúde ao mesmo tempo que se encerram rotativamente as urgências das maternidades de Lisboa por falta de pessoal é algo que roça a obscenidade. Faltava dizer isto sobre o tema. Está dito.
Os últimos anos já nos habituaram à vergonha que, por altura do verão, afeta os serviços de saúde do país, com hospitais e centros de saúde a funcionar a meio gás com falta de pessoal para trabalhar, com doentes a acumularem-se nos corredores à espera de atendimento ou, simplesmente, esquecidos em rios de macas mal encaixadas umas nas outras. Este ano, acrescenta-se o encerramento rotativo das urgências de obstetrícia de quatro maternidades de Lisboa, a área mais sobrelotada do país.
É que — venderam-nos essa brilhante ideia — em Lisboa, como no resto do país, os serviços foram sendo concentrados, os hospitais convertidos em centros hospitalares gigantes servindo áreas cada vez maiores e números de utentes cada vez mais exorbitantes. Era pela qualidade do serviço, diziam-nos então. Hoje vemos que não. Vemos que os serviços perderam qualidade, eficiência e, porque não dizê-lo, higiene. Hoje vemos que a ideia era tão somente reduzir pessoal. O resultado está aí bem à vista de todos, mas nós, povo, ainda vamos acabar revoltados com os médicos e o seu irresponsável gozo sazonal de férias.
Mas volto ao meu ponto inicial: discutir uma nova lei de bases da saúde neste contexto é surreal. Para isto, qualquer lei serve. Para destruir e descredibilizar o sistema nacional de saúde qualquer coisa serve. Como escrevi no post anterior, era com isto que PCP e Bloco se deviam preocupar. Ah, mais uma coisa: segundo notícias da manhã, parece que nem a eliminação das taxas moderadoras irá ser conseguida pela esquerda. Nesta questão da lei de bases da saúde, parece que, uma vez mais, o PS prepara-se para se deitar com a amante PSD. Não há nenhum mal nisso, bem entendido: viva o amor! O problema é que, para PCP e Bloco, sobra apenas o papel daquele género de pessoa que não se dá ao respeito e que ninguém respeita, constantemente enganada e traída, mas que sempre volta, que sempre tenta uma vez mais. É uma imagem que ficará como triste insígnia destes quatro anos de “geringonça”.
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